Na década de 70, no Rio Grande do Sul, antes do surgimento do Movimento Negro Unificado, surgiu a Revista Tição, feita por um grupo de ativistas negros. Houve três edições em plena ditadura militar, 1978, 1979 e 1980.
Hoje, 28 de janeiro, uma semana depois do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, na Biblioteca Pública do Estado, é lançada uma edição de retorno da Revista Tição. Com o Salão Mourisco lotado, com pessoas em pé, todos aplaudiram a sua volta.
Houve música e leitura de poemas, dois de um dos seus membros mais ativos, já falecido, Oliveira Silveira. Sua filha Naiara Rodrigues Silveira brindou a todos com emoção a leitura dos poemas.
Na linha de frente membros das primeiras revistas, os jornalistas Emilio Chagas, editor, Jeanice Dias Ramos, jornalista responsável, Daisy Barcelos, o sociólogo Edilson Nabarro. Teve a produção executiva de Nereidy Alves.
A revista tem 54 páginas com acabamento profissional e primoroso.
Além da questão estética de alta qualidade, a cada página se tem uma ideia de memória e de atualização, cumprindo o papel de resgate de uma História.
Na capa em destaque uma MULHER NEGRA – o gênero enquanto política.
Nas páginas internas se incia com In Memoriam com nota para o jornalista Jorge Feitas, falecido aos 67 anos, com um depoimento de Thais Cornely, sua companheira. E com destaque a figura icônica do poeta e professor Oliveira Silveira, o mentor do 20 de novembro.
Como explica o sociólogo Edilson Nabarro, outro membro do grupo era o Valter Carneiro, que como ele e o professor Oliveira Silveira não eram jornalistas. Valter como é dito no texto faleceu quase no anonimato, pois sofria de doença crônica.
Por quatro páginas temos uma matéria sobre a Estética negra – da negação à exaltação. Todos que querem compreender o papel do negro, em especial, das mulheres negras na atualidade deveriam se debruçar sobre este texto.
Aí vêm mais quatro páginas com Histórias negros do Sul do Brasil, por Jorge Rivair. Mais sete páginas O negro no futebol, onde aparece o treinador Roger Machado e onde se fica sabendo do selo “Canela Preta”, publicações de livros de negros e indígenas. Louvor ao Roger e à sua companheira Camile.
Em seguida somos brindados com o Painel – Literatura negra gaúcha, com destaques para Lilian Rocha, que fez o cerimonial do evento, poeta, Ronald Augusto, Jorge Fróes, Jeferson Tenório, Eliane Marques e José Faleiro.
Temos uma matéria sobre o tema das COTAS, sobre o patrimônio cultural, a Mulher negra, sobre o Percurso do Museu do Negro. Não poderia faltar a questão da Segurança Pública.
Jones Lopes da Silva faz mais um resgate de Oliveira Silveira. Temos um artigo sobre o Quilombismo. Uma matéria sobre a Petronilha B. Gonçalves e Silva, doutora Honoris Causa da UFRGS, na sua luta pela Lei 10.639; encerrando com um histórico artigo sobre os Clubes Negros.
Como se pode ver esta edição precisa estar nas academias, nas ONGs, nos sindicatos, ser base de estudos sobre o papel do negro em nossa História e de modo especial no Estado do Rio Grande do Sul, tido como um estado essencialmente de migrantes italianos e alemães, mas é mais negro que açoriano que é a população que deu início à formação da capital, Porto Alegre.
(*) Por Adeli Sell, professor, escritor e bacharel em Direito.
*As opiniões dos autores de artigos não refletem, necessariamente, o pensamento do Jornal Brasil Popular, sendo de total responsabilidade do próprio autor as informações, os juízos de valor e os conceitos descritos no texto.