Uma parcela da esquerda está defendendo a não realização dos atos antifascistas convocados para o dia 7, argumentando que isso ajudaria Bolsonaro a provocar tumultos, chamar os militares e dar o golpe, sempre culpando a suposta “violência” dos manifestantes.
Antes de divergir desse raciocínio quero dizer que essa é uma preocupação legítima, mas que não deveria se limitar ao dia 7, pois cada ato antifascista pode ser objeto de provocação golpista.
No entanto, se realmente suspendermos as manifestações, estaríamos deixando o STF e os governadores de oposição sozinhos no campo de batalha, pois juntamente com estas instituições da República Federativa o movimento popular compõe a ampla frente antifascista.
Caso adie as manifestações para momentos mais “pacíficos”, ou seja, para depois do dia 7 de Setembro, data que o genocida marcou a sua batalha contra a democracia, o movimento popular estaria comentando erros imperdoáveis, que vão desde ilusões republicanas até a desmoralização da luta popular.
E se o golpe der certo, não haveria mais momentos “pacíficos”. Nem sempre a luta de massas é uma caminhada cívica. A pior das derrotas é aquela sem luta. Temos de nos mirar nos exemplos da passeata dos 100 mil, das greves dos metalúrgicos do ABC e do grande movimento popular das Diretas Já, quando, mesmo com medo, enfrentamos a ditadura militar. Ou mais recentemente, nas vigorosas e massivas manifestações do povo chileno.
É um princípio político e moral da esquerda afirmar que o povo na rua derruba ditadura e derrota o fascismo. Inclusive na data em que se celebra uma esvaziada independência nacional, fazemos há 26 anos o Grito dos Excluídos. Mais razão temos agora de realizar o 27º Grito quando o fascista Bolsonaro ameaça concretamente a democracia.
Bolsonaro sabe que essa é a sua última grande janela de oportunidade para dar seu golpe. Por isso se expôs tanto ao assumir pessoalmente a convocação de suas manifestações, garantindo a sua presença em Brasília e em São Paulo. Acredito que, com ou sem manifestações antifascistas, os bolsonaristas tentarão invadir o STF e o Congresso e também provocar atos violentos, para culpar a esquerda, principalmente em São Paulo. A única possibilidade de Bolsonaro transformar esses tumultos em golpe está nessas duas cidades, mas acredito que não conseguirá seu atingir seu objetivo.
Provocar manifestações populares é a primeira lição que a polícia aprende para “justificar” sua repressão antidemocrática. Ou já esquecemos das ações dos Black blocs que surgiram do nada para provocar a polícia e assim justificar a repressão das nossas manifestações pacíficas contra o impeachment?
O antídoto contra essas táticas da repressão não é suspender nossos atos de massas, pois isso equivale a abandonar a luta, mas organizá-los muito bem, dando-lhes orientações simples e claras contra as possíveis provocações e, do ponto de vista prático, criar grupos responsáveis para prevenir e/ou desmontar ações de provocadores infiltrados. Nesse último quesito da autodefesa de massas há uma visível carência que precisa ser urgentemente superada pela esquerda brasileira.
Concluindo, na condição de forças de esquerda não temos o direito de suspender os atos de massas apenas porque Bolsonaro quer dar seu golpe na mesma data. Não seria exatamente o contrário? Por isso, mais do que o dever, temos a obrigação de mobilizar o povo consciente e organizado nas ruas para impedir qualquer tentativa de golpe!
#ForaBolsonaro
(*) Val Carvalho – Escritor e militante de esquerda.