Surgimento de variantes da Covid-19, aumento da pobreza, migrações e fechamento de fronteiras assolam as populações da América Latina
O presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) não gosta da alcunha de “genocida”. Mas o negacionismo e a sabotagem de seu governo às políticas de contenção ao novo coronavírus vêm acumulando centenas de milhares de mortes no Brasil desde o início da pandemia.
O número total de óbitos alcançou a marca de 321.886, nesta quinta-feira (1º/4), um dia depois em que o novo ministro da Defesa, Braga Netto, ficou mais preocupado em “celebrar” o golpe militar de 31 de março de 1964 do que em buscar medidas que possam contribuir para a redução no número de casos de contaminação e de mortes por Covid-19.
Nas últimas 24 horas, segundo levantamento de imprensa feito junto às Secretarias de Estado de Saúde, o Brasil bateu novo recorde ao registrar 3.950 mortes. O número de infectados por Covid-19 alcançou a marca de 12.842.717 de brasileiros.
Em relação às vacinas, o País aplicou, até agora, 22.712.483 doses, sendo duas aplicações em 5.091.611 pessoas, representando apenas 2,40% da população, e uma dose em 17.620.872 indivíduos (8,32%).
Com vacinação lenta e novas variantes do coronavírus surgindo no Brasil, o País consolida a sua imagem de isolamento internacional, distanciando-se cada vez mais de seus vizinhos da América Latina.
Bolívia fechou todas as suas fronteiras com o Brasil, nesta quinta-feira (1º/4), com o intuito de conter o avanço da Covid-19. Chile fez a mesma coisa.
A nova cepa P1, identificada, inicialmente, em Manaus, e, a P2, no Rio, estão contribuindo para acelerar o contágio no Brasil e também nos países vizinhos, como nas cidades de Buenos Aires e Córdoba, Argentina, Lima no Peru, além da Bolívia, Colômbia e Venezuela.
A explosão de casos no Brasil e nos países vizinhos levou os governos locais a aumentarem as restrições aos brasileiros. No Peru, por exemplo, o governo aponta que 40% dos novos casos, em Lima, devem-se à nova cepa brasileira.
O Paraguai, que tem cerca de 7 milhões de habitantes e 0,55% da população vacinada, segundo o site Our Word in Data (Nosso mundo em Dados), está longe de uma postura genocida como a do Brasil. Mesmo com aglomerações em protestos diários da população paraguaia pedindo a renúncia do presidente Mario Abdo Benítez e os boicotes frequentes de empresários ao decreto federal que prevê o fechamento do comércio, o país registrou 4.081 mortes até a terça-feira (30).
Demora na vacinação
Por um lado, as mortes por Covid-19 na América Latina representam 27% de óbitos no mundo. Por outro lado, apenas 7,2% das vacinas foram administradas na região até agora. Alguns fatores explicam a demora. Um deles é a alta demanda nos países ricos, favorecidos na corrida pela aquisição de doses por terem fechado acordos com fabricantes de forma antecipada. Dificuldades em relação ao custo, à logística de importação, transporte, entrega e administração das vacinas também são consideráveis.
Alguns países pobres conseguiram estabelecer acordos com as farmacêuticas produtoras de vacinas, outros estão recebendo doações ou dependem da iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), como o consórcio Covax, que é uma alternativa para garantir acesso aos imunizantes a quem não pode pagar. O consórcio é de iniciativa da OMS, da Aliança para a Vacinação (Gavi) e da Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias (Cepi).
Bolívia, El Salvador, Haiti, Honduras e Nicarágua não pagarão pelas vacinas do consórcio Covax e receberão por meio de fundos de um programa da Aliança para Vacinação (Gavi).
Colômbia foi o primeiro país latino-americano a receber doses da Covax no início de março. Peru, El Salvador e Bolívia também receberão as vacinas do consórcio.
O Brasil pode receber cerca de 10 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca até maio. Todavia, países europeus suspenderam o uso dessa vacina como medida de precaução e, dentre alguns problemas relatados, há casos de coágulos sanguíneos raros. Só na Alemanha, foram 31 casos de coágulos e nove mortes registradas
Ao todo, o País pode contar com 42 milhões de vacinas, o que daria para vacinar cerca de 10% da população. A demora para chegar as doses se deve, especialmente, porque a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) dispensou o registro e autorização temporária para que as vacinas fossem oferecidas pela coalizão.
Ao menos 19 países participam da iniciativa na América Latina. Cuba é único país a ficar de fora. Isso porque pretende vacinar os cubanos com imunizantes desenvolvidos e produzidos internamente.
Cuba: laboratórios de ponta e liderança mundial em testes
O cenário parece ser mais animador na ilha cubana, que tem 11 milhões de habitantes. Cientistas do país desenvolvem cinco vacinas contra a Covid-19, duas das quais estão em estágio final de testes.
Caso as vacinas Soberana 2 e Abdala – que precisam de duas ou três doses – sejam aprovadas pela OMS, o governo cubano pretende vacinar até maio 1,7 milhão de residentes em Havana, 60% da população do país até agosto e 100% até dezembro.
De acordo com o jornal estadunidense The Washington Post, se a meta estipulada pelas autoridades cubanas for alcançada, Cuba pode figurar “entre as primeiras nações do mundo a alcançar a imunidade de rebanho, ficando em posição de atrair turistas de vacinas e exportar excedentes de 100 milhões de doses até o final do ano”.
O presidente da BioCubaFarma, conglomerado estatal que supervisiona o desenvolvimento da vacina em Cuba, Eduardo Martínez Díaz, mostrou-se otimista e disse ao Jornal Brasil Popular que “os níveis de imunidade que as duas vacinas geram são altos”.
As autoridades cubanas informam que países pobres deixados de lado por nações ricas na disputa internacional por vacinas podem receber os imunizantes cubanos gratuitamente ou a preço de custo.
Além de poderem ser colocadas à venda por preços mais acessíveis, a Soberana 2 e a Abdala têm a vantagem de serem, facilmente, armazenadas. Em temperatura ambiente superior a 40 graus Celsius elas podem durar semanas, o que seriam uma grande vantagem em países tropicais.
Honduras e Guatemala
Devido à crise sanitária e ao agravamento da pobreza, caravanas de Honduras estão deixando o país rumo aos EUA. As pessoas em marcha chegam a caminhar mais de 3 mil quilômetros para fugir da miséria. Estima-se que mais de 10 mil pessoas tenham deixado ou estão tentando sair do país. Dados do Banco Mundial indicam que 60% dos hondurenhos vivem em situação de vulnerabilidade.
As informações mais recentes sobre a vacinação, em Honduras, e divulgadas no site Our Word in Data, constam que apenas 0,43% da população de dez milhões de habitantes está vacinada. O número de mortes é de 4.640.
Para chegar aos EUA, hondurenhos precisam passar pela Guatemala. Ao tomar ciência das caravanas, o governo guatemalteco decretou, na segunda-feira (29) “estado de prevenção” por 15 dias em cinco estados. O decreto autoriza as forças policiais a proibirem reuniões e aglomerações.
Na Guatemala, até o dia 29 de março, 0,55% da população de, aproximadamente, 18 milhões de habitantes havia sido vacinada.
A Guatemala tem 194 mil casos de pessoas infectadas por Covid-19 e 6.823 mortos. Honduras tem 189 mil infectados e 4.599 óbitos pela doença.
O governo mexicano fechou suas fronteiras com a Guatemala e aumentou a presença de tropas na região.