A realização do plebiscito do dia 25 de outubro de 2020 é mais um resultado de cerca de trinta anos de mobilizações da sociedade civil chilena. Houve diferentes formas de luta (plebiscitos nacionais tanto o de 1988 (NO a permanência de Pinochet no Governo); como o de 1989 (exigindo Reformas na Constituição). Houve o movimento dos Pinguins em 2006, quando secundaristas, ocupando escolas reivindicam gratuidade no ensino, e levam o Governo a fazer uma reforma educacional. Outra forma de luta foram os inúmeros “plebiscitos comunales” denominados “Diálogos Cidadãos”, auto- convocados, sem patrocínio das autoridades oficiais. No seio destas ações nasce a Coordenação contra as AFPs (empresas privadas que administram os fundos de pensão).
A mais prolongada e aguerrida das manifestações foi o “estalido social” de 14/10/2019 que chega até o plebiscito de 2020. Em todos estes momentos a cidadania resistiu contra o modelo liberal de modernização da sociedade, plasmada na Constituição de 1980 que abriu o mercado ao capital internacional e privatizou os serviços públicos. E exigiu do Governo mudanças no modelo.
Os 78% dos votantes no ultimo plebiscito foi quem obrigou o Governo a convocar o Plebiscito, para elaborar uma nova Constituição, mais democrática, mais participativa. Conseguem que seja formada a assembleia constituinte composta por membros dos movimentos sociais. Conseguem que seja de composição paritária (50 % de Homens e 50 % de mulheres), e que participem como membros efetivos os representantes dos povos originários a fim de que Chile seja uma Nação mestiça de fato.
Assim, a própria realização do Plebiscito já foi uma importante vitória.
A luta continua não só no período pós plebiscito com a constituição da Comissão Constituinte (que estabelece normas de funcionamento) como na própria Assembleia. E mesmo tendo uma nova Constituição que estabelece um novo pacto social, leva tempo para solucionar os problemas imediatos e mudar o rumo do modelo de desenvolvimento
A luta continua para reverter o modelo de desenvolvimento.
Observo que nem os políticos profissionais e nem os partidos políticos tiveram ou tem protagonismo neste momento. A pratica de aprofundamento da Democracia direta, onde os atores principais são os membros dos movimentos sociais, deslegitimam os políticos e os partidos como mediadores.
Talvez esta questão, entre outras, seja uma das consequências relevantes do resultado do Plebiscito. Como os políticos devem proceder para recuperar a legitimidade e poderem mediar?