Pesquisa da Ufop foi feita a pedido de comunidades atingidas; ainda não se sabe os riscos da exposição a longo prazo
Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), a pedido da Aedas, a assessoria técnica independente (ATI) que atende as comunidades atingidas pelo rompimento da barragem em Brumadinho (MG), apontou níveis alarmantes de metais tóxicos no ar de seis municípios impactados pelo desastre da barragem da Vale.
Entre os elementos identificados em concentrações superiores aos limites ambientais internacionais estão arsênio, cádmio, cromo, manganês, mercúrio e níquel. As cidades analisadas incluem Betim, Mário Campos, Juatuba, São Joaquim de Bicas, Igarapé e Mateus Leme. Foram analisadas 28 amostras da região de estudo, com resultados que indicam frequentes violações nos valores de referência ambiental.
O manganês esteve acima do limite permitido em 93% das coletas (26 de 28). O mercúrio apresentou inconformidades em 39% das amostras (11 coletas), enquanto o arsênio registrou níveis superiores aos recomendados em 36% (10 amostras). Assim como o arsênio, o cromo apresentou 36% de inconformidades, com 10 amostras acima do valor de referência. Tanto o cádmio quanto o níquel excederam os limites estabelecidos em nove amostras, representando 32% das coletas cada.
O estudo, realizado a pedido das comunidades afetadas e intermediado pela Aedas, contou com coletas realizadas entre setembro de 2021 e agosto de 2022. As conclusões foram compartilhadas em reuniões comunitárias e em um seminário ocorrido em outubro deste ano.
Mariana Vieira, técnica da Aedas, afirma que o estudo se configura como uma “fotografia” do período examinado, destacando a urgência de um monitoramento permanente. Ela também chama atenção para a inexistência, no Brasil, de normas ambientais específicas que definam os limites para metais no ar, o que torna essencial o uso de padrões internacionais. “Essas lacunas dificultam a avaliação das contaminações e dos riscos à saúde das populações atingidas”, disse ao Brasil de Fato.
Mesmo que a identificação de metais no ar não garanta intoxicação, Vieira destaca que a exposição constante da população da região a essas substâncias é preocupante. Os efeitos variam conforme a dose e o tipo de contato, e muitos dos metais encontrados têm graves implicações para a saúde humana.
“Para além do potencial risco à saúde, esses metais podem ser transportados pela atmosfera e se acumularem no solo e nas águas superficiais por meio das chuvas ou deposição seca. No solo, os metais podem escoar para os rios ou serem absorvidos pelas plantas, o que compromete a saúde de quem ingere”, diz Mariana Vieira.
*Com informações do Brasil de Fato