O APAKANI é uma organização não governamental ligada diretamente aos povos tradicionais quilombolas, indígenas, de matriz Africana, periféricos, e demais grupos sociais oriundos da vulnerabilidade social. Ele é originário de uma longa caminhada onde cada um de seus componentes cotidianamente mergulhados nesta prática, trazem em sua bagagem, suas atuações oriundas do campo educacional, cultural, ambiental, social, jurídico, etc, eis que na atualidade são inúmeros os aspectos da linha dos Direitos Humanos que gradativamente vem sendo violados. Sendo que os grupos mais afetados tem sido os negros, as mulheres, os periféricos, os quilombolas, os indígenas, as trans, entre outras minorias sociais.
Não desejamos enquanto Ong sermos os donos da verdade sobre a totalidade da bandeira dos Direitos Humanos, porém percebemos que esta prática muitas vezes, quando equivocada, gera desconforto sempre que alguém em nome desta totalidade tenta definir para os demais o que é “politicamente correto”. Por isso, ancoramos nossa vontade e força de trabalho nos eixos da diversidade das ideias; do pensamento livre; das múltiplas etnias, opções sexuais, identidades de gênero, origens e credos onde esta diversidade só faz sentido se conseguirmos acolher, respeitar e entendermos cada ser, acrescido de sua religiosidade, descendência, espaço de atuação cultural, política ou convívio social que difere das questões de “normalidade”, impostas em nossa sociedade.
Boaventura de Sousa Santos quando esteve em Porto Alegre, disse que os negros, indígenas quilombolas, e outros grupos nas quais a sociedade aponta como “minorias” não são minorias e, sim foram feitos “minorias”. Ele aponta que é para estes grupos que as políticas públicas precisam chegar primeiro. Como vimos, ao longo dos tempos, grupos tradicionais e comunidades têm sido reféns de um processo de dividir para conquistar. E nestas conquistas, os dados das diversas formas de violências vem ganhando proporções no mundo.
Com a chegada violenta do COVID-19 no mundo, o disque 180 no Brasil registrou 313 denúncias de violência contra a mulher a cada 24 horas, sendo que os dados oficiais que já eram alarmantes pois em 2018 apontavam que 536 mulheres eram vítimas de agressão física a cada hora, e hoje, infelizmente a miséria social aumenta trazendo consigo a violência, a fome e o abandono. Segundo o Pnad Covid-19, do mês de dezembro de 2020, cerca de 14 milhões de brasileiros estão em busca de trabalho e outros 879 foram afastados do trabalho devido a pandemia, sem nenhuma remuneração.
No ano de 2020, quando aprovado o auxílio emergencial, conforme dados do Ministério da Cidadania (2020), 68,2 milhões de pessoas receberam, enquanto outras 35 milhões tiveram o auxílio negado. Assim, foram pagas 5 parcelas a estas 68,2 milhões de pessoas e, no entanto, nem todos que receberam o auxílio no ano de 2020, conseguirão continuar recebendo o no ano de 2021.
Na prática, estes dados excluem a população que não tem acesso direto a internet e, que antes da pandemia já se encontravam em situação de vulnerabilidade social. Fora desde nicho, existe no Brasil milhares de ambulantes e artesãos, de diversas culturas, que todos os dias arriscam suas vidas trabalhando nas ruas para ter uma renda básica. A pandemia do Covid-19 atingiu principalmente a população negra e pobre que devido à falta de recursos e a ineficiência do governo, traça estratégias para se proteger da doença e da miséria, cujo abandono por parte do governo faz com que esta população tenha que recorrer a projetos sociais para que possam ter no mínimo a vida um pouco mais digna.
Diante destas violências que nos assolam das mais variadas formas, abaixo um exemplo que nos enche de orgulho, que foi a fala de Daniel Munduruku, um doutor da USP – líder indígena – fez na 63ª Feira do Livro em Porto Alegre[1]:
Peço licença para entrar no território de vocês. Eu venho questionar esse olhar quadrado que o ocidente desenvolveu e que exclui olhares circulares. Quando leem minha biografia, dizem que não sou mais índio, que já sou “civilizado”. Eu não sou índio e não existem índios no Brasil. Essa palavra não diz o que eu sou, diz o que as pessoas acham que eu sou. Essa palavra não revela minha identidade, revela a imagem que as pessoas têm e que muitas vezes é negativa
Em pleno século XXI, ainda se faz necessário desconstruirmos do imaginário social, as cargas simbólicas que são direcionadas para os segmentos específicos que resistem e não se curvam diante do sistema capitalista selvagem, por buscarem alternativas de um bem viver. Diante de algumas premissas o Instituto APAKANI entende que:
· Não é possível assegurar, por exemplo, o direito à vida e à saúde, se não possuímos um meio ambiente que se auto sustente e consequentemente seja saudável;
· Que este direito se estende igualmente no direito à cultura, ou seja, à sustentabilidade cultural;
· Também não há direito à moradia sem uma sustentabilidade espacial e política, e que;
· O direito à vida não será possível sem as devidas modificações e alterações legais das legislações pertinentes.
Diante de tantas violações referentes a estas questões, e em plena pandemia que a todos assola, eis que surge no núcleo da periferia de Porto Alegre um Instituto chamado APAKANI, na língua guarani significa aqueles que voam alto e enxergam longe), e que tem por objetivo principal dialogar com os defensores de Direitos Humanos com ponto focal no trabalho em redes construído coletivamente de forma virtual e física com representações legítimas nos bairros, cidades, estados e países.
Um dos exemplos do Instituto APAKANI, é que a bandeira dos Direitos Humanos estará em dialogicidade direta com os eixos centrais como educação, cultura, saúde, sustentabilidade ambiental, relações internacionais e que, dentro destes, temos os departamentos que tratam das especificidades tais como: indígenas, gênero, sexualidade, crianças, adolescentes, idosos, deficientes, negritude, quilombolas, imigrantes, acessibilidade, economia solidária, autogestão, esportes, questões jurídicas, artesanato, terapias integrativas, letramento digital e outras questões que venham a gerar ferramentas didáticas integrativas.
A localização do Instituto é dentro de um espaço geográfico cercado por morros, árvores num trecho sem asfalto na qual reside parte da população mais vulnerável, portanto é alvo de miserabilidade e refém desta pandemia, que vêm gradativamente piorando as questões de desemprego, evasão escolar, agravamento de doenças, que desaguam na exclusão das políticas públicas em todas as esferas.
Diante de tanta contradição social, é neste núcleo periférico também o lugar de resistência da classe trabalhadora e criativa que não se entrega diante das adversidades e que continua levantando cedo para trabalhar em lojas, mercados, fruteiras, farmácias, e outros espaços. Portanto, este trabalho coletivo que se encontra num processo de reestruturação do espaço para a criação de ambientes como biblioteca, sala de aula, exposições, atendimentos individuais ou em grupos, enfim, algo necessário para a realização de ações integrativas na lógica da educação popular freireana acompanhada de uma metodologia que trate dos conceitos que permeiam nosso tecido mundial chamado diversidade.
O Instituto APAKANI também possui um grupo de ativistas sociais, apoiadores e representantes que visam através da solidariedade consciente, desenvolver ações que possibilitem a retomada da dignidade dos habitantes da comunidade da periferia da Lomba do Pinheiro e comunidades adjacentes tais como: Restinga, Pitinga, Viamão, Partenon, Planalto, Vila Nova, Vila Mapa, Vila Tamanca etc. vulnerabilizadas ainda mais nesta pandemia. O avanço desde a criação do Instituto APAKANI envolve além da Diretoria Executiva, os departamentos e a rede estreitada internacionalmente, temos também uma frente inter-religiosa composta por representantes dos segmentos das comunidades de matriz africana, católica, batista, evangélica, budista, e outras.
Ainda dentro das orientações da ONU em relação ao COVID – 19, os idealizadores das ações desenvolvidas no Instituto buscam formas de como transmitir conhecimentos cuidando com todos, compreendendo os materiais e a própria realidade vivenciada pela comunidade. Desta forma, temos a pretensão de que o Instituto seja um órgão físico e virtual de referência de um trabalho que só pode ocorrer se for dentro de uma grande rede que vão desde os apoiadores, amigos, familiares etc.
Com o apoio do CAMP e do Fonsampotma estamos neste momento de início tendo oficinas de criação de espaços dentro das mídias nas quais vão interagir com todos que nela se conectarem, desenvolvendo nestes espaços, ações de formações trocas, encontros, informações, enfim, algo que possa impulsionar as informações através dos aplicativos facebook, youtube, Meet, Zoom, Tik Tok, whatsApp, como facilitadores da transmissão das nossas metodologias.
Assim, solicitamos que vocês acessem nosso canal, se inscrevam, deixem seus comentários, compartilhem e nos contatem nas redes do face, instagram e youtube para que possamos seguir dialogando. Nossas lives estão programadas para todos os domingos às 16 horas, onde teremos nossos ativistas interagindo de todos os lugares do mundo e socializando com vocês suas descobertas, ou seja, denuncias, anúncios e muita interação virtual.
https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/violencia-em-dados/category/cultura-da-violencia-e-machismo/ acessado em 21 de abril de 2021.
https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/violencia-em-dados/postagens/ acessado em 21 de abril de 2021
http://www.nonada.com.br/2017/11/daniel-munduruku-eu-nao-sou-indio-nao-existem-indios-no-brasil/ acessado em 21 de abril de 2021
[1] Doutor em Educação pela USP, Pós-Doutor em Literatura pela Universidade de São Carlos e autor de 52 livros