A “democracia estadunidense” nunca foi, verdadeiramente, uma democracia, no sentido da participação popular. Além de ser estruturada de diferentes modos, conforme os estados da federação, prevalece o dinheiro, o que não surpreende no plutocrático Estados Unidos da América (EUA). Quem obtém mais “financiamento” para campanha é, quase senão sempre, o vencedor.
Porém a moda é o “fake”, o ilusório, a farsa. O neoliberalismo introduziu as falácias como forma de comunicação e gestão. Não que as relações anteriores a 1980 fossem mais honestas, porém elas não tinham o incentivo da ilusão, dos engodos trazidos pelo neoliberalismo. Daí o crescimento fora de qualquer parâmetro da corrupção após 1990.
No Brasil, Bolsonaro levou a única facada na barriga que se tem notícia de não ter saído sangue, tão notável façanha teve a glória de denominação consagradora: “fakeada”.
No mesmo caminho, Donald Trump recebe na campanha na Pensilvânia, diante de até pequena assistência, um “fake” tiro.
Na sequência mostrada nas redes sociais do que seria o tiro na orelha, vê-se, claramente, Trump se abaixando sem qualquer sangue na orelha e após alguns poucos minutos, surgindo com sangue na orelha, além do rosto e da mão.
Muitas outras evidências e situações caracterizam no mínimo suspeitas de falso atentado.
A começar pelo assassinato do possível atirador Thomas Matthew Crooks, jovem de 20 anos, que usou um fuzil do pai, legalmente adquirido. Logo tratou-se de identificá-lo como republicano, certamente para evitar inquérito dos democratas e investigações de etnias ou políticas consideradas hostis pelo governo estadunidense.
Também para consolidar a imagem de Crooks como terrorista amador, foram encontrados “engenhos explosivos” no seu carro, estacionado perto do local do comício de Trump.
Algumas pessoas viram Thomas Crooks antes do tiro e, segundo a mídia estadunidense, avisaram à polícia da atitude suspeita daquele participante do evento, o que foi ignorado pelo serviço secreto.
Mas, tal qual ocorreu com Bolsonaro, a percepção geral, nos EUA e no Brasil, é que Trump está eleito. A estratégia do tiro funcionou.
Como as mortes, danos colaterais, ocorridas foram poucas e se justificam pela “tentativa de assassinato”, os desdobramentos não são esperados.
Donald Trump já obteve um ganho concreto. A agência de notícia Sputnik divulgou que “um tribunal da Flórida” encerrou caso contra Trump, pela “posse ilegal de documentos confidenciais”, 24 horas após o atentado.
Biden também já colheu benefícios. A onda de crítica entre democratas arrefeceu, bem como as preocupações sobre sua saúde. Um estrategista do Partido Democrata teria dito: “esse evento está ofuscando até o sol”, a respeito do atentado.
No entanto, nada disso melhora a situação dos EUA. Sua força militar, pelos próprios profissionais estadunidenses, não tem condição de enfrentar a da Rússia. Sua moeda perde poder, sendo a decisão da Arábia Saudita, vender petróleo em outras moedas, verdadeiro desastre para os acordos com Nixon de 1971. Sem forças armadas e sem moeda forte, o que será dos EUA no próximo governo?
(*) Por Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.