Brasil deve aproveitar a última janela antes da transição energética para fortalecer parque industrial do petróleo
A história é a mestra da vida, e nela a sociedade deve buscar os ensinamentos capazes de construir o seu futuro. Outra observação válida para interpretar o tempo presente é que toda periferia busca um centro, e a história mostra que sem uma visão estratégica e um projeto nacional nenhum país chega a lugar algum.
Países como Alemanha, Itália e Japão são exemplos de retardatários que atingiram seus intentos ao estabelecerem como seus objetivos ter um Estado nacional moderno, uma burocracia pública capaz e progressista e uma sociedade industrial.
Moeda conversível internacionalmente, poder militar, produção industrial sofisticada e difusão tecnológica são os elementos cruciais para qualquer país avançar na hierarquia do sistema capitalista. Nosso país, pela demografia e extensão territorial, pode chegar lá!
O Brasil é provido de recursos naturais, de minérios, solo agrícola, água doce e fontes energéticas, notadamente petróleo, mas, mesmo assim, ainda se mantém periférico, ou seja, possui grande potencial econômico e pouco poder econômico e político. Contribuir com a mudança qualitativa de nossa inserção na divisão internacional do trabalho, como vigora na atualidade, parece um imperativo do tempo atual.
Em escala planetária, o Brasil lidera a exportação líquida de alimentos seguido pela Argentina. A agropecuária contribui com 7% no PIB, e os nossos produtos alimentares respondem por 40% das exportações, gerando divisas em moeda forte.
Outro fato relevante. Pelos dados do Governo Federal, o petróleo bruto foi o produto mais importante na exportação de bens no primeiro bimestre do ano de 2024.
Aí começa nossa contradição. Ou seja, o modelo econômico atual da especialização rentista/especulativa e da reprimarizaçao da pauta exportadora gera perda de vigor econômico e, simplesmente, nos traz de volta a recordação do Estado mínimo liberal da República Velha (1889-1930), quando o crescimento médio da economia era de meros 0,7% ao ano.
O modelo oligárquico-agrarista daquela época vigorava num país de população morando no campo. Entretanto, somos hoje uma sociedade urbana com 101 milhões de trabalhadores ocupados, em plena era digital/informacional.
Nesse contexto, aproveitar a última janela, antes da transição energética exigida pela crise ambiental, para fortalecer nosso parque industrial de derivados de óleo e gás parece um tema da ordem do dia. Mas isso exige vultuosos investimentos em plataformas, navios, refinarias, prospecção e produção do ouro negro.
Vejam um exemplo disponível no último balanço da empresa: a companhia consegue extrair petróleo na camada pré-sal por US$ 3,78 por barril e no pós-sal profundo e ultraprofundo a US$ 12,12 por barril. Salve a engenharia nacional.
Contudo, segundo a Aepet, a redução dos investimentos da petrolífera em autossuficiência energética foi o principal fator que possibilitou o pagamento de dividendos altos, e claramente insustentáveis, pela nossa estatal do petróleo, nos anos de 2021, 2022 e 2023, Não custa lembrar que o sócio maior é o governo brasileiro – representando 203 milhões de habitantes. Somente no ano de 2023, a alta direção da empresa concordou em pagar quase 3 vezes mais em dividendos aos acionistas em relação ao que investiu em expansão da prospecção e produção de petróleo e gás.
Convenhamos, caros leitores do Monitor Mercantil, essa rentável sociedade de economia mista, além de suas responsabilidades empresariais e microeconômicas inegáveis, possui também a missão de exercer papel estratégico na restruturação industrial do país e na garantia de combustíveis a preços acessíveis à população.
O padrão de especialização produtiva de uma nação é fator chave para inserir os seus trabalhadores em setores tecnologicamente sofisticados, de alta produtividade e bons salários. É isso que importa na trajetória de longo prazo do desenvolvimento das suas forças produtivas, quando buscamos melhorar nossa posição no ranking das nações.
(*) Por Ranulfo Vidigal, economista.