Não é novidade para ninguém que as mineradoras se apossaram das serras em vários pontos do estado de Minas Gerais. Na região metropolitana de Belo Horizonte, o cenário é devastador e a cada dia as máquinas devoram porções enormes de montanhas, destruindo matas, nascentes e a biodiversidade, sob os olhos compassivos das autoridades ambientais e de outros órgãos do Município e do Estado.
A Serra do Curral, eleita oficialmente pela população como símbolo de Belo Horizonte em 1997, símbolo da cidade e cartão postal que abriga pelo menos um parque, foi tombada pela Lei Orgânica do Município e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ela é o marco geográfico mais representativo da região metropolitana. Mesmo com tanta proteção foram autorizadas várias licenças de operação de mineradoras na região que dominam economicamente o Estado desmandando, minando a legislação e dominando os conselhos, vem solapando o entorno da cidade e da região. Em Novembro passado foi entregue ao Conselho Estadual do Patrimônio Histórico um pedido de tombamento de todo o complexo da Serra do Curral. Um grupo de integrantes do Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep), contando com 10 dos seus 21 conselheiros divulgou em Março passado uma carta aberta noticiando que vem realizando todos os esforços para o tombamento imediato da Serra do Curral, mas que segue encontrando forte resistência por parte do governo Zema, em suas diversas instâncias, para que esse reconhecimento oficial seja efetivado.
O Ministério Público de MG ajuizou uma ação para impedir as operações da TAMISA (Taquaril Mineração S.A.) que pretende arrancar nada menos que 1,2 bilhão de toneladas de minério (e demais minerais como outro que vem unto da lavra) ao longo de 30 anos. A prefeitura de Nova Lima – administrada por João Marcelo Dieguez (Cidadania), que faz divisa com BH e com a Serra do Curral, se dobrou aos interesses econômicos da mineração e liberou a atividade, mas agora terá que se explicar para o MP.
A mineradora está prevista para se instalar em uma área preservada da Serra do Curral que fica no município de Nova Lima, na divisa com Belo Horizonte e Sabará, que terão suas áreas urbanas afetadas e tem uma população estimada em 40 mil pessoas nos bairros do entorno do Taquaril.
Na próxima sexta-feira, 29 de abril, os conselheiros do COPAM vão votar o Licenciamento Ambiental do Projeto da TAMISA (adminstrada pela COWAN, construtora responsável pelo desabamento do viaduto Guararapes na região Norte de BH, na época da Copa). Ambientalistas e ativistas diversos farão muito barulho para impedir mais essa tragédia nos arredores de Belo Horizonte. Até hoje as vítimas de Mariana e Brumadinho sofrem as consequências econômicas e emocionais do crime ambiental que despejou toneladas incontáveis de rejeitos de minério rompido, destruindo centenas de vidas no estado e trazendo prejuizos sem medidas aos rios e florestas e comunidades, deixando 300 km de destruição pelo caminho.
(*) Por Neide Pacheco
Coordenadora do Movimento SOS Mata do Havaí de Belo Horizonte, Minas Gerais, e ativista de direitos humanos