Há dois meses das eleições para a escolha da Presidência e Vice-Presidência dos Estrados Unidos da América, o mundo vive as incertezas do que possa vir a ser a geopolítica mundial, após o pleito que a ser realizado no dia 5 de novembro próximo.
Após realização das convenções nacionais do Partido Republicano (em julho) e do Partido Democrata (na semana passada), os norte-americanos vivenciarão um dos embates mais acirrados dos últimos tempos, na luta política que vai definir os rumos dos Estados Unidos, com a escolha da escolha da liderança política que irá comandar a nação mais importante do mundo imperialista.
De um lado, tem-se a candidatura da vice-presidente Kamala Harris, pelo Partido Democrata. Mulher negra – filha de mãe indiana e de pai jamaicano – imigrante Kamala já ocupou o cargo de procuradora-geral da Califórnia e é vice-presidente atualmente. Juntamente com seu candidato a vice-presidente, Tim Walz, o governador de Minnesota, Kamala defende a liberdade e a democracia.
De outro, tem-se a candidatura do ex-presidente Donald Trump, pelo partido Republicano, que tem o senador James David Vance, como seu candidato a vice-presidente. Político ultraconservador, extremista de direita, armamentistas, intervencionista e fascista, Trump, sabe-se, foi aquele que capitaneou a invasão do Capitólio, por não aceitar sua derrota para o atual presidente Joe Biden.
No centro do debate eleitoral estarão dois projetos totalmente discordantes em temas que vão desde o respeito às liberdades individuais, até o fortalecimento da política armamentista no mundo, como nos casos atuais de confrontos entre Rússia e Ucrânia e na Faixa de Gaza, onde o conflito entre Israel e o Hamas já vitimou mais de 40 mil pessoas, entre crianças, mulheres e pessoas idosas e deixou feridas mais de 100 mil pessoas.
Ainda que sejam imperialistas e norte-americanos, tanto a representante do projeto eleitoral democrata quanto o republicano, têm concepções de governo e de mundo muito diferentes, o que torna imperativo se lançar um olhar apurado sobre os dois projetos em disputa, para se tentar enxergar o perigo que ronda a humanidade, com o resultado das eleições norte-americanas.
O Jornal Brasil Popular se propõe a levantar alguns temas que estão postos neste processo eleitoral, sem a pretensão de se aprofundar em nenhuma das questões. Apenas para estimular a reflexão sobre o que cada uma das candidaturas oferece ao eleitorado.
Por exemplo, no que se refere à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e aos conflitos regionais, é perceptível o contorcionismo de ambas as candidaturas para parecerem diferentes. Neste quesito, Donald Trump questiona a ajuda dos EUA à Ucrânia, critica os países-membros da OTAN por não conseguirem reduzir gastos militares e se coloca como propenso a “reavaliar” o propósito da aliança da organização. Já a candidata do Democrata não tem esclarecido como suas posições são diferentes das adotadas pelo atual presidente Biden, que financia as guerras. Especificamente sobre a guerra na Faixa de Gaza, Kamala considera o Hamas uma organização terrorista e diz que Israel tem “o direito de se defender” e apoia um acordo de libertação de reféns.
Trump, por seu lado, critica algumas táticas do governo israelense neste conflito com o Hamas, mas não hesita em declarar seu apoio à destruição do grupo extremista, e é rápido ao cobra de Israel respostas agressivas às manifestações de apoio aos palestinos, que correm em campi universitários.
De olho em importantes líderes mundiais que pedem um cessar-fogo na região, Kamala e Trump tentam falar sobre um acordo de cessar-fogo, mas, até agora, não conseguem tal artimanha, leve ao fim os confrontos entre Israel e o Hamas, pois Israel se mantém insensível a tantas mortes a tantos sofrimentos.
Com relação à imigração na fronteira EUA-México, como vice-presidente, Kamala recebeu de Biden a determinação de cuidar da migração e tentou dar vida a um acordo bipartidário que tinha a finalidade de regular a entrada de imigrantes nas áreas de fronteira com o México. Agora, na campanha, Kamala acusa Trump de ter sido contra o acordo. Trump não perde tempo e acusa diretamente a candidata democrata de ser a responsável pelo que classifica de situação “fora de controle” devido as “políticas brandas”, da dupla Biden-Kamala. Trump já disse que, se eleito, trará de volta programas como o Permaneça no México e o Título 42, que restringe migrantes por situação de saúde pública e deverá retomar medidas que proíbem viagens de cidadãos de sete países, especialmente, muçulmanos.
Sobre questões climáticas, tema em pauta em praticamente todo o mundo, Kamala, que em 2020 se posicionou contrária à perfuração offshore para exploração de petróleo, como candidata, saiu na frente defendendo uma energia verde. Negacionista quanto aos impactos das mudanças climáticas, que considera ser uma “farsa”, Trump promete, se eleito, sair dos Acordos Climáticos de Paris, assinados pelo atual governo, e acabar com subsídios eólicos. Um de seus principais lemas de campanha é “Perfure, baby, perfure”, sob a argumentação de que os Estados Unidos deve ser o país da energia mais barata do mundo e que, para tanto, ele irá promover um alto nível de perfuração e elevar os incentivos fiscais para a produção de petróleo, carvão e gás.
Em relação a questões ligadas às liberdades individuais, Kamala e Trump são diametralmente opostos, seja sobre o aborto ou questões de gênero. Enquanto Kamala defende o acesso ao aborto, um direito conquistado pelas norte-americanas por 50 anos, mas que foi anulado pela Suprema Corte há dois anos, Trump se gaba de ter sido o presidente que nomeou os juízes que anularam esse direito. Para se distanciar da polêmica, o candidato republicano defende que a decisão sobre o aborto seja tomada pelos Estados, de forma “independente”.
Com relação aos direitos da comunidade LGBTQ+, Kamala denuncia discriminações e violências contra a comunidade não binária e defende a liberdade das pessoas de “amar quem ama abertamente e com orgulho”. Já Trump, se contrapõe à comunidade LGBTQ+, afirmando, inclusive, que pedirá ao Congresso que crie lei estabelecendo dois gêneros apenas e ameaça “derrotar o veneno tóxico da ideologia de gênero”. Sobre as mulheres transgênero, diz que vai adotar medidas para impedi-las de participar dos esportes, apoiar a proibição de intervenção hormonal ou cirúrgica e barrar pessoas trans em serviço militar.
Apenas vendo estas questões, pode-se aferir que os projetos e as pessoas que os representam não são iguais, literalmente. Decerto, que os personagens do espetáculo eleitoral norte-americano são semelhantes em vários pontos; são, por exemplo, imperialistas e armamentistas e consideram a América Latina quintal dos Estados Unidos, podendo, por conta dessa visão, promover intervenções militares na região e se intrometer nos rumos da política continental. Mas, há que se admitir: Kamala e Trump representam dois projetos e concepções de governo e de mundo que têm totalmente discordantes.
Vale observar, por oportuno, o formato, o conteúdo, as imagens e as personalidades de cada uma das convenções nacionais dos dois grupos; ainda que cada um tivessem suas estratégias escondidas por detrás dos fatos mostrados, decantados ao gosto de cada mídia dos Estados Unidos.
A Convenção do Partido Republicano realizada em julho, sinalizou para o que há de pior na política, atualmente, que é o recurso da violência política. No evento, em que era a personagem em destaque, Trump foi vítima de um estranho atentado, e, sem escrúpulos, tentou jogar no colo do governo Biden-Kamala a autoria do crime. Entendendo a estratégia do republicano, o governo agiu de imediato, tomando providencias investigativas. Viu-se, portanto, uma pequena amostra de que o jogo bruto só estava no começo.
Por sua vez, com estratégias estudadas, centímetro por centímetro, a Convenção do Partido Democrata, realizada agora em agosto, deu o tom de festa à decisão de homologar Kamala Harris como a candidata que vai defender a democracia e garantir sua preservação. Assim, o partido apareceu para o mundo, mais unido do que nunca, em meio a uma festa que reuniu, lideranças política, artistas e cidadãos e cidadãs no mesmo projeto de nação que almeja eleger, pela vida da democracia, a primeira mulher presidente dos Estado Unidas da América: Kamala Harris.
Apoiadora contumaz da candidata democracta, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, que foi derrotada por Trump em 2016, afirmou: “Kamala Harris vai quebrar o telhado de vidro que impede que as mulheres cheguem ao poder”. A ex-primeira-dama, Michelle Obama, foi na sequência e cobriu Kamala de elogios. Outras estrelas do partido Democrata tais como os ex-presidentes Bill Clinton e Barack Obama também declararam efusivos apoios a Kamala. Em seu discurso, o presidente Joe Biden pediu à população que vote em Kamala para “preservar a democracia”.
Portanto, com as candidaturas efetivamente em campo, é preciso questionar quais serão os reflexos da vitória de Kamala Harris ou da vitória de Donald Trump para a humanidade. Com relação ao Brasil, que a duras penas derrotou um projeto fascista, mas que corre de vê-lo de volta ao poder nas eleições de 2026, cabe refletir seriamente o que virá a seguir, se Trump for vitorioso nas eleições de 5 de novembro.
Enfim, neste momento, a luta pela preservação da democracia é uma missão da qual não podemos fugir. A humanidade não pode prescindir da democracia, este bem humano que, por mais falho que possa ser – e o é -, ainda assim, é um dos valores mais importantes para a construção da justiça, da paz e da igualdade. A democracia precisa vencer, pois o fascismo não pode prosperar. Nem nos Estados Unidas da América, nem na América Latina nem no Brasil.