Era de se esperar o ocorrido na tarde-noite da sexta no Congresso. À ministra de Segurança Patricia Bullrich lhe incomoda muitíssimo que a gente do povo não cumpra suas ordenanças autoritárias. E quando ela diz: “não quero gente na rua, que ninguém baixe da calçada”, isso se converte em ordem para suas subordinadas de uniforme. Enredada em sua tremenda soberba, a “sargenta” Bullrich deve pensar para seus botões que todo aquele que ponha seus pés na rua é um ou uma “inimig@ a abater”. Não se trata da “gente de bem” para a qual governa o presidente Javier Milei, senão que de “subversivos perigosos”.
Por isso, quando nesta sexta-feira a agressiva e armada polícia partiu pra cima das e dos aposentad@s que, pacificamente, estavam cantando palavras de ordem no passeio e os atacou com gás de pimenta, muitos e muitas que até esse momento haviam cumprido com o “protocolo anti protestos”, se lançaram às ruas gritando “com os velhos e as velhas, não”, e “fora polícia, fora”, se referindo a esses covardes que por um salário golpeiam a quem se lhe afronte. As velhinhas e os velhinhos, esses “Aposentados insurgentes”, podem ser nossas mães ou avós, e ali estavam dando o exemplo frente a muitos que deveriam estar se mobilizando também, porém que seguem especulando ou tricotando em seus gabinetes de “dirigentes”.
Essas aposentadas e esses aposentados que percebem uma miséria foram atacad@s por protestar e, como podiam, se esfregavam os olhos ou vomitavam por causa dos efeitos do gás de pimenta, enquanto desde algum gabinete de seu ministério Patricia Bullrich Luro Pueyrredón pensaria que esse é o corretivo que há que aplicar para que esses “velhos de merda” aprendam que há que respeitar a autoridade.
Parágrafo à parte ocupa esse gás que te deixa cego durante horas e te queima a pele gerando dores agudas. É o mesmo que a ministra adquiriu para este mesmo ministério que dirigia na época de Macri, quando fez uma “viagem de negócios” a seu amado “Israel”. Ali investiu em armamento de todo tipo e até se pôs o uniforme do exército sionista para acompanhar a seus pares genocidas em treinamentos nos territórios roubados a Palestina.
Imbuída dos ensinamentos que recebeu em Telavive, agora a ministra se dedica a combater aposentados, trabalhadores, estudantes e também grupos de vizinhos indignados por causa das políticas destrutivas da família Milei. Por isso, nesta sexta-feira, quando o povo se lançou às ruas, a sargenta ordenou a “operação castigo”. Foi o justo momento em que começaram a avançar violentamente policiais, guardas, pessoas da prefeitura e até polícia portuária, centenas de fardados e não fardados que à ministra lhe agrada expor, espetacularizando a repressão. As motos, com os integrantes da Federal desejosos de sangue, começaram a passear por todos os lados, algumas vezes pela rua e outras pela vereda, enquanto o “fuzileiro” que vai sentado no assento traseiro descarregava balaços de borracha nos corpos dos jovens, enquanto a guarda de infantaria se arremetia contra os fotógrafos, cinegrafistas e cronistas, que perfeitamente identificados cobriam os fatos.
A ministra não quer imagens de suas selvagerias e os esbirros cumprem seu mandato de pulverizá-los. Tolerância zero com a imprensa, como em épocas do genocida Videla.
Finalmente, vieram as detenções, primeiro dos jornalistas, na sequência, a qualquer [pessoa] com cara de haver estado na concentração e, por último, apelaram aos bofetões. Assim caíram comunicadores e rapazes que só transitavam por ali na hora em que a ministra impunha seu próprio estado de sítio.
Numerosos detidos foram o resultado dessas “operações” típicas de qualquer governo autoritário. Alguns foram levados para delegacias e em horas da madrugada sacaram-nos do recinto para levá-los a outra dependência muito distante do centro, porém antes passearam com eles por quase três horas, provocando incerteza entre os familiares e companheiros que haviam se aproximado dos ditos centros policiais para fazer a “luva”. Três horas onde estiveram literalmente desaparecidos [o mesmo se passou dias atrás com outras três garotas detidas horas antes]. Esses “passeios” buscam amedrontar e são similares aos que essas mesmas forças de [in]segurança praticavam nos anos 70 e que, se sabe, deixaram um saldo de 30 mil vítimas.
O importante é que, apesar de todas essas selvagerias repressivas, pouco a pouco está nascendo uma nova resistência, conduzida pela militância, porém também pela gente de a pé, que já não pode pagar os aumentos de todos os artigos de primeira necessidade, ou pelos despedidos, ou pelas aposentadas e pelos aposentados, ou as famílias dos bairros humildes que literalmente morrem de fome. Todos eles e todas elas estão saindo às ruas e lutam. Se organizam em assembleias, discutem e batalham pelos direitos que esse “grupo de tarefas” que assaltou a Casa Rosada lhes quer arrebatar. “É questão de autodefesa”, disse nesta sexta-feira uma mulher que rondava os 80 anos, frente a um policial grandalhão, enquanto lhe mostrava um cartaz pintado por ela mesma onde se lia: “Estou aqui, lutando, não por mim e sim pelo futuro de meus netos”. Isso é o que irrita aos Milei e as Bullrich. Que em pequenos gestos começam a vislumbrar a noite de sua derrocada e que isso ocorrerá quando menos se imaginem, apesar dos gases [lacrimogêneos], das balas, dos presos e das presas, e de toda a repressão que se lhes ocorra aplicar. Não poderão com este povo, e sabem disso.
(*) Por Carlos Aznarez, jornalista argentino de imprensa escrita e digital, rádio e TV. Escritor de vários livros sobre política internacional. Diretor do jornal Resumo Latinoamericano. Coordenador das Cátedras Bolivarianas, espaço de reflexão e debate sobre a América Latina e o Terceiro Mundo.
Tradução > Joaquim Lisboa Neto
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(*) Por Joaquim Lisboa Neto, colunista do Jornal Brasil Popular, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.