Justifico: um Estado como o Rio Grande do Sul, que foi celeiro do país, vanguarda na politica do Império e da República, como exemplo que foi em várias áreas, amarga de algum tempo destinos não muito claros, diria até destinos de amedrontar.
Mas como não podemos nos dar ao luxo de perder a esperança na decência humana, nem nas possíveis façanhas do futuro de nosso povo, abro aqui um conjunto de reflexões acerca do Rio Grande do Sul.
1 . OS “GAÚCHOS”
Ao viajar pelo país afora a gente encontra a “gauchada” em cada Estado do país, seja aqui na vizinha Santa Catarina, com uma multidão de aposentados tomando conta de suas praias, seja na produção agropecuária do Centro, rompendo outras tantas fronteiras agrícolas.
Já nas décadas de 40 e 60 os colonos daqui iam para o Extremo Oeste de Santa Catarina desbravar as “terras novas”, seguindo depois para o Sudoeste do Parará e assim foi indo até o Oiapoque.
2. EVASÃO
Se nos primórdios migratórios eram pessoas da luta da agricultura e alguns poucos outros, ultimamente podemos falar de uma “evasão” de talentos. Gente que se forma na área de tecnologia passa o Mampituba e em algumas horas está empregado em São José e Florianópolis na área de tecnologia. Ou seja, o RS forma, SC usufruiu.
Já se deram conta de quantos jovens saem do RS assim que se formam por aqui? Quantos jovens estão morando na Austrália. Fale com professores e fique sabendo quantos pesquisadores sumiram daqui.
3. MODELO AGRÍCOLA
RS ainda é o maior produtor de arroz do país. O Brasil produz 10 milhões de toneladas de arroz por safra. Deste total, cerca de 8 milhões de toneladas são cultivadas no Rio Grande do Sul.
Já o MST lidera a maior produção de arroz orgânico da América Latina, conforme o Instituto Rio-grandense de Arroz (Irga).
O RS foi perdendo espaços na produção de trigo, do qual já foi grande produtor, sendo que hoje o Paraná é o maior produtor do país.
Nos primórdios da fundação de Porto Alegre havia “moinhos de vento”, denunciando sua produção de trigo por todos os lados.
A produção de milho e soja no RS tem sido afetada por questões climáticas, o que significa que não existe uma política pública de açudagem e irrigação para enfrentar os infortúnios climáticos.
Fomos vanguarda na produção da vitivinicultura, mas com o tempo a Serra catarinense vai aparecendo bem como regiões do Nordeste.
Ademais, o Estado tem precariedade na fiscalização para impedir a entrada clandestina de vinho oriundo da Argentina.
Orgulhosamente, a maioria dos olivais se encontra na Metade Sul do Rio Grande do Sul.
Ainda podemos ter orgulho de nossa produção de frutas: uva de indústria (708.645 toneladas); maçã (499.086 toneladas); laranja (273.292 toneladas); melancia (218.229 toneladas); bergamota (160.670 toneladas); banana (124.004 toneladas) e pêssego de mesa (69.189 toneladas).
Mas há regiões que deixaram de produzir melancia para dar lugar à produção de soja. Seria por falta de políticas de incentivo governamental, o que impacta um produto bom para a saúde e os preços.
Nosso objetivo aqui não é exaurir o tema da produção rural, mas mostrar com alguns exemplos a falta de politicas públicas para certas produções como grãos e frutas, bem como uma ausência de políticas de enfrentamento de problemas climáticos.
O certo é que não há por parte dos governos uma efetiva política agrícola que enfrente seus dilemas. Na gestão de Tarso Genro 2011/2014, o Secretário Ivar Pavan foi ousado na política de enfrentamento ao clima realizando façanhas em abrir poços artesianos, e o professor e agrônomo Claudio Fioreze tratava na Secretaria da Agricultura do tema da irrigação.
Sempre ouço profissionais falarem que temos vários microclimas, portanto poderíamos ter uma diversidade de plantios que poucos outros lugares teriam. Então, por que motivos isto não acontece?
4. AS ENCHENTES
Não foram só as enchentes de maio que destruíram o Vale do Taquari. Porto Alegre e a Região Metropolitana ficaram alagadas, inundadas por mais de um mês, em vários locais por desdém do poder público, isto é certo.
Na Serra gaúcha com deslizamentos e lavagem dos terrenos de locais de plantio de videiras, como tudo isto será recuperado? Como ficará o fértil “vale” do Taquari?
Não foram só as destruições de casas, locais de comércio, serviços e indústrias, foi a Memória que se foi com o lodaçal.
Com o amargo regresso, veio a depressão, vieram tantos e tantos outros problemas. Como vamos encarar nossos destinos? Da economia, da habitação, da saúde? Ficamos por aqui. Como?
Como nos ensina a escritora Sarah Bakewell:
“Se é com grandes poderes que vêm grandes responsabilidades, temos muito que aprender e a recapitular com os homens e mulheres que pensaram e lutaram para colocar o bem-estar da humanidade em primeiro lugar.”
Assim, nesta perspectiva humanitária tão carente entre nós, com o fascismo que nos tem abalado, vamos agarrar este facho de luz da autora de ‘Humanamente Possível”.
Temos muito a falar e dialogar. Como foi o comportamento dos políticos ao longo de nossa História, como eles se portam hoje em dia.
Este e outros capítulos estão vindo aqui.
(*) Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito.