Uma rápida notícia na televisão, dias atrás, mostrava o original manuscrito em letra de forma da carta que um menino de 7 anos escrevera a Papai Noel, pedindo não um presente qualquer para ele mesmo, mas carne para sua família. A última vez que entrou carne em sua casa – acrescentou – foi no Natal passado, praticamente um ano antes.
Esse pedido de carne lembra como, semanas atrás, a TV mostrou (e ainda deve acontecer, embora a TV não mostre mais), adultos e crianças se acotovelavam diante de caminhões de lixo à porta de restaurantes, em busca de restos, pelancas e ossos com possíveis restos de carne.
O menino não é, como se poderia esperar, do Nordeste ou de um dos bolsões de miséria extrema do Rio ou São Paulo. Ele é do interior do Rio Grande do Sul e se pediu carne foi porque ela já pode ter sido habitual ou ocasional em sua casa, assim como deve ter sido frequente na média das famílias de um Estado rico e de tradição pecuária.
A simples existência dessa carta e das imagens dos caminhões de lixo cercados de cavadores de restos são prova indiscutível do quanto a miséria avança no Brasil de Bolsonaro. E não é só por causa do coronavírus: é por causa da indiferença do governo diante do avanço da concentração de renda numa economia ainda hoje entregue por inteiro às ilusões e imposturas originais do neoliberalismo, já desmentidas e contestadas nos maiores países capitalistas, como os Estados Unidos de Biden e a Alemanha do novo Chanceler Olaf Scholz
Em nenhum dos governos anteriores, nem no de Temer, tivemos imagens tão cruéis como essas – e o que se faz contra esse avanço da miséria é outra impostura, uma recauchutagem precária do Bolsa Família com finalidade eleitoreira, enquanto a agenda política do país se esgota em frivolidades como a queima de fogos no Ano Novo.
Com tantas outras urgências a enfrentar, o Congresso passou as últimas semanas do ano legislativo a discutir a questão dos precatórios e a do orçamento secreto, enquanto a Anvisa tinha vetada a proposta de passaporte vacinal para os milhões de turistas estrangeiros esperados para o Ano Novo e para o Carnaval.
Em troca desse passaporte, o governo só consentiu numa quarentena que vai ser impossível controlar e que vai permitir a entrada no país de quantos não-vacinados escolherem o Brasil como seu destino alternativo, uma vez impedidos de entrar em outros países. Tudo isso porque, e apenas porque, Bolsonaro não se vacinou e por isso seu governo não pode exigir que turistas estrangeiros se vacinem.
Um governo assim, de um Presidente assim, não pode mesmo se ocupar da situação de meninos como o do Rio Grande e outros que nem tiveram a oportunidade de acreditar em Papai Noel, porque em sua miséria nem caberia a ilusão de um milagre como esse. Um governo assim, de um Presidente assim, tem de fazer força para que o país se contente com a expectativa dos fogos do Ano Novo, transformada em questão de alta política, por não existir qualquer base objetiva para a esperança de qualquer melhora na questão do emprego, da inflação e do crescimento da economia.
O próprio Bolsonaro resumiu sua situação e a situação geral do Brasil numa declaração franca e patética que fez na quinta-feira, uma declaração esclarecedora do absurdo destes dias:
— Queriam que a gente impusesse aqui a obrigação do cartão vacinal – disse ele. E perguntou: – Como eu posso aceitar o cartão vacinal se eu não tomei vacina? E é um direito meu de não tomar, como é direito de qualquer um.
Ele tem o direito de não se vacinar? E de enfiar-se em aglomerações de seguidores seus, ameaçando espalhar o vírus? Se lhe for reconhecido esse direito, os historiadores do futuro terão um enigma para decifrar. Comparando o Brasil de Bolsonaro a romances de Franz Kafka, como O Processo, eles vão achar Kafka um autor banal e até entediante. Temível e incompreensível mesmo terá sido o Brasil de Bolsonaro.
(*) José Augusto Ribeiro – Jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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