João Cândido é gaúcho. Nasceu numa comunidade onde é o município de Dom Feliciano, e se criou em Rio Pardo até os 11 anos, quando – apoiado pelo Almirante Alexandrino de Alencar – vai a caminho da Marinha.Negro, de família pobre, pai liberto e mãe escravizada, avô atento e agregador lhe formam para a vida.Acaba fazendo sua trajetória na Marinha Brasileira, sendo um grande e exemplar marinheiro.Atualmente, esquecido, com versões mentirosas sobre sua vida, construídas a partir dos maiorais da corporação.O “Almirante Negro”, como ficou conhecido, virou letra de música censurada na ditadura (Aldir Blanc e João Bosco são os autores), eternizada na voz de Elis Regina. Foi enredo de Carnaval também.Em 2024, sai o livro “João Cândido Sonho e Castigo”, de Mário Papo Santarem.A escrita de Pepo é de uma riqueza literária exemplar. Toca-nos em especial a forma bem acabada com que trata a infância do biografado.Mas não é só isso. Pepo nos vai guiando pela trajetória do Almirante Negro para denunciar a tradição opressora e violenta da Marinha, do governo do Marechal Hermes da Fonseca, presidente do país, também gaúcho, que traiu seu próprio Decreto de Anistia para os marinheiros da Revolta da Chibata, colocando-os nas masmorras piores do mundo e jogando outros nos seringais do Acre, fuzilados outros tantos, jogados ao mar vários deles.O governo republicano mandou assassinar e degredar centenas e centenas de Marinheiros. Todos da Marinha Brasileira.Hora de discutir nossa História e de revisitar a Revolta da Chibata. Estamos falando de 1910 quando um marinheiro é massacrado com 250 chibatadas. Explode ali a Revolta da Chibata.Creio que este livro deveria estar em todas as bibliotecas do país e em especial nas do Rio Grande do Sul.Vamos lutar para que as novas gerações conheçam nossos heróis, lendo livros de qualidade literária ímpar.
(*) Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito.
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