Formalmente, o deputado Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR) pertence à bancada de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hauly é conservador. Até se aproximou da atual equipe econômica por conta da reforma tributária, quando os interesses convergiram. Mas manteve e mantém postura independente. Mas o curioso é que agora vem justamente de Hauly, mais do que de qualquer deputado ou senador da base, a argumentação mais convincente contra a política monetária do Banco Central de aumento de juros e austeridade fiscal. Para seus grupos nas redes sociais, Hauly alinhou diversos números para derrubar a ideia de que a atual situação econômica exige novos aumentos de juros.
Copom
O Comitê de Política Monetária (Copom) já sinaliza que haverá novo aumento dos juros após a reunião marcada para quarta-feira (29). Hauly reuniu dados econômicos dos últimos anos para defender que não haveria justificativa para defender tamanha austeridade fiscal.
Números
Em 2022, o PIB cresceu 2,9%. No ano passado, 3,5%. Inflação em 2022, 5,79%. No ano passado, 4,83%. O valor médio do dólar em 2022 ficou em R$ 5,22. No ano passado, mesma média. Por que, então, os juros agora a 13,25% quando eram 11,23 no início de 2023?
Economia brasileira virou filme de Tarantino
Hauly compara a atual política monetária brasileira a um clichê de filmes de bangue-bangue, que o cinema apelidou de “dilema” ou “impasse mexicano”. O cineasta Quentin Tarantino o adora. É aquela situação de confronto na qual não há saída. Três oponentes apontam suas armas para os outros dois: quem atirar primeiro vai ficar em desvantagem. No caso da política monetária, estaria assim. Para controlar a inflação, o Copom aumenta os juros. Mas os juros aumentam o endividamento. As empresas repassam os custos que têm com dívidas no preço. A inflação, assim, persiste, obrigando novo aumento da taxa de juros. É um círculo vicioso.
Congresso
Para Hauly, uma saída para esse impasse poderia vir do Congresso Nacional. Os novos presidentes da Câmara e do Senado, provavelmente Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP) poderiam, ele sugere, liderar uma solução negociada.
Atirador
O grande problema é que o Congresso hoje seria um desses atiradores do bangue-bangue de Tarantino. Quando empareda o governo a liberar mais e mais recursos de emendas orçamentárias, o Congresso funciona como um desses pistoleiros. Foram R$ 50 bilhões liberados.
Campos Neto
A saída desse impasse, porém, talvez exija mais maturidade política. Até agora, Lula vinha apontando o dedo para o ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto o responsabilizando pelos juros altos por ter sido uma indicação de Jair Bolsonaro.
Galípolo
Agora, a reunião do Copom será presidida por Gabriel Galípolo, que Lula nomeou no ano passado. Se a política permanecerá a mesma, o responsável não é exatamente quem indica o presidente do Banco Central. Mas a influência que o mercado financeiro exerce sempre.
Publicado originalmente no Correio da Manhã
(*) Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade
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