ONDAS MIGRATÓRIAS DE GAÚCHOS
Na séria que o Jornal Brasil Popular está apresentando a seus leitores – Os destinos do Rio Grande do Sul – já foi mostrado que levas de gaúchos foram a outras bandas.
Retomando o tema, vamos verificar se há mais recentemente uma onda migratória para o Litoral catarinense ou não.
Que Garopaba sempre foi a praia queridinha da gauchada vai além da fama, parece muito real. E ao que tudo indica há outras praias povoadas com mais gaúchos que locais.
A migração de gaúchos para Santa Catarina começou no final do século XIX e se intensificou após a Primeira Guerra Mundial. Em certas regiões ficou mais evidente nas décadas de 30 a 50.
Os migrantes construíram vilas e cidades, e montaram serrarias e empresas ligadas ao agronegócio.
Incialmente os gaúchos foram “subindo”, mas para o Oeste Catarinense e dali para o Sudoeste do Paraná.
Os gaúchos e os filhos de gaúchos nascidos no Paraná avançaram em grandes fluxos para o Norte.
Uma segunda onda de migrantes gaúchos estabeleceu-se em Mato Grosso do Sul, na década de 1970.
Os gaúchos procuravam se dedicar à cultura mecanizada da soja na região centro-sul do estado.
A PERDA DE HABITANTES NO RS
Dados de 2018 dão conta da perda de 0,12%, o que representa 13,7 mil pessoas.
Parece pouco se fosse num ano isolado o processo, mas conforme mostram os dados do Censo 2022, a capital dos gaúchos perdeu 76 mil habitantes.
Rio Grande do Sul teve uma redução de 14,7% na população rural em relação ao Censo de 2010
Nesta perda populacional o que salta aos olhos é que a maior parte é jovem, entre 20 e 25 anos, e mantém a população idosa, o que compromete a economia. Em longo prazo, ainda dificultam os compromissos obrigatórios, como o pagamento de aposentadorias.
E a pergunta que não quer calar? Em nova onde migratória, pegando a BR 101, não haveria um contingente maior de pessoas idosas, aposentados?
Vamos passo a passo explorar o tema.
Garopaba, como dissemos, os gaúchos há (ad)miram faz tempos.
No ultimo censo do IBGE, 2022, teve aumento de 65,17% em comparação com o Censo de 2010.
Entre as 10 cidades que mais cresceram do censo 2020-22 quatro são cidades de Santa Catarina: Itapoá, Barra Velha, Passo de Torres e Balneário Gaivota. A população vai de 12 a 40 mil, são todas cidades de praias.
Uma nota no site da Prefeitura de Balneário Gaivota dá uma dimensão do espaço dos gaúchos, falando da Chama Crioula, em sua 3ª Semana Municipal das Tradições Gaúchas de Balneário Gaivota. Fala de um grupo de cavalarianos, tradicionalistas e o 20 de setembro, mais parecendo uma cidade do Rio Grande do Sul.
Para conferir dados, saber mais da cultura, da composição etária, entrevistamos a Professora Cláudia Schiedeck, da Serra Gaúcha, educadora, que teve papel primordial em nosso Estado na implantação dos Institutos Federais de Educação, tendo sido sua Reitora.
JBP – Professora Cláudia, o que a levou a sair do Rio Grande do Sul e vir morar em Balneário Gaivota?
Então, a ideia surgiu durante a pandemia. Morávamos em Garibaldi e em apartamento. A restrição de sair as ruas e a demora em voltar a normalidade acabou nos causando uma sensação de sufocamento. Meu marido, que é deficiente visual, ficou ainda mais recluso. Já conhecíamos a região do Sul de SC, pois moramos em Araranguá durante algum tempo, além de veranearmos numa praia próxima, Balneário Arroio do Silva durante 50 anos. Sabíamos que o custo de vida chega a ser 30% mais barato do que no Rio Grande do Sul e que o clima seria bem mais ameno. Além disso, a cidade é razoavelmente organizada e temos tudo que precisamos aqui. Juntamos todas as coisas boas e construímos uma residência aqui.
JBP – A senhora, seu marido, sua irmã que aqui moram também de que forma foram recebidos?
Fomos recebidos muito bem. As pessoas são muito amistosas com migrantes. E há muitos gaúchos por aqui, o que resulta numa sensação de pertencimento que se desenvolve muito rápido. Em especial, no comércio, o atendimento é quase sempre muito receptivo. Até o poder público é bastante acessível na cidade. Então, nos sentimos em casa.
JBP – Há dados da população de migrantes gaúchos desta praia?
Não saberia dizer, talvez tenha alguma coisa na prefeitura. Contudo, posso dizer empiricamente que de cada 10 pessoas com as quais falamos, 8 delas são forasteiros. Majoritariamente são gaúchos de diferentes municípios. Também existem pessoas de outros estados como Goiás, Ceará, São Paulo. Importante ressaltar que Balneário Gaivota recebeu cerca de 200 famílias durante a grande enchente de maio de 2024. Foi a cidade da região que mais recebeu gente. Muitos vieram apenas para fugir dos problemas e depois voltaram. Outros gostaram e resolveram ficar. Gaivota possui aproximadamente 17 mil habitantes e é uma das cidades que mais cresce no estado de SC. Do último censo, em 2022, cresceu aproximadamente 13% e majoritariamente com população gaúcha.
JBP – Tem alguma ideia da composição etária dos forasteiros?
Acredito que majoritariamente são aposentados, portanto numa faixa etária mais alta, a partir dos 50 anos. Já encontrei alguns jovens que reportam se ressentir de que não há grandes coisas para a juventude. Muitos se aposentaram e vieram para cá apreciar o clima e a tranquilidade.
JBP – A senhora voltaria ao Rio Grande do Sul ou não tem mais volta?
Não, não voltaria mais. Estamos muito bem acomodados aqui, já fizemos amigos, o clima é o melhor possível, e estamos perto de várias cidades boas em termos de serviços médicos e educacionais, como Araranguá, Torres e Criciúma. Não há retorno na decisão.
JBP – Além da bela praia de mar, as pessoas se encaram pelas lagoas? O que mais encanta nesta terra e faz as pessoas a escolherem?
Acredito que o que mais encanta nas pessoas quando conhecem a praia é a paz, a tranquilidade e a qualidade de vida que conseguem ao vir morar aqui. Tem um calçadão para caminhadas ao longo da beira mar de mais de 5 quilômetros, o que permite às pessoas correrem, andarem de bicicleta, levarem os cachorros para passear. Além disso, temos um comércio razoável e quando não encontramos aqui podemos procurar em Sombrio, cidade vizinha. Também temos lagoas maravilhosas que as pessoas frequentam levando famílias para fazer piquenique. É uma terra tranquila, propícia para famílias e para idosos que já não curtem muvuca ou barulho.
SERÁ O NOSSO DESTINO?
Estamos em nosso terceiro processo migratório no Rio Grande do Sul, com perdas significativas de moradores.
Apesar de indicativos de jovens que estudam aqui em nossas boas e renomadas instituições de ensino, pelo que vimos pela entrevista acima e outros dados já citados, agora, é a onda dos aposentados, de pessoas com mais idade.
Nós voltaremos a este e outros temas que afligem o coração e a mente das gentes do Rio Grande do Sul, mas parece que os problemas ainda não bateram à porta do Palácio Piratini.
(*) Por Adeli Sell, professor, escritor e bacharel em Direito.
*As opiniões dos autores de artigos não refletem, necessariamente, o pensamento do Jornal Brasil Popular, sendo de total responsabilidade do próprio autor as informações, os juízos de valor e os conceitos descritos no texto.