O presidente Lula disse que vai ao México onde a vitória de Lopez Obrador é exemplo para o Brasil na sua determinação desenvolvimentista, mas contida pelo neoliberalismo do Banco Central que não deixa as forças produtivas ganharem força e preponderância para incrementar a industrialização nacional.
Lopez Obrador tocou política econômica com relativo poder independente para praticar política monetária independente e soberana, com prática de juros favoráveis aos setores do capitalismo produtivo.
Para enfrentar a banca, propensa ao rentismo especulativo no processo de financeirização econômica global, predisposta a cobrança radical por ajuste fiscal neoliberal, Obrador abriu diálogo amplo diário com a população, consagrando maior meio de comunicação social latino-americana entre governante e população, criando uma só energia progressista, politicamente.
Por meio das famosas “manhaneiras”, manhãs dedicadas à comunicação comunitária presidencial, Lopez Obrador criou resistência popular ao discurso neoliberal de cortar programas sociais no orçamento público para pagar juros da dívida pública mexicana, em proporção maior que o interesse social.
Não se submeteu, graças ao apoio popular e ao diálogo com as massas, ao neoliberalismo financeiro radical, como o vigente no Brasil por meio do Banco Central Independente.
Por conta dessa estratégia de comunicação política sistemática diária e envolvente com a população, Obrador pode, agora, na eleição presidencial, formar maioria no parlamento para garantir governabilidade tranquila a sua sucessora presidente Claudia Sheinbaum, com cerca de 60% dos votos.
O recado da nova presidência, que recebe de herança de Obrador 80% de aprovação popular, é fortalecer políticas sociais para cuidar dos mais pobres, conforme seu discurso da vitória.
A política consagrada nas urnas pelo partido Morena, de esquerda moderada, associado ao partido Trabalhista, de esquerda marxista, a constituir-se perto de 50% do parlamento, representou barreira à financeirização especulativa da dívida pública mexicana.
O México, na era Lopez Obrador, escapuliu do que acontece no Brasil, em que metade do orçamento geral da União, mais de R$ 700 bilhões, destina-se aos rentistas especuladores, enquanto a economia real sofre as consequências destrutivas do rentismo especulativo.
Não sobra recursos, como reclamou o presidente Lula, para fazer políticas sociais nem atender demandas da educação e da saúde, bem como a infraestrutura nacional.
Obrador superou as dificuldades e deixa Congresso sob comando do Executivo, com maioria parlamentar.
Isso, porém, somente foi possível porque o presidente politizou com as massas, nos seus programas sociais diários, a questão da soberania econômica mexicana, extinta pelos neoliberais nas administrações anteriores, no México, graças aos partidos mexicanos subalternos às ordens de Washington.
NOVA CORRELAÇÃO DE FORÇAS
As renovações políticas e econômicas estarão relativamente encaminhadas a configurar nova correlações de forças no parlamento mexicano, favoráveis às aprovações de medidas sociais e populares, de avanço do direito político das massas diante da burguesia financeira.
Os banqueiros mexicanos, sabendo da nova correlação de forças dadas pelas urnas, adiantaram, no jornal conservador Excelsior, em dizer que perfilam ao lado da nova presidente de esquerda para promover programas desenvolvimentistas.
Ou seja, a bancocracia que domina no Brasil, mandando e desmandando no Banco Central, fixando juros Selic especulativos, impedindo desenvolvimento econômico sustentável, não teria vez no México de Obrador e, agora, de Claudia Sheinbaum.
A vitória eleitoral de Obrador, portanto, é a vitória da resistência do Estado nacional aos ataques da banca para extrair renda financeira da população no processo de financeirização econômica bancocrática.
A esquerda mexicana construiu uma presidência da República ancorada agora em maioria parlamentar porque priorizou o programa antineoliberal, capaz de assegurar salário-mínimo valorizado, fortalecimento das políticas sociais e melhor distribuição da renda, com programas de investimentos sustentados por juros anti-especulação.
Uma situação diferenciada em comparação ao Brasil, onde governa presidente da República que está de pés e mãos amarradas pelo rentismo, formatado, mecanicistamente, por um congresso neoliberal parlamentarista de direita e ultradireita.
O fantasma de Lula é o impeachment que a oposição ameaça buscando formalidades para justificar pedido de requerimento parlamentar para afastar o presidente, carente de correlação de forças no parlamentarismo neoliberal.
A vitória mexicana, porém, é alento para o governo Lula forçar mudanças na política monetária comandada pelo BC Independente, serviçal do rentismo e do antidesenvolvimento, para que possa, no tempo de mandato que lhe resta, o programa desenvolvimentista que vendeu em campanha eleitoral.
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.