O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, diz que a queda do dólar pela décima segunda vez em duas semanas, chegando à casa dos R$ 5,70, podendo recuar ainda mais, a partir de agora, especialmente, pelas medidas protecionistas de Trump, cujas consequências são incógnitas, é a melhor notícia para a inflação brasileira.
Com o dólar em queda – não se sabe até quando, diante das incertezas internacionais sob o trumpismo – as importações ficam mais baratas, especialmente, de combustíveis, com reflexos na redução de custos dos transportes, embora, nas bombas, o preço da gasolina já ultrapasse especulativamente R$ 6,6.
Se, realmente, a lógica predominar e caso o dólar continue a recuar, os preços dos alimentos, o calcanhar de Aquiles do governo Lula, tem tudo para se amenizarem, com ganhos para o consumidor, na comercialização da nova safra.
Mas, o fato é que a economia brasileira vive um paradoxo que levanta indagação contraditória: adianta jogar em circulação as reservas cambiais para baixar o dólar, se o pé no acelerador dos juros continua pelo BC, com mais um aumento de 1 ponto percentual na Selic contratado para a próxima reunião do Copom?
Não se trata, nesse caso, de trocar seis por meia dúzia e torrar dinheiro à toa?
Afinal, se, de um lado, cai o preço do dólar, de outro, sobe os custos de produção para todos os agentes econômicos, se os juros continuam nas alturas, sendo repassados pelos empresários aos preços em geral e nos dos alimentos em particular.
Eis a grande contradição que paralisa os agentes econômicos, levando-os ao caminho que julgam ser o melhor para eles: especular com o juro alto para sustentar sua taxa de lucro que cai na produção ameaçada por ele.
CONGRESSO, AMEAÇA RENOVADA
Os discursos de posse dos dirigentes do Congresso não aliviam as expectativas.
No plano político, mantém o temor de que o legislativo, dominado por maioria de direita e ultra-direita, dominado, amplamente, pelo Centrão, possa votar a anistia para os terroristas fascistas que tentaram o golpe de 8 de janeiro de 2023.
Nem direita nem ultra-direita têm candidato capaz de ganhar do presidente Lula em 2026, conforme revela última pesquisa Quest, salvo se o candidato delas for o ex-presidente Bolsonaro, inelegível pela justiça eleitoral.
A tentação da anistia a ser colocada em votação pelo presidente da Câmara, deputado Hugo Motta(Republicanos-PB), esconde o desejo secreto de colocar o fascista – que Lula chama de aloprado – novamente no poder.
Sem ele, podem perder de novo.
Mota, ao lado da ameaça de ressuscitar Bolsonaro, promete endurecer contra a proposta governamental de isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil.
Está, portanto, detonando a principal carta na manga que o presidente guarda para jogar no cenário, a fim de conquistar a classe média.
Ao mesmo tempo, diz que vai ser difícil levar adiante a proposta de cobrar impostos sobre lucros e dividendos dos mais ricos, para melhor distribuir a renda nacional.
É defensor declarado da burguesia rentista que sonha em derrotar Lula.
O que ele topa fazer, com gosto, é defender mais cortes de gastos sociais, para atender a demanda do mercado financeiro, que ameaça pressionar o BC por mais juros altos, em nome do combate à inflação.
SEMIPRESIDENCIALISMO, O PODER DE FATO
A direção do Congresso com o senador Davi Alcolumbre(União-AP) e o deputado Mota, dessa forma, vai na linha de fortalecer o semipresidencialismo inconstitucional, para barrar o presidencialismo constitucional de coalizão.
A ordem oculta, para além das aparências floridas nos discursos de posse, é impedir a governabilidade lulista.
E a prioridade dos dois chefes do legislativo, como não poderia deixar de ser, é a de garantir a liberação das emendas parlamentares, a fim de que os representantes do povo assegurem os votos nos seus respectivos currais eleitorais.
Foi com esse jogo que a direita e a ultra-direita fascista ganharam a maioria das prefeituras em 2024.
Pretendem ou não repetir a fórmula para 2026?
Resta ao governo, nesse cenário em que perde de goleada no legislativo, chamar sua base eleitoral para apoiá-lo nas ruas.
Nesse sentido, o maior desafio do presidente é enfrentar o veredito da última pesquisa eleitoral: o que fazer com o ministro Haddad, que acumula 56% de rejeição, já que esse elevado percentual puxa para baixo a popularidade do presidente.
Não é à toa que a maior torcida de Haddad, neste instante, seja para que o dólar continue recuando, a fim de não fazer maiores estragos na inflação e na popularidade presidencial.
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.
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