Após 15 meses de massacre no enclave, população comemora implementação do acordo nas ruas e milhares de deslocados retornam às residências
O acordo de cessar-fogo alcançado pelo governo de Israel e o Hamas entrou em vigor na Faixa de Gaza neste domingo (19/01). Entretanto, a trégua não iniciou no horário previsto devido a um atraso do grupo palestino na entrega da lista com os nomes dos primeiros reféns israelenses a serem libertados. Durante o atraso de três horas, o exército israelense matou pelo menos 19 palestinos e feriu outros 36, de acordo com a Defesa Civil local.
A confirmação do início da primeira fase do cessar-fogo foi anunciada pelo Catar, um dos países mediadores do tratado, por volta das 6h30 pelo horário de Brasília.
“Confirmamos que os nomes das três reféns que devem ser libertadas hoje foram repassadas a Israel. Assim, o cessar-fogo começou”, afirmou o ministro das Relações Exteriores do país, Majed Al-Ansari, em comunicado. Segundo o governo catari, as três pessoas a serem libertadas são cidadãs israelenses, entre as quais uma tem a nacionalidade romena e outra britânica.
Em troca, Israel designou 95 prisioneiros palestinos para deixar as prisões israelenses, sendo a maioria deles mulheres e crianças que foram detidas durante as operações militares no enclave.
Israel culpou o Hamas pelo atraso na entrega e voltou a ameaçar a continuar seus ataques em Gaza, acrescentando que a trégua não começaria enquanto o grupo não enviasse a lista com o nome dos primeiros reféns. Nesse meio tempo, a Defesa Civil do enclave registrou ao menos oito fatalidades em bombardeios israelenses.
O Hamas reconheceu a demora em comunicado, disse estar comprometido com o acordo e explicou que o atraso ocorreu devido a problemas técnicos e à continuidade das agressões israelenses na Faixa de Gaza.
Nos primeiros momentos após o início do cessar-fogo, quando os palestinos começaram a voltar para suas casas, jatos e artilharia israelenses passaram a atacar várias áreas do enclave. Os serviços de emergência locais contabilizaram 36 feridos.
Retorno às casas
De acordo com o portal Middle East Eye (MEE), celebrações eclodiram em Gaza no primeiro dia em que o acordo de cessar-fogo foi implementado na região, enquanto combatentes pertencentes à Brigada Qassam, braço militar do Hamas, também desfilaram nas ruas. Desde 7 de outubro de 2023 até este domingo, pelo menos 46.913 palestinos foram mortos e 110.750 ficaram feridos em ataques israelenses, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
A primeira fase do acordo ratificado na sexta-feira (17/01) pelo governo de Israel determina o retorno de palestinos deslocados às suas residências e a entrada de 600 caminhões de ajuda humanitária por dia em Gaza. Por isso, neste domingo, milhares de pessoas que foram obrigadas a deixar suas casas para se abrigar em campos de refugiados, ao longo da guerra, pegaram a estrada “de caminhão, carroça de burro e a pé” para retornar, segundo o MEE. As movimentações se concentraram principalmente em Jabalia, no norte, e em Rafah e Khan Younis, no sul.
À agência Reuters, fontes egípcias afirmaram que, no primeiro momento, aproximadamente 200 caminhões de ajuda humanitária, incluindo 20 que transportam combustível, começaram a circular na passagem de Kerem Shalom.
Ainda durante esta primeira fase, que tem a duração de seis semanas, serão libertados 33 reféns israelenses mantidos pelo Hamas no enclave em troca de até 1.904 prisioneiros palestinos detidos em prisões israelenses, contemplando a libertação de alguns membros do Hamas, da Jihad Islâmica e do movimento Fatah da Autoridade Palestina, juntamente com mulheres e crianças.
(*) Com RFI