Surpreendente e inacreditável o vídeo da Sara Winter em reação à investigação da Polícia Federal, realizada por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ela não poupa xingamentos e se arrisca em proferir claras ameaças ao ministro: eu queria trocar socos com esse filho da puta, a gente vai infernizar a tua vida, a gente vai identificar os locais que o senhor frequenta, a gente vai descobrir tudo da sua vida até o senhor pedir pra sair… Foram algumas das suas declarações.
A investigação trata sobre fake news, mas está parecendo aquela história consagrada por uma velha máxima: atirou no que viu e acertou no que não viu. Agora não se trata mais de somente investigar se estão produzindo e espalhando “mentiras” que podem gerar ódio. O vídeo é a materialização do próprio ódio transformado em ameaças reais. Se havia dúvidas de que as fakes são perigosas, agora não há dúvidas de que os envolvidos não têm limites na cruzada que exercem, do tipo “contra tudo e contra todos que discordam do que eu penso”.
Os boatos de que o presidente da república e os membros do governo estão preocupados com o desdobramento da investigação se justificam. Muitas pessoas próximas ao governo envolvidas podem acabar envolvendo todo o governo. Também não se viu ninguém da equipe do presidente, nem ele mesmo, pelo menos disfarçando que condena as fakes. Todos eles colocam a investigação na conta da perseguição política.
É bem provável que os apoiadores do governo também não condenem o vídeo da Sara. Entre eles, parece que soa como corajoso e heroico enfrentar quem quer que seja e da forma mais ofensiva possível, mesmo que sejam aqueles que representam a expressão máxima da lei: o STF. Um cenário perigoso e preocupante.
O filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, através de uma live falou abertamente que uma ruptura é uma questão de tempo. Classifica a decisão do ministro de criminosa e disse que não basta suspender a investigação. Defende que haja punição do ministro. Nem cogita discutir dentro do próprio processo.
A manifestação do governo diante da investigação também se deu no campo político com o pedido de habeas corpus para o ministro da educação e o arquivamento da investigação. Até aí tudo bem. Ocorre que o pedido foi feito pelo ministro da justiça. A atitude se torna política por que não é tarefa do ministro da justiça atuar como advogado de outro ministro ou de qualquer pessoa. Boatos dão conta de que a verdadeira intenção do presidente era que todos os ministros assinassem o pedido. Alguém o alertou de que não seria a hora de tamanho desatino.
Uma coisa é certa: a cada dia que passa o presidente e seus apoiadores dobram a aposta. Não recuam em nada e aparentemente não recuarão. Nem uma perigosa pandemia os fazem refletir. Seguem desafiando a tudo e a todos. Se lançam em conflitos internos e externos com a mesma energia. Parece que estão em uma guerra do tipo em que só existem vencedores e vencidos. Se a “força da lei” de fato existe, talvez tenha chegado a hora dela se mostrar.