Em uma das minhas viagens, fui à Ilha de Paquetá/ RJ, um passeio bucólico, de barca em menos de uma hora faz sai de uma cidade tumultuada e agitada para um paraíso sem carros e agitação. Tudo lá é diferente, inclusive os passeios, que são feitos em triciclos elétricos, adaptados bem ao estilo Brasileiro. Nas andanças, visitei um cemitério de passarinho. É isso! Um cemitério de passarinhos…
Na sociedade atual, parte da população busca prazer no viver feliz, no equilíbrio, na busca pela felicidade e pela paz. Ou seja, tranquilidade e baixa entropia. Outra parcela, está preocupada apenas com lucro, com o que pode dar retorno ou tenha alguma utilidade, concentrada no poder e para o poder. Ou seja, neste caso a palavra-chave é utilidade.
Prezado leitor, permita-me ater somente ao equilíbrio e a utilidade, até para preservar este escriba, que tem limitações.
Por falar em limitações, lembro do quão limitados vivemos em decorrência dos desastres ambientais que estremecem o mundo. Há meses, assistimos atônitos a uma tempestade devastadora nos Estados Unidos com vento de 150 km/h, a queda de barreira em Papua Nova Guiné, no Rio Grande do Sul, aqui no nosso Brasil, vimos comunidades inteiras submergirem, enfrentando a chuva e a falta de escoamento das águas que teimaram em subir; lá no RS cidades precisam ser refeitas e boa parte da população reiniciar suas vidas, dos escombros.
Hoje é a seca que está afetando o Brasil de forma assustadora, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), 404 municípios registram seca extrema, 1.361 seca severa e em 1.595 tem pelo menos 40% da área agricultável afetada pela seca. Os rios na Amazônia estão com níveis mais baixos do que ano passado, como é o caso do rio Madeira/RO e Rio Acre/AC. A qualidade do ar em cidades da Amazônia registra índices alarmantes.
Aqui e em muitos lugares do mundo estamos numa encruzilhada perante às Mudanças Climáticas: ou buscamos o equilíbrio ou paralisamos abraçados à utilidade.
O equilíbrio é condição para enfrentar, mitigar, adaptar às Mudanças Climáticas, para implementar ações de resiliência, de planejamento e execução de políticas públicas. A utilidade não requer nada, apenas manter tudo, exatamente do jeito que está.
Mas é urgente a aplicação de ações de resiliência nas cidades e no campo. As cidades precisam ser adaptadas para as pessoas que estão vivendo em áreas inadequadas, os gestores e executores devem preparar as cidades para chuvas mais intensas, com absorção de água (não é retenção de água). No campo, o planejamento e a execução precisam dar atenção às pessoas que vivem às margens e arredores dos rios, também carece de cuidado os cursos d’água, combater tudo o que influência negativamente os rios, como desmatamento, degradação de áreas pela mineração, frear a implantação de monocultura e de usinas hidrelétricas (UHE’s).
No campo ou na cidade, os impactos econômicos negativos já são sentidos. As cidades quando param por excesso de chuva (São Paulo, por exemplo, ficou sem eletricidade nos meses de janeiro e fevereiro) percebem prejuízos de difícil dimensionamento. No campo, os prejuízos pela perda de safra, por excesso ou falta chuva são realidade no cotidiano de agricultores do Brasil e do mundo. Além disso, as monoculturas impõem prejuízos ao ambiente, por contaminação do solo, do ar e dos cursos d’água.
Esta crise, caro leitor, representa uma crise civilizatória e não temos muitas opções. Na verdade, temos duas: ou desenvolver ações mirando num futuro harmônico, que alcance, nem que a princípio de maneira tímida, os objetivos de desenvolvimento sustentável, ou não fazer nada e teremos um futuro perigoso, incerto, para ser mais preciso. Desculpe-me se a impressão é catastrófica, mas a verdade é que a natureza está respondendo de forma coerente com as mudanças climáticas: a fúria do vento, chuvas em excesso ou escassez, calor onde deveria ter temperaturas baixas, ou frio onde deveria ser quente, seca ou enchente de rio, demonstram o ajuste da natureza com as novas condições do ecossistema. Há quem chame de nova normalidade. Mas neste novo normal, quem estará fora é a humanidade, mas já chega por hoje! Vou finalizar voltando ao início: ou construímos cemitério para os nossos passarinhos, ou vamos sucumbir…