Pode ter sido apenas coincidência, mas foi poucos dias antes do aniversário do golpe derrotado de um ano atrás que o Ministério Público Federal apresentou denúncia crime formal contra o primeiro acusado de financiar esse golpe – pelo qual já foram condenados bom número de participantes das invasões em Brasilia, mas ainda nenhum dos financiadores e autores intelectuais.
Estes, agindo nas sombras, eram e continuam sendo muito mais perigosos que os milhares de fanáticos – na maioria jovens e homens – arregimentados em vários Estados, quase sempre do sul e do centro oeste, para uma suposta manifestação pacífica em Brasília contra o governo Lula, que teria sido eleito fraudulentamente.
Os presos em flagrante no Congresso, no Supremo e no Palácio do Planalto sabiam pelo menos quem os convidara para a excursão a Brasília e a partir daí as investigações chegaram primeiro a um empresário de Londrina, no Paraná, Pedro Luís Kuzinski, que não teve o menor cuidado de apagar as próprias pegadas ao fretar quatro ônibus em nome de uma de suas empresas.
Aliás, ele já tinha sido muito descuidado antes, quando declarou ao imposto de renda que em 2011 e 2012 uma de suas empresas teve receitas de 2 milhões de reais, enquanto a Receita Federal descobriu que os livros contábeis da empresa registravam 14,5 milhões em notas fiscais. Condenado e com sentença transitada em julgado, ele cumpriu pena de dois anos de prisão em regime aberto, depois convertida em prestação de serviços à comunidade e multa. A sonegação apurada no processo chegou a mais de 1,2 milhão em imposto de renda e outros tributos.
Esse cavalheiro de tão expressiva folha de antecedentes criminais foi considerado um homem de bem, em condições de ser recrutado para a missão de liderar centenas de conterrâneos na expedição a Brasília. Agora, porém, se sabe que ele despejou em Brasília centenas de arruaceiros que participaram das invasões.
Na fase policial das investigações, sua advogada declarou que Kucinski apenas aceitou participar de uma ação entre amigos destinada a arrecadar o dinheiro necessário para fretarem os quatro ônibus. Na fase judicial que começa com a denúncia-crime, ele vai ser perguntado sobre quem são esses amigos, com quanto cada um entrou, se os viajantes receberam alimentos ou dinheiro na viagem e quem gerenciou toda a operação.
Ele pode fazer como Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, optar pela delação premiada e entregar alguém mais de cima. A mesma coisa pode acontecer com outros financiadores da operação e com as empresas de ônibus a que recorreram e uma teia de informações vai acabar levando a uma pergunta: e Bolsonaro? Refugiado na Flórida naqueles dias, ele não teve nada a ver com o que acontecia e nem menos sabia de alguma coisa?
Os desdobramentos dessa primeira denúncia-crime, que logo deve ser seguida de outras, ainda não estavam ao alcance da maior parte da opinião pública quando surgiu a entrevista do ministro Alexandre de Morais ao Globo, sobre os planos dos golpistas e o que seria feito com ele: desde a simples prisão até o enforcamento na Praça dos Três Poderes, diante do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo.
A ideia do enforcamento vinha de outro janeiro e de fora do Brasil, vinha do 6 de janeiro de 2021, quando a multidão de partidários de Trump invadiu o Capitólio de Washington, sede do Congresso dos Estados Unidos, para impedir a contagem de votos do colégio eleitoral e assim evitar a proclamação da vitória do Presidente Biden. A sessão do Senado era presidida pelo então Vice-presidente Mike Pence e logo apareceu na rua, diante do Capitólio, a tosca e improvisada armação de uma forca, com o respectivo laço , e a ameaça: “Enforquem Pence”
A forca é uma imagem comum na cultura dos Estados Unidos e foi usada em muitos Estados, tanto para a execução de condenados à morte pelos tribunais como nos linchamentos de organizações como a Ku Klux Klan – além de centenas ou até milhares de filmes.
Os Estados Unidos, em plena campanha presidencial, estão divididíssimos. De um lado, o governo oficial, de Biden, de outro o poder conjugado dos governadores de Estado republicanos, aliados de Trump, e a maioria da Suprema Corte, também de extrema direita – formando uma espécie de governo paralelo. Deste é que deve ter vindo a ideia da forca para o ministro Morais. Mas só a ideia?
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor, é colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna semanal “De olho no mundo”. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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