Nossa cidade, Santa Maria, creio ser a que conta com a maior quantidade de butecos neste Vale do Rio Corrente, universo de 11 municípios, abrangendo de Brejolândia a Cocos, este se limitando com Montalvânia, Minas.
Escolhi, para ilustrar a assertiva acima, uma região localizada no topo da antigamente chamada Rua de Baixo, que se inicia, no sentido Sambaíba, na área pré caixas d’água e Econômica e vai penetrando até atingir o início do referido bairro.
Comecemos a viagem etílica pelo Bar da Vânia, uma morena muito da simpática.
Seguindo à direita, está o Órbita, d@ qual tou fora, pois lá só tem fast-food, e eu me deleito com slow.
Na sequência desponta a Sabor do Nordeste, lanchonete produtora do nutritivo “escondidinho” mais desejado da nossa aldeia. O dono da SdN é o meu grande amigo João Carlos. E nesse mesmo espaço tem todo domingo a mais deliciosa feijoada santa-mariense feita pela minha estimada amiga Dona Clara, quem há décadas vem pilotando com maestria o seu tradicional fogão a lenha. A partir das 5 da matina o cliente pode chegar que o expediente já ta rolando [que não é laranjeira].
Seguindo em frente, adentramos no logradouro contíguo à praça Argemiro Filardi.
Logo na esquina está o Peixe, bar recém instalado cujo dono recebeu, dado pelos gaiatos, o apelido homônimo pelo fato de explorar o ramo da venda de frutos do mar.
E como não poderia faltar uma pitada da cultura árabe nessa esbórnia, a 15 metros do buteco anterior, baixamos no Espaço do Kibe, terreiro comandado por Samuel Serpa, quem, por minha sugestão, acatou a ideia de inovar enxertando quiabo e castanha de pequi no petisco, alquimia para quem tem gosto, por assim dizer, anti convencional.
Avançando pela esquerda, chegamos ao Altas Horas comandado pelo casal Flávia-Gilson. Dela fiz perfil há uns anos, levado ao ar pela rádio Sonho de Deus. Discorri, além das delícias gastronômicas produzidas pela dona, acerca da garra e do heroísmo dessa mulher que, sem perder a ternura, comanda o bar-restaurante com a necessária dureza. O Altas… tá situado exatamente embaixo da kitnete onde me entoco. Que palpite feliz, mano véi…
Seguindo para a extrema esquerda, desembocamos no Quintal do Erasmo. Esse espaço é um oásis. Convenhamos: degustar uma breja seguida de cervas à sombra de uma mangueira ouvindo música de alto nível é privilégio. O proprietário é bamba na arte culinária. Por exemplo, ele confecciona uma língua ao molho madeira que es muy exquisito…
Zarpando, atravessamos Ufob e cemitério, ilhas de incelência.
Na sequência, aterrissando na Espetaria Ideal, aonde sai espetinho até de carne moída e na qual se pode sorver uma deliciosa Bohemia. Ambiente frenético, ali a paisagem humana feminina causa frisson inclusive nos vizinhos que estão comendo capim pela raiz. Fissura hermano!
E nossa jornada, como direi?, baquiana-bacânica se encerra no Bira Bar, o mais antigo da zona, na boca topográfica da Sambaíba, o único na cidade que funciona “apenas” de 1º de janeiro a 31 de dezembro, ininterruptamente. Lá marco presença diariamente em sessões vespertinas nos dias úteis. Dizem os boquirrotos que se alguém quiser me encontrar é só armar a arapuca nesse bar.
Os paus-d’água, pés-inchados, biriteiros, enfim, boêmios degustadores da famosa canjebrina rendem suas inebriantes homenagens a esses templos cujo patrono atende pelo nome de Baco, o deus.
Biblioteca Campesina, 30 março 2024
Complemento:
PS: O Altas… tá situado exatamente embaixo da kitnete onde me entoco. E, por isso mesmo, condenado — como no mito grego — a carregar o mundo nas costas, especialmente quando ele gira ainda mais rápido, motivado pela minhas andanças etílicas nas redondezas. Que palpite feliz, mano véi…
(*) Joaquim Lisboa Neto, colunista do Jornal Brasil Popular, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.