Para aderir ao Cinturão e Rota, Brasil não pode reproduzir dependência que caracteriza relações com EUA e Europa
O Brasil recebe quase metade de todo o investimento externo direto (IED) feito pela China na América Latina. O México recebeu só 3% no mesmo período. Sendo um parceiro econômico prioritário para os chineses, crescem os apelos para o Brasil aderir à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, sigla em inglês). Recentemente, o presidente Lula afirmou que está disposto a discutir o Cinturão e Rota com a China. “Quero saber onde entramos e em que posição vamos jogar; queremos ser titulares”, disse Lula. O que isso pode significar?
“O país deve agir de forma mais ativa nas negociações junto à China para que possa aderir à iniciativa da Nova Rota da Seda [BRI] com ganhos no que se refere a investimentos chineses, particularmente em áreas que envolvam inteligência artificial, aeronaves brasileiras e construção de ferrovias, não só para ligar o país ao Pacífico, mas também para dinamizar a infraestrutura ferroviária no Brasil, que ainda é muito pequena e não atende à capacidade de produção que o Brasil possui na área agrícola, por exemplo”, defendeu Alexandre Coelho, professor de relações internacionais na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e coordenador do Núcleo de Geopolítica da Observa China, em entrevista à agência russa Sputnik.
Na mesma entrevista, Isabela Nogueira, professora-adjunta do Instituto de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional (PEPI) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que o interesse em integrar o Brasil ao Cinturão e Rota parte mais da China do que do Brasil. Assim como Coelho, Nogueira defende uma boa negociação: “Precisa ter acordos que incluam transferência de tecnologia desses investimentos que estão sendo feitos, adensamento das cadeias produtivas brasileiras, participação de empresas brasileiras no fornecimento de peças, componentes, partes dessa indústria, que haja uma nacionalização de parte das cadeias que estão sendo trazidas para cá, seja de painéis solares, seja de carros elétricos, seja de trem de alta velocidade.”
Para a professora, é importante para que o Brasil “não fique em uma posição subalterna, de mero montador de peças, mero chão de fábrica”. Ela afirma que essa barganha é crucial para que o Brasil não reproduza a dependência que caracterizou os investimentos feitos pelos EUA e pela Europa, que colocaram o país em posição subalterna.
Coelho vê como principal obstáculo a atual conjuntura geopolítica, pois a adesão ao Cinturão e Rota pode “criar desafios diplomáticos, especialmente com os EUA e países europeus”. O professor afirma que o Brasil terá o importante desafio de manter uma política externa equilibrada, “aproveitando a cooperação com múltiplos parceiros para maximizar seus benefícios econômicos sem se alinhar exclusivamente a um bloco”.