Assim como a ata do Copom traça cenário caótico – e inexistente – sobre a economia, a família Frias constrói um clima de terror criando mentiras sobre a saúde de Lula e o ataque especulativo promovido pelo sistema financeiro
Em dois editoriais nesta quarta-feira (18), a família Frias, cada vez mais alinhada ao clã Bolsonaro, diz que o é presidente – e não o “mercado” – o culpado pela escalada do dólar e pelo movimento especulativo que levou a moeda estadunidense a R$ 6,20, forçando duas intervenções do Banco Central, que injetou US$ 2,015 bilhões em dois leilões para segurar a alta.
“Existe uma razão cristalina e persistente para a escalada do dólar, que ultrapassou o patamar de R$ 5 em abril e o de R$ 6 no final de novembro — a desconfiança crescente e justificada quanto ao compromisso do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o reequilíbrio do Orçamento e o controle da dívida pública”, afirma a família Frias ecoando o discurso dos banqueiros e agentes do sistema financeiro.
Colocando-se como porta-voz da Faria Lima, o jornal classificou como “um pacote frustrante de contenção de gastos, ora em exame no Congresso” o Projeto de Lei Complementar (PLP) 68/24, que é a proposta do governo de ajuste fiscal e que vem sendo usado pelo presidente da Câmara para achacar Lula sobre as emendas parlamentares, herança do Orçamento Secreto criado no governo Jair Bolsonaro (PL).
“Haverá quem ache exagerada a reação do mercado, e de fato podem ocorrer movimentos irracionais em situações de grande tensão. Para restabelecer alguma tranquilidade, o melhor caminho é uma indicação crível de reforço à política fiscal”, segue o jornal, que prega cortes na saúde, educação e a asfixia de projetos sociais para que o governo possa conter a sanha do mercado.
Mentiras sobre a saúde
Em um segundo editorial, a Folha diz que a “saúde de Lula será tema do debate pré-eleitoral” e cria uma mentira para provocar terror sobre o recente procedimento cirúrgico feito pelo presidente para drenar a hemorragia intracraniana decorrente da queda no banheiro do Palácio da Alvorada em 19 de outubro.
“A recente internação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para tratar com urgência de um sangramento cerebral lembrou o país dessa conexão entre o corpo e a função do governante”, diz o jornal dos Frias.
No entanto, a hemorragia foi intracraniana e sequer atingiu o cérebro, como frisou o médico Roberto Kalil Filho, que conduziu o tratamento.
“O presidente não terá sequela e não há risco de complicações porque o hematoma estava localizado entre o osso cranial e o cérebro. Ele não tem machucado no cérebro. Esse procedimento é para evitar que o hematoma comprima o cérebro. O hematoma, que fica entre duas folhas da meninge, foi totalmente drenado. O mais importante é que ele não teve trauma no cérebro”, disse Kalil durante entrevista coletiva no Hospital Sírio-Libanês.
Assim como a ata do Copom “analisa” o cenário econômico com base em dados fictícios do relatório Focus – que ouve a opinião de 171 agentes do sistema financeiro -, a Folha traça um cenário de terror sobre a saúde de Lula e o compara a Joe Biden, que abriu mão da tentativa na reeleição nos EUA e escalou Kamala Harris, que foi derrotado por Donald Trump.
“Aos 81, o democrata Joe Biden viu-se na prática obrigado a abandonar a pretensão de concorrer ao segundo mandato nos EUA exatamente porque não demonstrava capacidade fisiológica. Na ocasião, Biden recebeu os cumprimentos de Lula pela sua ‘magnânima’ decisão”, ironiza a Folha.
O “diagnóstico” da Folha, no entanto, contrasta mais uma vez com o do médico do presidente, que chegou a perder a paciência diante das especulações sobre a saúde e a idade de Lula.
“Realmente, com a idade, as pessoas podem perder um pouco do reflexo e equilíbrio, mas não foi o caso. Em relação a quem diz que o presidente tem certa idade e aconteceu isso. Não. O acidente que aconteceu com ele acontece com qualquer pessoa de qualquer idade e da mesma maneira”, iniciou em entrevista ao Uol, explicando sobre a queda no banheiro do Alvorada.
“E tem mais”, emendou Kalil. “Se ele não fosse saudável e tivesse a musculatura que ele tem, ele teria provavelmente fraturado um fêmur, a coluna. Ele tem um físico exemplar e isso, nesse trauma, ajudou”.
Indagado pelo jornalista Ricardo Kotscho, que foi assessor de comunicação de Lula no primeiro mandato, sobre a disputa eleitoral em 2026 e qual conselho daria ao presidente, Kalil foi enfático.
“Eu vou aconselhar ele a ser candidato, fazer campanha todos os dias que ele puder, da maneira que puder. Se quiser viajar mil vezes por dia para fazer campanha, pode fazer com a saúde que ele tem”, afirmou.
“Depender da saúde do presidente, por favor, não contem com fake news sobre isso para tirá-lo de uma eleição”, concluiu o médico.
O jornal ainda tenta ordenar que sejam feitas “intervenções para atestar a boa saúde do líder petista” e ameaça entrar na baixaria promovida pela horda bolsonarista contra o presidente.
“De Lula, que concorre a eleições presidenciais desde os 44 anos, e seu estafe esperam-se transparência e atenção ao escrutínio legítimo da sociedade —ainda que possa ser desvirtuado por baixezas comuns de campanha”, conclui a família Frias, em linha com o mercado e a ultradireita neofascista.