O mais importante político judeu dos Estados Unidos, Chuck Schumer, senador por Nova York e líder da maioria democrata no Senado (e o primeiro judeu eleito para esse posto), que antes era linha dura na defesa de Israel e chegou a ser partidário e até amigo pessoal de Netanyahu, fez um duro discurso pedindo a realização imediata de eleições em Israel e acusando Netanyahu de se ter “perdido no caminho”, ao tornar sua sobrevivência política mais importante que “os melhores interesses de Israel” e submeter Israel ao risco de converter-se num Estado pária com o bombardeamento de Gaza e a crise humanitária cada vez pior que esse bombardeamento causa.
Para deixar claro que continua comprometido com os melhores interesses de Israel, Schumer está trabalhando com muito esforço para conseguir a aprovação no Senado de um grande pacote de assistência militar a Israel.
Dias antes o Presidente Biden tinha feito uma crítica bem tímida, quase pedindo desculpas, ao dizer que Netanyahu mais atrapalha que ajuda. E passando das palavras aos atos determinou a instalação de um embarcadouro provisório no litoral da Faixa de Gaza para o desembarque de ajuda humanitária a sua faminta população palestina.
Tanta timidez, rompida agora pelo discurso de Schumer, é claramente um sinal de como está funcionando bem a chantagem de Netanyahu sobre o governo Biden, ameaçado pela onda reacionária que avança para levar Donald Trump de volta ao poder.
Em resposta ao discurso de Schumer, o partido israelense Likud, de Netanyahu, declarou que Israel não é uma república de bananas e que o senador não devia se meter nessa discussão. Resposta previsível, diante da previsível repercussão que o discurso pode ter, não só entre eleitores judeus como em todo o eleitorado conservador dos Estados Unidos.
Os eleitores judeus dos Estados Unidos têm sido tão vítimas da chantagem de Netanyahu quanto o Presidente Biden: se não aceitarem e defenderem tudo o que Netanyahu faz em Gaza e na Cisjordânia ocupada é por serem defensores da destruição de Israel pelo Hamas – o mesmo Hamas para o qual há algum tempo Netanyahu pedia financiamento por entender que a existência dele era a melhor barreira contra a criação do Estado palestino. A mesma chantagem está operando sobre os eleitores conservadores não judeus dos Estados Unidos. E o pior é que pode decidir em favor de Trump a eleição presidencial de novembro.
O discurso de Schumer destinou-se diretamente ao eleitorado judeu dos Estados Unidos, mas também à parcela dos eleitores conservadores não judeus que estão sendo conduzidos a votar em Trump. Se vai funcionar é outra questão.
ENQUANTO ISSO, NO BRASIL…
… já existem, segundo o respeitadíssimo jurista Lenio Streck, provas mais que suficientes para Bolsonaro ser processado criminalmente e condenado pelas tentativas de golpe de Estado para impedir a eleição e a posse de Lula e
permanecer no poder depois do fim de seu mandato.
E o Procurador Geral da República, Paulo Gonet, está acelerando as investigações sobre as ações e omissões criminosas de Bolsonaro no período pior da Covid – caso, por exemplo, da proibição da compra de vacinas. Para Bolsonaro era uma gripezinha de nada, que causaria poucas mortes. Foram 700 mil.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor, é colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna semanal “De olho no mundo”. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.