Brasília acordou nesta quarta-feira com a triste notícia da morte da cineasta Tânia Quaresma, ocorrida na noite de ontem (6/7), após sofrer uma parada cardíaca. A jornalista Maria do Rosário Caetano registrou em sua página no Facebook que a fotógrafa e diretora de cinema realizou muitos documentários, sendo o mais famoso deles Nordeste: Cordel, Repente, Canção, de 1975 (veja o filme aqui).
Sobre este documentário Maria do Rosário lembra que Werner Herzog “teria assistido ao filme e se encantara. E que por causa dele tivera a ideia de realizar, em 1987, o filme Cobra Verde”. O lançamento comercial deste documentário teve grande repercussão.
Tânia fez também Trindade: Curto Caminho Longo (1979), e Nísia, Paulo e Josué: Oficina de Memória (2008).
Mineira, nascida em Belo Horizonte, Tânia radicou-se em Brasília em 1983, onde criou o projeto cinematográfico administrado pela Fundação Bem Te Vi. A artista mineira faz parte da história cultural de Brasília e deixou um legado de longas-metragens e séries documentais para tevê. Tânia deixa um filho, Alexandre Quaresma, que também trabalha na produção cinematográfica.
Em depoimento realizado ao Projeto Memória & Invenção, Tânia disse: “Eu estava feliz: Brasília tinha me recebido de asas abertas. Achei então que já era hora de ter uma base fixa, um ponto permanente para pouso e decolagem. Percebi que meu sonho com Brasília era mais que um filme: ele me indicava um projeto de vida. Acreditei nele e vivo essa realidade, desde então”.
Tânia começou a trabalhar aos 16 anos como fotógrafa. Atuou na redação da Folha de S. Paulo, onde registrou o movimento estudantil contra a ditadura militar nos anos 1960. Como cinegrafista, esteve no Jornal Nacional, da TV Globo, e fez uma especialização numa tevê alemã.
A Secretaria de Cultura do DF lamentou a morte da cineasta. Recentemente, Tânia buscou a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) para discutir a possibilidade de doar o seu acervo televisivo. Sobre essa tratativa, o secretario Bartolomeu Rodrigues disse que foi procurado pela cineasta: “Ela estava muito entusiasmada com a ideia de disponibilizar tudo o que documentou para a sociedade brasiliense. Sua morte é uma perda sem tamanho, pela sua sensibilidade e pelo olhar humano para Brasília e sua população”.
Todos os programas realizados por Tânia que foram ao ar abordavam a história da construção de Brasília, sob o ponto de vista dos operários.
Muitos artistas e produtores culturais de Brasília lamentaram a morte da cineasta. A seguir alguns depoimentos colhidos na rede social:
Cuca, atriz: “Que tristeza, Tânia tinha um trabalho lindo, batalhadora incansável. Trabalhamos juntas no final dos 80”.
Alexandre Ribondi, ator e diretor de teatro: “Uma sonhadora que quis futucar a onça Brasília com a vara curta. Conseguiu por algum tempo e foi divertido e criativo ter estado com ela no projeto Bem Te Vi. Tomara que ela arrume uma boa turma por lá e mande ver.”
Rita Andrade, ativista cultural: “Tânia foi uma mulher excepcional, uma artista aguerrida, uma inspiração que siga na luz e paz.”
Dioclécio Luz, jornalista: “Depois de muito tempo vou ver novamente o documentário da Tânia Quaresma – Nordeste: Cordel, Repente Canção. Esse filme valoriza a região e diz de outro modo o que já dizia Guimarães Rosa: ´o sertão é dentro da gente´. Ela sacou isso e mostrou pra gente ao seu modo: telúrico e cósmico.”
Rênio Quintas, músico: “Entrou para a galeria das imortais! Grande mulher, grande ser humano! Voa Tânia querida!”
Zuleica Porto, diretora de cinema: “Que tristeza… fazia muito tempo que não a via. Vá em paz, Tânia guerreira.”