Antes de tudo entendo que quem mobiliza o povo consciente nas ruas é a bandeira vermelha, mas quem simboliza o levante da Nação promovido pela parte mais consciente do povo é a bandeira nacional.
Assim aconteceu em todos os eventos históricos onde as forças mais conscientes mobilizaram a maioria da população brasileira. Exemplos disso encontramos nas lutas de massas para que a ditadura Vargas, simpática à Alemanha, declarasse guerra ao Eixo nazifascista. O mesmo ocorreu na campanha popular em defesa do “Petróleo é Nosso” e que foi tornada uma bandeira realmente popular com a conquista da Copa do Mundo em 1958. Na política, voltou a se empunhada pelo povo mobilizado pela Campanha da Legalidade, liderada em 1961 pelo então governador gaúcho Brizola para garantir a posse do vice-presidente Goulart.
O golpe e a longa ditadura que se seguiu se apropriou da bandeira nacional, embora fosse um governo servil a Washington. Mas em todas as lutas de rua contra a ditadura, sobretudo no grande movimento de massas pelas Diretas Já, era a bandeira nacional que unificava o simbolismo da Nação que se tornava politicamente consciente.
Portanto, a experiência histórica brasileira mostra (e também dos povos latino-americanos) que quando a luta popular sai dos meios mais restritos de militantes e intelectuais de esquerda e mobiliza as massas nas ruas, a bandeira nacional é resgatada das mãos impróprias da direita e tornada símbolo do levante da Nação.
Essa é a disputa simbólica entre aqueles que defendem nas ruas a democracia popular e a soberania nacional contra aquelas forças entreguistas e fascistas que usam a bandeira como um mero instrumento de manipulação do sentimento patriótico do povo.
Enquanto o resgate da bandeira nacional como expressão da defesa da soberania com participação popular renasce sempre da revolta das ruas, seu uso para manipular o sentimento patriótico do povo vem “de cima”, de ardilosas campanhas publicitárias da grande mídia e agora também dos disparos milionários de fakenews de Bolsonaro, que enquanto beija a bandeira americana tenta enganar o povo se apresentando como “patriota”.
Falei tudo isso para dizer que considero acertada a decisão do comando unitário do movimento popular de usar a cores e o hino nacional nos atos do #ForaBolsonaro desse 2 de Outubro.
Diferentemente dos cinco atos nacionais anteriores, que contribuíram para melhorar a organização e elevar a acumulação de forças do momento popular, os Atos desse sábado serão a resposta democrática e popular ao fracassado golpe fascista de Bolsonaro do dia 7 de Setembro.
Deverão ser manifestações antifascistas muito mais amplas do ponto de vista político e partidário e envolvendo os mais diversos setores sociais, desde os populares até as classes médias que vêm se opondo ao genocida.
Numa manifestação antifascista tão ampla como esta se anuncia, cabem perfeitamente o simbolismos da Bandeira e do Hino nacionais.
Finalizando, quem é do vermelho que vá de vermelho, pois é o vermelho nas ruas que resgata o verde e amarelo como símbolo da soberania nacional de fato. Aqui não há contradição entre o verde amarelo da forma e o vermelho do conteúdo democrático, popular socialista.
(*) Val Carvalho – escritor e militante de esquerda
#ForaBolsonaro