Pode ter sido soprada pelo próprio Lula, por meio de intermediários de confiança, a sugestão de que ele desista da reeleição em 2026, diante da hipótese, ainda que remota, de riscos para sua saúde suscitados pela necessidade da cirurgia a que teve de ser submetido para conter uma hemorragia cerebral.
Ao mesmo tempo que o noticiário registrava o êxito da cirurgia e o bom estado e humor de Lula, espalhou-se pelas redes sociais (e foi acolhida por veículos da mídia alternativa de credibilidade reconhecida, como o Brasil 247) uma sucessão de informes a respeito, completados na quinta-feira por uma pesquisa da agência Quaest.
Já na quarta-feira, o Brasil 247 anunciava, em artigo não assinado e, portanto, endossado por sua direção, insuspeita de embarcar em qualquer onda de origem anti-Lula:
— Cirurgia de Lula antecipa debate sobre a sucessão presidencial de 2026.
Fontes próximas ao PT confirmaram à agência Sputnik Brasil que a situação, embora sob controle, acendeu discussões internas sobre o futuro da liderança partidária e do governo federal.
Outro artigo, também não assinado, na mesma quarta-feira, registrava:
— Com 79 anos atualmente, Lula terá 81 no próximo pleito. Apesar das incertezas, ele mesmo já sinalizou diversos cenários. Em junho, declarou querer disputar novamente, “para evitar que trogloditas assumam novamente o poder”. Contudo, em declarações recentes, indicou que pode abrir mão: “Eu não preciso ser o candidato.”
Com toda aparência de fazer parte de uma operação montada por inspiração e com orientação do próprio Lula, a Quaest divulgou na quinta-feira uma pesquisa segundo a qual Lula venceria em qualquer cenário em 2026, mas 52% dos entrevistados acham que ele não deve ser candidato, contra 45% que insistem em sua candidatura. Entre os possíveis substitutos de Lula como candidato, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aparece em primeiro lugar, com 31% dos entrevistados dizendo que votariam nele.
Outro artigo do 247 destacava outra verificação da pesquisa, tranquilizadora para os que, no PT, temiam a não candidatura de Lula:
— Quaest: Lula ou Haddad venceriam candidatos da direita, se a eleição fosse hoje.
— Segundo a pesquisa, 52% votariam em Lula novamente. Com Bolsonaro inelegível, Haddad só fica atrás de Lula na preferência do eleitorado.
Tudo isso considerado e sopesado, a conclusão poderia ser que a sucessão de Lula está assegurada, com ele candidato ou não. Em seguida, porém, o ministro da Comunicação, Paulo Pimenta, comentando esses 52% de preferência, garantiu que Lula será candidato.
Na sexta-feira, finalmente, Lula teve alta da UTI e postou um vídeo andando pelo corredor até o quarto que agora ocupa no hospital. Esse vídeo serviu para responder à enxurrada de postagens registradas por Alex Solnik em sua coluna, segundo as quais Lula teria morrido e estaria sendo substituído por um sósia no hospital — postagens odiosas que incluíam até um atestado de óbito falso.
Acompanhando o vídeo, Lula postou o seguinte texto:
— Peço que fiquem tranquilos. Estou firme e forte! Andando pelos corredores com Marcos Stavale, o neurocirurgião responsável pelo meu procedimento, conversando bastante, me alimentando bem e, em breve, pronto para voltar para casa e seguir trabalhando e cuidando de cada família brasileira.
Postagem de candidato? Ou de quem sabe que tem à sua frente a escolha que o tempo mostrará como a melhor — para o país e, por que não, para ele próprio?
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor, é colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna semanal “De olho no mundo”. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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