A cidade de Teixeira de Freitas, no Extremo Sul da Bahia, a 854 km da capital Salvador, foi palco, nesta segunda feira, dia 17 de outubro, da Aula Pública que encerrou a Primeira Caravana Intercultural Indígena.
Organizada pela Associação dos Docentes da UNEB (ADUNEB) e pelo Centro de Estudos e Pesquisas Intercultural da Temática Indígena (CEPITI – Campus da UNEB de Teixeira de Freitas), a expedição teve apoio de 30 entidades. Mais de 50 participantes visitaram comunidades de quatro municípios do Extremo Sul do Estado.
“A Aula Pública será uma oportunidade de socialização das primeiras impressões da experiência vivida durante a Caravana por seus próprios protagonistas “– explica a Professora Maria Geovanda Batista, Coordenadora do CEPITI/UNEB e docente do Colegiado dos Cursos de Licenciatura Intercultural em Educação Escolar Indígena e Pedagogia Intercultural, uma das idealizadoras do evento inédito.
“Assim marcamos o encerramento da programação da I Caravana Intercultural Indígena às TIs Barra Velha e Comexatiba, com a troca de impressões dos participantes, e uma exposição das referências sociais, antropológicas, econômicos e históricas do processo de povoamento regional recente, dentro de um modelo predatório, colonial e racista de desenvolvimento local”, denuncia.
A Caravana, que abraçou os Pataxó no Vale do Cahy, TI (Terra Indígena) Comexatibá e na TI Barra Velha, aos pés do Monte Pascoal, partiu de Salvador na sexta-feira, rumo a Cumuruxatiba, no município do Prado, no sábado dia 15.
A coordenadora geral da Aduneb, Ronalda Barreto, afirma que a proposta da Caravana surgiu a partir do assassinato a tiros do jovem Pataxó de 14 anos, Gustavo Conceição da Silva, em 4 de setembro, em Comexatibá. “A morte de Gustavo foi a gota d’agua em uma situação que já era crítica. A comoção nos moveu a buscar maneiras de expressar nossa indignação. Queremos despertar a atenção da FUNAI, da Justiça Federal e de demais autoridades para que se apure com rapidez, e que sejam punidos exemplarmente os criminosos responsáveis, seus financiadores e mandatários”, conclui a professora.
A Defensoria Pública da União informou, durante a viagem, que tem defendido mais de 30 processos dos indígenas contra os fazendeiros denunciados por agressões, ameaças e assassinatos.
Direitos dos Povos
A grilagem de terras indígenas é um problema histórico na região. Muitas fazendas ocupam os territórios ilegalmente.
Para impedir a retomada ou a permanência dos indígenas, os invasores contratam pistoleiros, corrompem policiais militares, aliciam membros das comunidades.
Promovem noites de ataques às aldeias com armamento pesado, drones e até armas de uso restrito do exército.
Além da violência real, criam clima de terror com ameaças, campanhas de difamação e interdição de passagem nas estradas. E ainda simulam ataques a eles mesmos, usando laranjas para confundir as autoridades e a população.
Após o assassinato do pataxó Gustavo Conceição da Silva, de apenas 14 anos, com um tiro de fuzil, o governo da Bahia criou uma Força Tarefa para tentar conter a violência crescente no Sul e Extremo Sul do Estado.
Muitas entidades, organizações e coletivos de apoio aos indígenas alertaram para a necessidade de medidas urgentes, mas o socorro não chegou a tempo de evitar a perda das vidas do adolescente Gustavo e do jovem Carlone Gonçalves da Silva, 26 anos, cujo corpo foi encontrado esta semana em Porto Seguro, na T.I Barra Velha, após quase um mês de buscas dos familiares.
Oriundo da Aldeia Boca da Mata, Carlone era um jovem do povo Pataxó, casado e com dois filhos pequenos.
Ele sumiu dia 21 de setembro, e a família denunciou que não teve qualquer apoio da polícia local. Seu corpo foi encontrado pelos coletores de sementes da Cooplanjé, uma Cooperativa da Aldeia, entre a terra de Matheus e próximo à Fazenda Brasília.
Não há notícias de qualquer investigação a respeito deste crime.
Já as investigações do assassinato do adolescente indígena Gustavo Conceição resultaram na prisão de 3 policiais militares no último dia 6 de outubro. A Polícia Federal ainda não informou se a “Operação Tupã“ conseguiu identificar os mandantes.
A operação fez buscas e apreensões nas cidades de Teixeira de Freitas, Itamaraju e Porto Seguro.
Participação
A caravana que busca apoiar os povos, aprofundar os conhecimentos e estreitar laços foi composta por representantes de 30 entidades, instituições e organizações da sociedade civil, docentes da Uneb, estudantes, representações de organizações governamentais, não governamentais, políticas, indígenas e outras instituições de ensino superior.
Entre as entidades parceiras que integram a Caravana estão a Uneb, Universidade Federal do Sul da Bahia, ANDES – Sindicato Nacional, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Conselho Nacional de Direitos Humanos, Associação Nacional de Ação Indigenista, Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Bahia, Sindibancários e a Associação Brasileira de Imprensa ABI, representada por dois jornalistas.
A presença dessas entidades, articuladas em rede, almeja reivindicar das autoridades proteção contra a violência e justiça às impunidades daqueles que contratam mercenários e pistoleiros para assassinar os povos originários e tomar posse do que restaram de suas terras.
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