Na manhã desta quarta-feira, 27, a polícia federal cumpriu 29 mandados judiciais em uma operação que busca combater a produção e divulgação das fake news – um termo em inglês utilizado habitualmente para designar mentiras divulgadas como verdades, em redes sociais principalmente.
A imprensa deu ampla cobertura. A maioria dos alvos das buscas, senão todos, são pessoas ligadas ou defensoras do presidente Bolsonaro e seu governo. Políticos, jornalistas e até mesmo empresários estão sendo investigados.
O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a operação, por decisão do ministro Alexandre de Moraes. O próprio STF se diz prejudicado pela produção de mentiras que são divulgadas com toda a desfaçatez. Os ministros já têm falado por repetidas vezes que essa indústria de mentiras alimenta ódio e geram ameaças, que acabaram chegando ao STF. Não é de hoje que vários setores da sociedade vêm denunciando a prática das fakes.
Divulgar mentiras não é algo novo na política nem no Brasil. E também não é exclusividade de um só governo. Mas agora surge pela primeira vez, de acordo com as suspeitas da investigação, o uso da mentira de forma profissional. Políticos ligados ao próprio governo e recentemente rompidos, afirmam que existe um grupo instalado no Palácio do Planalto que produz e divulga grande parte desse material “mentiroso”. Foram denominados de “gabinete do ódio”, de acordo com a deputada Joice Hasselman.
A deputada alega também que entregou até provas na CPI das fake news, citando nomes e dando detalhes. Ela fala que os gastos chegam na casa de 2 milhões de reais com a profissionalização da equipe que cria e divulga as fakes. Existem previsões de que todos os gastos superam os 5 milhões de reais por mês.
A difusão das fakes, tornada uma prática que causa grande impacto na vida política e social do país, é algo grave. O fato de que isso pode estar ligado diretamente ao presidente da república é mais grave ainda, pois praticamente todos os alvos da operação policial se constituem em aliados do governo e, em várias situações, os filhos do presidente aparecem associados aos episódios.
Chama a atenção que alguns dos investigados quando se manifestaram sobre a operação da PF colocaram a investigação como uma perseguição do STF. Comparam com Hitler e o comunismo ao mesmo tempo. Afirmam que apenas exercem a liberdade de expressão. Não querem compreender que a mentira está classificada tanto como pecado quanto como crime, dependendo da sua gravidade.
É importante ver que a justiça busca combater a indústria da mentira. Mas é mais importante ainda que consiga punir em definitivo os responsáveis. Quem tem coragem de produzir e divulgar mentiras abertamente não vai se corrigir de uma hora pra outra. Até mesmo por que não acreditam que estão fazendo algo de errado, pois fazem uma leitura distorcida sobre a liberdade de se manifestar. Acreditam que cabe a quem discorda deles provar que estejam mentindo.
A reação dos investigados foi forte. Alguns falando que não se curvarão diante do STF e outros reafirmando a sua postura de continuar realizando o mesmo trabalho da maneira que interpretam como correta. O jornalista Alan dos Santos, investigado na operação, demonstrou claramente que não se abalou e afirmou em entrevista na Band News, em tom de desafio: “vou continuar sorrindo do STF” e completou: “pra mim, eles são patéticos”.