Há legitimidade nas preocupações do governo Putin – “porque a Otan é uma aliança em busca de um inimigo”, diz ex-chanceler. Mas não há alternativa fora do diálogo
Em entrevista ao programa 20 minutos, do site Opera Mundi, Amorim ressaltou que o uso da força armada é um recurso que deve ser autorizado pelas Organizações das Nações Unidas (ONU) ou empregado em caso de legítima defesa. O que também, segundo ele, não se aplica ao governo Putin. “Os EUA, antes da guerra do Iraque, alegavam a legítima defesa preventiva e isso não existe no direito internacional. Eu condenava à época e condeno hoje. Qualquer ataque militar sem autorização das Nações Unidas, e às vezes até com autorização, não é bom. Mas sim é uma violação grave do direito internacional”, afirma o diplomata.
Para Celso Amorim, a Rússia podia continuar reforçando as posições na fronteira e até mostrar sua disposição de utilizar a força caso fosse atacado. Além disso, ex-chanceler acredita que o próprio reconhecimento da independência das repúblicas populares separatistas de Donetsk e Luhansk, em Donbass, aprovado na terça (22) por Putin, poderia ter sido usado como uma “posição de barganha” na mesa de negociações internacionais.
Caminho para o diálogo
O presidente da Rússia acusa, no entanto, os Estados Unidos, a União Europeia e a Ucrânia de “intransigência” nas negociações diplomáticas, enquanto estariam avançando militarmente sobre as repúblicas rebeldes de Donbass, de maioria russa, além de acelerarem o armamento das tropas de Kiev.
Com uma experiência de mais de 50 anos em relações internacionais, Amorim defende que é ainda possível dar fim a esse conflito. “Para encontrar uma solução para isso precisa terminar com essa ação militar imediatamente. Recomeçar o diálogo com base nos princípios dos direito internacional e um dos princípios mais importantes, o sacrossanto, é a integridade territorial dos estados. E nesse diálogo deve-se procurar uma solução para a região que respeite as preocupações de segurança de todos os envolvidos”, sugere o ex-ministro brasileiro.
“Mas claro que isso é um roteiro. É muito mais fácil traçar um roteiro do que realizá-lo. Basta ver o caminho da paz no Oriente, em que o mapa já foi traçado mil vezes, mas não se faz”, afere.
Leia mais: Lula sobre conflito entre Rússia e Ucrânia: ‘Não me conformo em ter que falar de guerra’
3ª Guerra Mundial?
Apesar da elevada tensão, Amorim não acredita em uma “3ª Guerra Mundial”. O próprio Putin vem alegando que os ataques são uma “operação especial” para quebrar o sistema bélico ucraniano. De acordo com o ex-chanceler, uma ocupação total ou ainda que parcial da Ucrânia, como acusam os governos ocidentais, “pela lógica não seria de interesse do governo russo”. “Isso aumentaria a fragilidade (da Rússia) e aí sim propiciaria até a ocasião para uma reação não apenas econômica, mas armada contra a Rússia. Mas também não quero dizer que com uma operação especial é justificado o ato (da Rússia).”
O ex-ministro também disse ser difícil o envolvimento de tropas dos Estados Unidos para reforçar as forças ucranianas. Voz mais radical nesse conflito entre Rússia e Ucrânia, o governo Joe Biden viu nessa dualidade um “espaço eleitoral”, na visão de Amorim. Mas o diplomata brasileiro vislumbra como mais provável o fornecimento de armas e até de treinamentos, o que é mais perigoso, conforme ressalta sobre os interesses estadunidenses. “Mas acho que a ênfase será nas sanções econômicas, sobretudo se for como Putin está dizendo, que ele vai ficar ali (nas repúblicas independentes) e pode até negociar.”
Confira análise de Celso Amorim sobre operação militar da Rússia
Celso Amorim comentou ainda sobre a hipótese do envolvimento da Otan no conflito com a Ucrânia para asfixiar a Rússia, hoje principal aliada da China. Segundo ele, a Otan é uma “aliança em busca de um inimigo” que “não tem mais sentido”. “E a Rússia é o que sobra. Porque foi o Estado Islâmico, Saddam Hussein, Afeganistão… Nada disso deu certo e agora querem se manter com a Rússia”.
A injustificativa de existência da Otan torna ainda mais absurdo, nas palavras do ex-ministro, o interesse do Brasil em ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte ainda que seja como associado. “É querer comprar brigas que não são nossas. O Brasil está tão sem rumo que ao mesmo tempo que o presidente brasileiro (Jair Bolsonaro) vai a Moscou e ainda manifesta solidariedade à Rússia. E o ministro da Defesa, que é homem de confiança dele, o general Braga Netto, diz que o Brasil continua sim querendo se associar à Otan”, ironiza Celso Amorim.
Bolsonaro vem se mantendo em silêncio sobre a operação militar da Rússia na Ucrânia. O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o Brasil não está neutro sobre o confronto e que o país “não concorda com invasão do território ucraniano”.
Foto da capa/legenda: “Para encontrar uma solução para isso precisa terminar com essa ação militar imediatamente e recomeçar o diálogo com base nos princípios dos direito internacional”, defende. Foto: Valter Vampanatto/ABr
SEJA UM AMIGO DO JORNAL BRASIL POPULAR
O Jornal Brasil Popular apresenta fatos e acontecimentos da conjuntura brasileira a partir de uma visão baseada nos princípios éticos humanitários, defende as conquistas populares, a democracia, a justiça social, a soberania, o Estado nacional desenvolvido, proprietário de suas riquezas e distribuição de renda a sua população. Busca divulgar a notícia verdadeira, que fortalece a consciência nacional em torno de um projeto de nação independente e soberana. Você pode nos ajudar aqui:
• Banco do Brasil
Agência: 2901-7
Conta corrente: 41129-9
• BRB
Agência: 105
Conta corrente: 105-031566-6 e pelo
• PIX: 23.147.573.0001-48
Associação do Jornal Brasil Popular – CNPJ 23147573.0001-48
E pode seguir, curtir e compartilhar nossas redes aqui:
https://www.instagram.com/jornalbrasilpopular/
️ https://youtube.com/channel/UCc1mRmPhp-4zKKHEZlgrzMg
https://www.facebook.com/jbrasilpopular/
BRASIL POPULAR, um jornal que abraça grandes causas! Do tamanho do Brasil e do nosso povo!
Ajude a propagar as notícias certas => JORNAL BRASIL POPULAR
Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.