Merece aplausos o CONCURSO DE LAPINHAS 1981, promovido entre nós pela Biblioteca Campesina, que por isso a população santa-mariense muito lhe ficará a dever.
A ideia objetiva o resgate das festas tradicionais brasileiras que a civilização, por pragmatismo, fez desaparecer no seu rolo compressor, entre elas as festas do NATAL que nos fazem vir às narinas o perfume delicioso dos presépios de outros tempos, enriquecidos do lirismo dos reisados e dos bailes pastoris, coisas que deitaram raízes profundas nas nossas recordações da meninice.
Impossível falar de “Lapinhas”, “Presepe” ou “Presépio” ou que outro nome tenha sem nos lembrarmos da antiga e muito conhecida ”lapinha” da Rua de Baixo, hoje rua Major José Borba, da casa de Antônio Pereira Façanha.
Conta-se que tendo ocorrido velha rendeira de Santana, seus familiares colocarem lhe o corpo sobre tosco banco, numa varanda apenas coberta. Logo saiu para o cemitério o corpo da rendeira, a varanda, que era coberta por material apodrecido, desabou incontinenti. Com Façanha, no entanto, se deu o contrário, em certo sentido. Impedido pela quase cegueira de armar seu presépio, como de costume dessa tarefa se incumbiu Janjão, seu enteado, que lhe o gosto fizera.
Terminada a montagem da “lapinha” já à tardinha do dia 25 de dezembro de 1905, Janjão pegou o padrasto pelo braço, fê-lo acomodar numa cadeira postada frente ao presépio. Correndo os olhos pela “lapa”, exclamou Façanha emocionado: “Adeus minha lapinha querida; Até o dia do Juízo”. Dos olhos lhe saíram sentidas lagrimas que foram abafadas por profundo suspiro. Façanha morreu ali mesmo.
Naquele dia, quando à noite, à luz das estrelas se fazia a visita às lapinhas da vila, uma novidade daqueles tempos tão caros, o corpo de Antônio Pereira Façanha era velado ao lado do presépio.
A “lapinha de Façanha era a mais resplandecente da vila. Resguardada por um oratório fechado com porta de vidro, no seu interior, reclinado em modesto estofo, fascinava a imagem do MENINO DEUS. Ao lado, Maria, José, o grupo dos Reis Magos. Embelezando o quadro, miniaturas de fino lavor, contendo camelos, bois, vacas, bezerros, ovelhas e o galo, todos com expressão de intraduzível alegria, empolgados com o episódio da manjedoura.
É de se dar crédito à versão segundo a qual o presépio fora introduzido entre nós pelo Pe. João Batista Alves Maia, de quem Façanha foi o continuador.
Anotando Melo de Moraes Filho in “FESTAS E TRADIÇÕES POPULARES BRASILEIRAS” (nota 24), diz Câmara Cascudo: “O presépio é tido como criação de São Francisco de Assis em Grécio (Itália), em 1222, e as freiras do Salvador já o erguiam em Lisboa em 1391”.
O Pe. Fernão Cardim conta que os jesuítas trouxeram o presépio ao Rio de Janeiro em 1583 e anota: “Tivemos pelo Natal um devoto presépio na povoação, aonde algumas vezes nos ajuntávamos com boa e devota música, e o irmão Barnabé [Telo] nos alegrava com seu berimbau.” [TRATADO DA TERRA E GENTE DO BRASIL).
A Campanha desenvolvida pela BIBLIOTECA CAMPESINA vai ter o mérito de ferir a lira sentimental e atiçarmos ao dessepultamento desta e também de outras tradições populares que afinal de contas foram o encanto de nossa infância.
[Publicado originalmente no jornal O POSSEIRO nº 23 dezembro/1981-janeiro/1982 pág. 10]
Por Manuel Cruz, cedido à coluna Travessia, Revoada, Didivera, de Joaquim Lisboa Neto, no Jornal Brasil Popular.
(*) Joaquim Lisboa Neto, colunista do Jornal Brasil Popular e coordenador da Casa da Cultura Antônio Lisboa de Morais/Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.
SEJA UM AMIGO DO JORNAL BRASIL POPULAR
O Jornal Brasil Popular apresenta fatos e acontecimentos da conjuntura brasileira a partir de uma visão baseada nos princípios éticos humanitários, defende as conquistas populares, a democracia, a justiça social, a soberania, o Estado nacional desenvolvido, proprietário de suas riquezas e distribuição de renda a sua população. Busca divulgar a notícia verdadeira, que fortalece a consciência nacional em torno de um projeto de nação independente e soberana. Você pode nos ajudar aqui:
• Banco do Brasil
Agência: 2901-7
Conta corrente: 41129-9
• BRB
Agência: 105
Conta corrente: 105-031566-6 e pelo
• PIX: 23.147.573.0001-48
Associação do Jornal Brasil Popular – CNPJ 23147573.0001-48
E pode seguir, curtir e compartilhar nossas redes aqui:
https://www.instagram.com/jornalbrasilpopular/
️ https://youtube.com/channel/UCc1mRmPhp-4zKKHEZlgrzMg
https://www.facebook.com/jbrasilpopular/
https://www.brasilpopular.com/
BRASIL POPULAR, um jornal que abraça grandes causas! Do tamanho do Brasil e do nosso povo!
Ajude a propagar as notícias certas => JORNAL BRASIL POPULAR
Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.