Enquanto os números da violência do trânsito aumentam, mais famílias continuam a chorar a dor de perder seus entes queridos em acidentes que poderiam ser evitados. Alguns problemas são evidentes, como ciclofaixas ao lado de vias de alta velocidade e penas leves para quem mata ciclista, mesmo com o agravante de não prestar socorro à vítima. Também faltam investimentos em educação de trânsito. Apenas 5% de todo o valor arrecadado com multas é revertido em educação.
E apesar de possuir a maior malha cicloviária do País, de acordo com a Secretaria de Transporte e Mobilidade Urbana (Semob), Brasília, que tem 554 km de extensão, maior do que São Paulo (536 km) e Rio de Janeiro (450 km), figura entre as cidades brasileiras com o maior número de ciclistas mortos no trânsito.
Segundo o Detran-DF, de janeiro a setembro deste ano, sete ciclistas foram mortos no trânsito da capital federal. Em outubro, o número saltou para 14. Isso nas vias urbanas. Nas rodovias, outros 11 ciclistas foram mortos.
Por causa dessa violência no trânsito, ciclistas de várias cidades satélites realizaram no dia 14 passado, pela primeira vez em Brasília, o Pedal da Paz, manifestação de conscientização que começou em Goiânia e há três anos acontece, simultaneamente, em várias cidades brasileiras.
De acordo com Raphael Dornelles, coordenador-geral da ONG Rodas da Paz, a lógica do trânsito no DF, da própria gestão, tem sido uma lógica de velocidade, que faz as pessoas buscarem chegar o mais rápido possível no destino. “A lógica não pode ser essa, tem que ser a lógica de todo mundo chegar bem, vivo e seguro”, aponta Raphael. Para ele, isso envolve uma nova cultura de trânsito. “Precisamos criar uma cultura da vida e não da velocidade. A diferença do tempo perdido pelo motorista com diminuição de velocidade, por exemplo, é muito pouca. Tirar a vida de alguém assim é inadmissível”, ressalta.
Especialistas em mobilidade urbana apontam que é preciso priorizar modais como bicicleta, pedestre e transporte público para conter a violência no trânsito. Reduzir a velocidade das vias, priorizar faixas exclusivas de ônibus e ciclofaixas também são importantes. “Só assim vamos criar uma cultura de diminuição de velocidade nas vias e redução no número de mortos”, destaca Raphael.
Desestimular o uso do carro também é uma medida extremamente importante. Segundo Raphael, as cidades não suportam a enorme quantidade de carros que existe. “A ideia é trabalhar, com o tempo, o desestímulo do uso do carro com o estacionamento cobrado, aumento de imposto, para que a cidade, o espaço público, se torne mais das pessoas do que para os carros. Só assim vamos conseguir diminuir o número de mortos”, finaliza.