Prestes a completar 1 ano do fechamento das escolas por causa da pandemia do novo coronavírus, São Paulo enfrenta o dilema da reabertura gradual e em segurança com vistas à retomada das aulas. No entanto, entre o governo Dória e as entidades que representam o professorado paulista, trava-se uma verdadeira batalha no campo das narrativas, cujo prognóstico mais otimista seria uma vitória pírrica, não importando o lado que vença.
Se, de um lado, o governo tenta vender a imagem de competência na gestão da crise com a expectativa de convencer pais, alunos e professores de que as escolas estão, devidamente, aparelhadas para a reabertura, de outro, os sindicatos ligados à educação denunciam a precariedade em que se encontram muitas escolas a ponto de a APEOESP aprovar, em assembleia recente (online), greve sanitária por tempo indeterminado. O chamamento à greve veio como resultado do esgotamento do diálogo após a entidade recorrer ao Ministério Público com ação civil contra a volta às aulas presenciais, ação que foi favorável ao sindicato num primeiro momento, mas que foi cassada em segunda instância.
Os professores e professoras sempre estiveram na linha de frente por uma educação de qualidade e inclusiva e tiveram de se reinventar para lecionarem por meio remoto durante o ano de 2020. Trabalhar remotamente não é uma escolha dos profissionais da educação, e, sim, uma imposição das circunstâncias. Ainda assim, como se não bastassem os parcos salários, a categoria tem sido, reiteradamente, agredida por setores da sociedade, estimulados em entrevistas por representantes do governo. O governador paulista, que no início da pandemia posava de guardião da saúde pública, decretando fechamento do comércio e assumindo a frente na questão da vacina, paradoxalmente, determina o retorno das aulas para 8 de fevereiro não importando a fase em que esteja a pandemia.
Não se pode negar que as escolas fechadas estão trazendo enormes prejuízos para todos os atores envolvidos. Mas, reabri-las a toque de caixa sob a pressão de determinados setores em detrimento de outros, revela a verdadeira face de um governador que fez do oportunismo barato sua marca registrada.
O que os professores exigem por meio da greve é a vacinação imediata de todos os profissionais envolvidos com a educação, reivindicação legítima que leva em conta também o cuidado com os alunos e seus familiares.
Dados recebidos pela APEOESP dão conta de que em 125 escolas já se contabilizam 247 casos de Covid 19. Alguns professores testaram positivo após participarem, presencialmente, das reuniões de planejamento em suas escolas. Considerando que com apenas 15 dias de escolas abertas já se chegou a esses números, o prognóstico parece, realmente, desalentador.
Para além das razões de parte a parte, inclui-se aí os pais, que também pressionam pela reabertura das escolas. Há que se considerar que o inimigo comum é o vírus e que sem vacinação e segurança para todos essa será uma batalha perdida para todos, ganhe quem ganhar a narrativa.
(*) Luiz Marcelo de Paula – sociólogo e professor da rede pública estadual de São Paulo