“O caso de Genivaldo não foi acidente é projeto!” Anuncia o Instagram do Mídia Ninja na manhã deste sábado (28/5). Na postagem, o Mídia Ninja divulga um vídeo de 2016 em que reproduz a aula de Ronaldo Bandeira, policial da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e professor do cursinho Alfacon, um curso preparatório para concursos militares, no qual o policial explica como imobiliza uma pessoa dentro de uma viatura com gás lacrimogêneo e de pimenta.
Na aula de tortura, gesto e fala do professor expressa “o despreparo do sistema de segurança pública atual do Brasil, que usa a violência e a brutalidade”. Confira, a seguir.
Na matéria postada no seu site, o Mídia Ninja explica que trechos de aula gravada de curso preparatório para a Polícia Rodoviária Federal voltaram a viralizar nas redes após o assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, 38 anos, nesta semana, em Umbaúba, Sergipe (SE).
O vídeo, segundo o site, foi gravado em 2016 e mostra um professor do curso rindo e ironizando ao contar que aplicou spray de pimenta no porta-malas de uma viatura para conter um suspeito. Essa foi justamente a forma com que Genivaldo foi assassinado em Sergipe. No vídeo, ele diz:
“Nesse ínterim que a gente ficou lavrando procedimento, ele estava na parte de trás da viatura, ele ainda tentou quebrar o vidro da viatura com chutes. Ficou batendo o tempo todo. O que que o polícia faz? Abre um pouquinho… (deixa eu coisar porque está gravando). Pega o spray de pimenta e taca (faz gestos como se tivesse abrindo o porta-malas e acionando spray). F**a-se. Car***o, é bom pra car***o. A pessoa fica mansinha. Daqui a pouco eu escutei assim: ‘Vou morrer, vou morrer’. Aí, eu fiquei com pena, cara. Eu abri assim. Tortura. E fechei de novo. Enfim, sacanagem. Eu não fiz isso não porque pode ser…”.
O vídeo pode ser visto no Twitter Polícia do Povo a seguir:
https://twitter.com/PoliciadoPovo/status/1530172465015672833
E também pode ser visto no YouTube:
Professor usa tortura como método para descontrair uma aula
Em uma reportagem da BBC News, Ronaldo Bandeira, que lecionava no curso preparatório Alfacon, afirma que o trecho do vídeo em circulação está descontextualizado. Ele diz que era um exemplo “do que o aluno não deve fazer. Para talvez ficar mais elucidativo, para ficar mais claro, a gente utiliza de meios que fiquem mais claros para o aluno”.
Ele atua na PRF há 11 anos, em Santa Catarina, e afirmou ainda que a piada e as risadas ao narrar uma situação de tortura seria uma forma de deixar a aula descontraída. “A gente tenta pegar exemplos elucidativos para o aluno tentar entender. Era uma turma cheia, uma turma presencial, [foi feito] para que a aula ficasse mais descontraída”.
“Era somente um exemplo fictício. Quero deixar isso bem claro. Em nenhum momento eu fiz isso na prática ou corroborei com isso na prática ou me omiti em relação a isso.”
Após o vídeo viralizar na internet, o site do Alfacon colocou um aviso informando que a plataforma de vídeos estaria sendo atualizada e algumas aulas poderiam estar fora do ar. Em nota, o curso reforçou que não compactua com as cenas de tortura e informou que Ronaldo Bandeira não faz parte da equipe de professores do curso desde 2018.
Esta, no entanto, não foi a única polêmica envolvendo os cursos da Alfacon. Em 2019, uma reportagem da Ponte Jornalismo expôs outras aulas para concurso de polícia que ensinavam técnicas de tortura e execução.
PRF retirou aula de direitos humanos dos cursos de formação de novos agentes
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) eliminou a disciplina sobre direitos humanos do curso que forma os novos agentes da corporação.Todos os policiais que ingressam na PRF são obrigados a fazer o CFP (Curso de Formação de Policiais), que tem de 3 a 4 meses de duração.
No programa pedagógico atual foi informado que “a disciplina de Direitos Humanos e Integridade – DHI teve a carga horária suprimida. Os encontros presenciais foram suprimidos, e temáticas abordadas em sala serão trabalhadas de maneira transversal por todas as demais disciplinas”.
Clique aqui e confira a matéria
Confira nota do Alfacon Concursos sobre o caso:
O Alfacon Concursos informa que repudia qualquer tipo de violência, seja física ou psicológica, contra civis. A empresa, tanto por meio da plataforma de cursos como pela editora, acredita que a educação é o motor de transformação social e de estabilidade financeira, promovendo, nos seus 13 anos de existência, acesso de estudantes ao conhecimento técnico necessário para concursos públicos das mais variadas naturezas.
Em que pese o fato de o referido professor não fazer mais parte do curso desde 2018, o Alfacon não compactua com as informações, que não condizem com as políticas e os valores da companhia. Esse discurso tampouco está em alinhamento com os treinamentos pelos quais todos os educadores são submetidos ao ingressarem no corpo docente. O Alfacon preza pela formação dos oficiais, valorizando a carreira policial de forma ética, entendendo a importância desses profissionais para a segurança pública.
Do Mídia Ninja com edição e modificações do Jornal Brasil Popular
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