Os desafios da humanidade para o século 21, já caminhando para completarmos um quarto do seu decurso, indicam para todos nós que não poderemos fugir dos temas relativos à sustentabilidade do planeta, à paz entre todos os povos do mundo e a democracia como, ainda, o melhor sistema para garantir direitos sociais, políticos e econômicos para a grande e expressiva maioria das pessoas. E esses temas centrais para o nosso futuro podem e devem passar pela educação.
A educação que queremos deve garantir e fomentar os valores políticos e sociais de sustentabilidade, remetendo à ideia de um desenvolvimento que, inclusivo por natureza, consiga equalizar as necessidades prementes e atuais das sociedades com a projeção futura das novas gerações. Como nossos filhos e netos receberão de nós o planeta em que vivemos? Como serão as condições objetivas de se viver por aqui, sabendo da crise hídrica e energética a que estamos submetidos todos, e não de hoje?
O longo século XX, que deu à humanidade grandes avanços tecnológicos e o advento de direitos sociais e políticos a contingentes mais amplos das sociedades humanas, e que também promoveu intensos processos de industrialização e, mais recente, incrementou as tecnologias de comunicação, deixa como legado às futuras gerações um planeta esgarçado ambientalmente. É fundamental que o conjunto dos países deem um passo decisivo no ganho de consciência social sobre esses desafios. E isso só será possível com muita educação! Os currículos e programas de ensino devem inserir a pauta da sustentabilidade de forma urgente e transversal, desde a educação infantil até o ensino superior.
Vivemos tempos críticos com a pauta da sustentabilidade. Acabamos de presenciar a maior potência econômica do mundo eleger um projeto político que desqualifica a preocupação ambiental como pauta e agenda políticas centrais. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mal tomou posse de seu segundo mandato e já assinou o decreto para a retirada dos Estados Unidos do Acordo do Clima de Paris. O tratado global foi adotado em 2015 e tem como principal objetivo o combate ao aumento da temperatura terrestre provocada pelo aquecimento global.
O mesmo desafio se coloca ao fomento de uma cultura de paz em um mundo deflagrado por guerras imperiais. A educação e os/as educadores/as têm papel central na criação de uma cultura de paz. E isso só terá êxito quando valores como justiça social e solidariedade forem ensinadas em nossas escolas, assumindo como eixo central, e também transversal, a agenda de direitos humanos e diversidade. Não devemos sucumbir à pauta conservadora que impõe interditos a esses temas, como vimos acontecer, de alguma forma, no debate de construção do novo Plano Nacional de Educação (PNE), que desconsiderou na formatação do projeto de lei que está no Congresso Nacional as recomendações indicadas sobre diversidade pela última Conferência Nacional de Educação (CONAE), ocorrida de forma extraordinária no começo de 2024.
E as mudanças climáticas que estamos vendo acontecer atingem em cheio os mais pobres e as comunidades mais vulneráveis. O que aconteceu com o desastre ambiental em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, no começo de 2024, deve voltar a se repetir não somente lá, mas em outras cidades brasileiras e do mundo. E as escolas devem ter planos de contingência e estratégias compartilhadas com as comunidades escolares acerca da ocorrência desses eventos. As áreas periféricas das grandes e médias cidades são alvo todo ano, no Brasil, na época das chuvas, de desmoronamentos, por exemplo. Qual o papel da escola e do/a educador/a para lidar com essas emergências?
É urgente que a educação e a escola assumam protagonismo político na construção de sistemas democráticos que tenham em suas agendas os debates da sustentabilidade, cultura de paz e participação ativa da comunidade. Esse é o papel da escola e não devemos ter medo de reafirmá-lo sempre que necessário, especialmente quando tentam cercear a sua função social. Na escola se aprende, sim, sobre sustentabilidade, paz e democracia. Essas devem ser nossas bandeiras!
O conjunto dessas preocupações consta das Recomendações que aparecem no Documento da ONU que estamos tratando aqui desde o ano passado em nossas reflexões, quando aquele organismo internacional criou um Grupo de Alto Nível para superar as questões que levam os países do mundo inteiro a sofrerem com o “apagão docente”, fenômeno que trata sobre a falta de professores/as. A retomada pelo interesse dos mais jovens em ser professor ou professora passa necessariamente pela recuperação desse papel e função social da educação e de nossas escolas em promover pensamento crítico sobre o mundo em que vivemos. Por uma nova escola que seja, definitivamente, um espaço de construção de um novo mundo, com sustentabilidade, paz e democracia!
(*) Por Heleno Araújo, professor, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e atual coordenador do Fórum Nacional da Educação (FNE).
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