“Sobram estudos mostrando que kit-covid não funciona”, afirmou Pasternak, durante depoimento. Ela citou dados enviados pelo epidemiologista Pedro Hallal para afirmar que “três de cada quatro mortes teriam sido evitadas se o Brasil estivesse na média de controle mundial da pandemia”
Num telão durante seu depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia da Covid-19, nesta sexta-feira (11), a cientista Natalia Pasternak, microbiologista da Universidade de São Paulo (USP), deu uma aula de honestidade e foi mais uma a desmascarar o uso da pandemia pelo esquema de corrupção para enriquecimento ilícito com dinheiro público. Ela utilizou projeções no telão para mostrar uma série de estudos científicos de diversas partes do mundo, todos reconhecidos e certificados, mostrando que a cloroquina e outros medicamentos do chamado “tratamento precoce” não funcionam contra a Covid-19.
“A cloroquina, infelizmente, nunca teve plausibilidade biológica para funcionar. O caminho pelo qual ela bloqueia a entrada do vírus na célula só funciona in vitro, em tubo de ensaio, porque nas células do trato respiratório, o caminho é outro. Então ela já nunca poderia ter funcionado. Ela nunca funcionou para viroses. A cloroquina já foi testada e falhou para várias doenças provocadas por vírus, como zika, dengue, chikungunya, o próprio Sars, Aids, ebola… Nunca funcionou” — asseverou a cientista.
Ela também mostrou no telão estudos que detalham que as pesquisa sobre a cloroquina foram feitas à base da pressão política de alguns países. Essas pesquisas demonstraram a impossibilidade de o medicamento ter eficácia contra a Covid-19.”A cloroquina já foi testada em tudo! Foi testada em animais, em humanos. Foi testada de todas as formas e não funcionou. Inclusive de ‘tratamento precoce’, que são os estudos de PEP e PrEP. PEP é a exposição profilática pós-exposição, ou seja, a pessoa foi exposta ao vírus e já começa o tratamento — não dá para ser mais precoce do que isso. Não funcionou! Aí a gente teve os PrEP, que é profilático. ‘Vamos dar para profissionais de saúde’ porque eles são muito expostos: também não funcionou! Estamos há pelo menos 6 meses atrasados em relação ao resto do mundo, que já descartou a cloroquina”, afirmou.
Pasternak defendeu o estudo de abril de 2020 da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) com a Fiocruz e a USP, um dos primeiros no mundo a evidenciar a ineficácia da cloroquina contra a Covid-19. O estudo tem sido atacado por defensores do “tratamento precoce”, como o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS). “Foi uma pesquisa de excelência, premiada internacionalmente como um dos melhores trabalhos publicados em 2020. Uma pesquisa extremamente bem conduzida, um estudo de segurança de dose. Que testou duas doses diferentes para pacientes hospitalizados, e concluiu que a dose alta era perigosa, não deveria ser usada. E que a dose baixa não alterava a carga viral, não trazia nenhum benefício. O professor Marcus Lacerda [condutor da pesquisa] foi quem mostrou que aumentar a dose não era seguro, e que a dose baixa não servia”, afirmou Natalia Pasternak.
Durante seu depoimento, ela assegurou que “três de cada quatro mortes teriam sido evitadas se o Brasil estivesse na média de controle mundial da pandemia”. “375 mil mortes teriam sido evitadas se tivéssemos melhor controle da pandemia”, destacou.Ela mostrou os dados enviados pelo epidemiologista Pedro Hallal, professor da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo sobre coronavírus no País.
Ainda segundo ela, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) seguiu estimulando o uso de medicamentos ineficazes, como a cloroquina, contra a Covid-19 apesar de as pesquisas mostrarem a ineficácia da droga desde meados de junho e julho de 2020. Ela informou que O conhecimento nacional e internacional sobre o fato de a cloroquina e a ivermectina não funcionarem começou por volta de junho e julho de 2020”, disse ela em resposta a uma pergunta da senadora Kátia Abreu (PP-TO).
Ela também destacou que o “hype da cloroquina, um medicamento barato”, começou em março de 2020 com uma apresentação feita por um grupo da China que mostrava atividade in vitro da droga contra o coronavírus. Depois, novos estudos ressaltaram a ineficácia do medicamento. Na sessão desta sexta-feira (11), a CPI decidiu que os entusiastas da cloroquina no “tratamento precoce” contra a Covid-19 são seus próximos alvos. Os parlamentares querem saber quem financiou e quem ganhou dinheiro com a prescrição indiscriminada da droga, considerada ineficaz no combate ao coronavírus. Um conjunto de requerimentos aprovados nesta semana direciona a apuração para empresas farmacêuticas, agências de publicidade, entidades médicas e pessoas físicas que promoveram campanhas em favor do “kit covid”.
Do 247 e Agência Senado com edição do Jornal Brasil Popular