A demora na liberação dos brasileiros retidos na Faixa de Gaza para atravessarem em direção ao Egito já tinha tudo para ser considerada discriminatória diante de tantos outros estrangeiros, de tantas outras nacionalidades, já autorizados pelo governo israelense a deixar aquele território submetido a frequentes bombardeios.
O empenho brasileiro em conseguir um cessar-fogo no Conselho de Segurança da ONU desagradava o governo de Netanyahu e seu embaixador em Brasília já tinha dito que o Brasil não fora suficientemente enfático na condenação ao ataque do Hamas. Além disso, não devia ser coincidência o fato de os estrangeiros liberados serem todos nacionais de países cujo governo aprovava as ações de Netanyahu.
Na sexta-feira o Brasil continuava excluído, embora quisesse apenas a liberação de 34 pessoas, e mais de mil já tivessem cruzado a fronteira. Segundo a lista divulgada pela administração do posto de controle de Rafah, 571 pessoas receberam autorização na sexta-feira para atravessar, na maioria norte-americanos, britânicos, italianos, alemães, mexicanos e indonésios.
Essa represália, que parte do noticiário atribuía mais à burocracia egípcia que a um veto israelense, era mesquinha, de pequeno varejo, da mesma forma que outros episódios, no mundo todo, ligados à guerra.
Por exemplo, a reação coletiva de um público majoritariamense antipalestino em Minneapolis, no estado norte-americano de Minnesota, quando um discurso do Presidente Biden foi interrompido por uma espectadora judia, a Rabina Jessica Rosenberg, que pedia:
— Sr, Presidente, se o senhor se preocupa com o povo judeu, eu, como rabina, peço-lhe que promova um cessar-fogo.
— Acho que precisamos de uma pausa – respondeu Biden – uma pausa vai significar tempo para tirar de lá os prisioneiros.
“Prisioneiros, para Biden, eram os reféns capturados em Israel pelo Hamas, como explicou depois a Casa Branca, não eventuais prisioneiros palestinos em poder das forças israelenses. Eram, portanto, de concordância, não de confronto, os pontos de vista do Presidente e da Rabina Rosenberg. Apesar disso, a maioria do público presente forçou a expulsão da rabina e ela saíu do auditório e escoltada pelos seguranças e cantando “Cessar-fogo já!”
Foi uma reação coletiva emocional e radical, tanto quanto a demora dos brasileiros em Gaza e, também, por exemplo, a da águia americana com a bandeira de Israel e atacando ratos que a deputada Carla Zambelli postou em suas redes sociais.
Nessa guerra de narrativas, da mesma ordem das produzidas pelo gabinete do ódio do bolsonarismo e do lavajatismo no Brasil, o conflito entre o governo Netanyahu e o Hamas serve também de cobertura a outros projetos. Em Minneapolis, nos Estados Unidos, a reação contra a Rabina Rosenberg fazia parte, igualmente, da campanha de Trump contra Biden para voltar à Presidência.
Na sexta-feira, o correspondente Jonathan Freedland, do Guardian, de Londres – que tem apresentado uma das mais equilibradas coberturas de toda a guerra – deu credibilidade a uma notícia que inicialmente parecia fakenews produzida por algum gabinete do ódio antipalestino.
Segundo essa notícia, um alto dirigente do Hamas teria dito que de fato o objetivo do Hamas a longo prazo é a destruição, a extinção de Israel, o que justificaria as ações de Netanhyahu. Isso era tão extremadamente emocional e radical que parecia coisa inventada para prejudicar a causa palestina. A reportagem de Friedland, porém, ofereceu detalhes que não foram desmentidos:
— O dirigente superior do Hamas Ghazi Hamad disse à TV libanesa que sua organização está disposta a repetir o massacre de 7 de outubro, quando homens do Hamas mataram cerca de 1.400 israelenses, na maioria civis… Hamad prometeu que o 7 de outubro foi “apenas a primeira vez e que haverá outras, uma segunda, uma terceira, uma quarta vez”. Perguntado se o Hamas estava inclinado à aniquilação de Israel, ele respondeu: “Sim, naturalmente.”
Para compensar esse destempero do dirigente do Hamas – e claramente para resguardar o equilíbrio do Guardian, o correspondente acrescentou em outro trecho de seu despacho:
— Talvez os homens do Hamas sintam que têm um favor a retribuir a Netanyahu. Afinal ele tinha jogado pelo menos uma vez a favor deles, quando notoriamente declarou numa reunião de seu partido, o Likud, em 2019 – declaração nunca desmentida: “Quem quiser frustrar o estabelecimento de um Estado palestino tem de apoiar o fortalecimento do Hamas e a transferência de dinheiro para o Hamas.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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