Na manhã desta sexta-feira (30), a reitoria da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) divulgou, em seu site, a “Nota de repúdio à declaração do ministro da Economia sobre acesso ao ensino superior”. No documento, o reitor Ricardo Lodi Ribeiro diz que “a Uerj se orgulha de ter em seu corpo discente filhos de porteiros, de empregadas domésticas, de trabalhadores em geral, que vêm contribuindo para elevar os padrões de excelência de nossa Universidade” e informa que a instituição foi uma das primeiras a aderirem ao sistema de cotas raciais.
Confira a nota na íntegra:
Nota de repúdio à declaração do ministro da Economia sobre acesso ao ensino superior
A UERJ vem repudiar a declaração do Ministro da Economia, Paulo Guedes, relativa ao acesso dos filhos de porteiro ao ensino superior. Mostra todo o preconceito e elitismo do Ministro e revela o seu despreparo para ocupar as relevantes funções que lhe foram confiadas.
A UERJ se orgulha de ter em seu corpo discente diversos filhos de porteiros, de empregadas domésticas, de trabalhadores em geral, que estão contribuindo para elevar os padrões de excelência de nossa Universidade em todos os rankings nacionais e internacionais.
Somos Universidade referenciada socialmente que prepara os filhos e filhas da classe trabalhadora para ser parte importante na construção de um Brasil mais justo, mais plural e um país em que a ciência e tecnologia sejam respeitadas.
Rio de Janeiro, 29 de abril de 2021.
Ricardo Lodi Ribeiro
Reitor da Uerj
A nota repudia a declaração preconceituosa e inoportuna do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o acesso dos “filhos de porteiro” ao ensino superior, durante reunião do Conselho de Saúde Suplementar (Consu), na terça-feira (27).
Sem saber que a reunião estava sendo gravada, Guedes revelou seu preconceito e elitismo ao comentar sobre o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies).
“Teve uma bolsa do governo, o Fies, uma bolsa pra todo mundo. […] O porteiro do meu prédio virou pra mim e falou: ‘Eu tô muito preocupado’. Eu disse: ‘O que houve?’ Ele disse: ‘Meu filho passou na universidade’. Eu: ‘Ué, mas você não tá feliz por quê? Ele: ‘[Meu filho] tirou 0 na prova. Tirou 0 em todas as provas. Recebi um negócio financiado escrito ‘parabéns seu filho tirou…’ Aí tinha um espaço pra preencher… e lá 0. Seu filho tirou 0 e acaba de se ingressar na nossa escola. Estamos muito felizes”, disse durante a reunião.
“Deram bolsa para quem não tinha nenhuma capacidade. Botaram todo mundo… Exageraram. Foram de um extremo ao outro”, completou.
No mesmo dia em que o discurso de Paulo Guedes foi denunciado, os ex-ministros da Educação nos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff (PT) também divulgaram suas críticas às declarações do Ministro da Economia nas redes sociais.
Fernando Haddad (PT): “Saúde e educação para poucos, esse é o seu ideal de mundo. Aos porteiros e seus filhos: vida longa e a porta da universidade aberta”, escreveu no Twitter.
Tarso Genro (PT): “Que honra, temos eu, Haddad, Paim, Mercadante de, comandados por Lula, sermos responsáveis por este sacrilégio”, tuitou.
Aloizio Mercadante (PT), por sua vez, publicou um artigo rebatendo a fala de Guedes.
Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva compartilhou a postagem do publicitário Ricardo Silvestre, filho do porteiro que a ingressou na universidade graças ao Fies e respondeu: “Por mais jovens como Ricardo e menos homens como Paulos Guedes”.
Ricardo Silvestre: “Felizmente um dos filhos de porteiro e empregada doméstica sou eu, que pude estudar pela existência dos programas sociais do governo”, escreveu Silveira nas redes.