Conselho Nacional das Populações Extrativistas(CNS) reuniu instituições e lideranças da Reserva Chico Mendes para apresentar o projeto de resistência à grilagem que ocorre diariamente na Amazônia estimulada pelo governo federal
O Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS (cumprindo protocolo sanitário para evitar contaminação pelo covid-19), reuniu nessa segunda-feira(12), no município de Brasileia-Ac, instituições parceiras e lideranças da Reserva Chico Mendes para a apresentação do Projeto “Resistência da Floresta” que visa fortalecer a incidência política do CNS na Amazônia brasileira e apoiar as lutas na defesa dos direitos dos povos e comunidades tradicionais que enfrentam as ameaças governamentais no Brasil, Peru e Bolívia.
Segundo o secretário Geral, Dione Torquato (33), o Projeto contribuirá de forma efetiva, na comunicação institucional do CNS junto à base comunitária e com os parceiros nacionais e internacionais; nas ações de mobilização das populações e comunidades extrativistas para a resistência e a defesa dos territórios tradicionais de uso coletivo contra as ameaças dos governos federal, estaduais e do Congresso Nacional que estão tentando flexibilizar as leis socioambientais (“passar a boiada”), retirar direitos e recategorizar as Unidades de Conservação – UC no Brasil.
A reunião contou com a presença de representantes do Comitê Chico Mendes, WWF – Brasil, SOS –Amazônia, ICMBio, AMOPREX, STTR –Xapuri, AMOPREAB, STTR de Assis Brasil, STTR de Brasiléia e AMOPREB; parceiros com os quais o CNS tem buscado uma maior aproximação para conseguir implantar as ações no território.
Principais Ameaças da Resex Chico Mendes
Para o Presidente do CNS, Júlio Barbosa (67), é preocupante a situação da RESEX Chico Mendes. A ausência de efetiva fiscalização por parte do ICMBio, a fragilidade no Legislação ambiental somados aos interesse econômicos e de políticos que estão tentando aprovar o PL 6024 (Altera os limites da Reserva Extrativista Chico Mendes, localizada nos municípios de Assis Brasil, Brasiléia, Capixaba, Epitaciolândia, Rio Branco e Sena Madureira, no Estado do Acre e modifica a categoria do Parque Nacional da Serra do Divisor), formam um cenário muito ameaçador, tanto para a RESEX Chico Mendes quanto para outras Unidade de Conservação da Amazônia e, por consequência, aos territórios vizinhos Bolívia e Peru.
O atual cenário na região do Alto Acre (Assis Brasil, Brasileia e Xapuri) é de venda ilegal de colocações (local de moradia, trabalho e produção do seringueiro) para pessoas vindas de outros lugares do País; loteamento das colocações, desmatamento ilegal; extração ilegal de madeira; invasão do território sem controle das instituições fiscalizadoras (Associação de Moradores e ICMBio) e a chegada das facções criminosas que vêm na larga área de fronteira seca, um campo fértil para se movimentar e fazer tráfico de drogas, armas e outros ilícitos. Tudo isso está causando impactos irreversíveis.
“Este encontro do CNS com os parceiros locais é importante para que possamos, unidos e fortalecidos, fazer a defesa da Reserva extrativista e do projeto de sustentabilidade que desde sempre temos pensado para a região.”
As percepções de quem vive na Floresta
Morador do Seringal Amapá, colocação Boa vista, na Reserva Extrativista Chico Mendes e membro do Conselho deliberativo do CNS, Anacleto Maciel (55) veio participar desse encontro por estar preocupado com o PL 6024, que visa reduzir o território da Resex Chico Mendes.
Para Maciel, que também é poeta e repentista, o governo deveria era promover a valorização dos produtos da floresta tais como a borracha e a castanha e oferecer saúde, educação e melhorar os ramais (estradas), para que as pessoas que vivem na floresta pudessem ter uma vida melhor. “E não tentar diminuir a Reserva Extrativista”.
Associado ao STTR de Assis Brasil e candidato a diretor de juventude na próxima gestão, Wendel Araújo (26) diz que os jovens da Reserva estão abandonados e sem estímulo para participar da luta porque não há uma política pública voltada para o desenvolvimento de atividades lucrativas e sustentáveis que preservem a floresta. Por isso esse PL 6024 está ganhando força e estão acontecendo ameaças de morte as lideranças, perda do território pelas invasões e aumentando a pecuária dentro da Resex.