O meu medo, já disse, é que as pessoas não mudem, não se emendem. Sonegar, contrabandear ou roubar cavalo na pampa do passado oi boi gordo (abigeato) na atualiadade parece ser um torneio para a gauderiada. Sim, isto é coisa de gaudério, gente fora da lei.
Só para lembrar que gaudério que muitos gaúchos, ou melhor, rio-grandenses, gostam de usar é um termo, na verdade, pejorativo, significa fora da lei, ladrão ou coisas piores.
E A GAUDERIADA NÃO VAI PARA A CADEIRA
Sai a grande notícia deste início de ano que uma Indústria de bebidas é suspeita de sonegar R$ 200 milhões em impostos, sendo alvo de operação do Ministério Público! E nenhuma prisão foi realizada, nem para garantir a ordem, contra o apagamento de provas, de queima de documentos. Nada. A malta está solta.
Rafael Pinto Bandeira no século XVIII chegou a ser levado preso ao Rio, capital do país colônia, mas se livrou, até hoje não se sabe como, e ainda ganhou umas boas “braças de campo”. Talvez para deixar em paz os outros de quem roubava gado e cavalos.
Apesar de todas as estripulias do Bento Gonçalves antes e durante a Guerra dos Farrapos (1835-45), ele virou o grande herói da “República rio-grandense”, aquela ficção que alguns chamam de “revolução”.
Voltemos para os dias atuais: segundo o Ministério Público, a dívida tributária do grupo é uma das cinco maiores do Rio Grande do Sul. Ação aconteceu em Porto Alegre, Torres e Santa Maria. Grupo usaria laranjas para movimentar dinheiro. Grande novidade….
O grupo atende pelo nome de Santamate com origem no centro do Estado na cidade de Santa Maria.
QUE DIZ O GOVERNO DO RIO GRANDE DO SUL
Mais uma vez sua excelência o governador não vem a público para falar, apesar das notas na mídia indicarem que os valores sonegados de ICMS ou em atraso chegam a quase R$ 1 bilhão no RS.
E o governador Eduardo Leite chora pelos cantos o tempo todo, culpa o governo federal por tudo o que ele não encara e não resolve por aqui, mas se cala diante de um logro desta magnitude.
O total da dívida equivale à folha de pagamento mensal inteira do funcionalismo público gaúcho. Oferta de serviços públicos poderia ser ampliada com o valor, segundo especialistas.
ÀS PENCAS
Como vimos acima os valores são exorbitantes, e ainda no finalzinho do ano passado as notícias nos davam conta que apenas um grupo familiar do noroeste do RS é suspeito de sonegar R$ 20 milhões em impostos. Um grupo familiar, todos leram isto, certo? Certo!
Se o nosso leitor tiver interesses neste tema, a Internet, pelas notícias dos jornais locais, está prenhe destes tipos de denúncias.
CARNES DA BOA CARNE À CARNE PODRE
Alguém já disse que a vida está difícil, mas o churrasco está uma delícia! Sim, o problema que a vida é que está muito difícil por aqui, e as churrascarias diminuem a cada dia. “Churras” só na grelha em casa nos finais de semana.
O Rio Grande do Sul tem a fama do “churrasco”, “espeto corrido”, “rodízio”, criando icônicas churrascarias: “Vento Aragano” que chegou a São Paulo; “Fogo de Chão” que está nos dois polos do mundo: EUA e China.
Mas aqui, volto a repetir, as churrascarias tradicionais entraram em crise, com força as “parrilas” atropelando.
E muitas vezes com carnes que vem de fora, do Uruguai, em especial. Pois, a qualidade da carne uruguaia também ajuda a fomentar o sucesso do “asado” deles. O Uruguai se firmou como um importante polo pecuarista ao exportar matéria prima de qualidade para mercados cada vez mais exigentes, como o europeu e o chinês. E nós?
O Rio Grande do Sul não foi o maior produtor de carne do Brasil diz o “Google”, mas foi em algum momento sim. O estado tem perdido participação na produção nacional de carne bovina ao longo dos anos. Agora, sim, está certo.
Os maiores produtores de carne bovina do Brasil são: Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará.
O Rio Grande do Sul é o sétimo maior rebanho bovino do Brasil. O rebanho está concentrado no sul e oeste do estado, principalmente nos municípios de Alegrete e Santana do Livramento. Pois é, na chamada “metade sul”, tida como a zona pobre do Estado. Mas já não é bem assim.
Pois, então para o otimista do “gaúcho” que me disse que “nunca nos faltem amigos, cervejas e uma churrasqueira!” sou obrigado a dizer que amigos estão indo para Garopaba, em SC, as cervejarias diminuíram e tem mais carne em grelha que em churrasqueira.
O Rio Grande está mudando, meu medo é que mude para pior como estão vendo e lendo pelas matérias que o nosso Jornal está a proporcionar aos leitores.
CARNE POBRE
Desta vez não foi uma falcatrua de uma empresa daqui como as sonegadoras que já denunciamos. Um frigorífico daqui vendeu a uma “empresa” do Rio um lote de carne que virou um milhão no bolso de uma tal “Di tudo salvados”. Ora, como uma empresa pode vender carne para “ração” a uma empresa com este nome. Perdoem-me os românticos gaúchos, mas entrar neste “conto do vigário” é demais…
Apesar da heroicidade de nossos voluntários nas enchentes de maio aqui no Estado, surgiram picaretas de todas as espécies daqui e de fora. Eis, um exemplo que enoja. Há gente que fede, né Cazuza?
PROBLEMA ÉTICO
A cada 20 de Setembro, o “gaúcho” – na verdade rio-grandense – reafirma o orgulho de suas origens e o amor por sua terra. Gremistas e colorados, homens e mulheres, tradicionalistas e não tradicionalistas, todos unidos para celebrar as conquistas e honrar as tradições do nosso amado Rio Grande. Opa, opa, opa, menos, né? Que conquistas? Perdemos a guerra para o Império, a capital ganhou o título de “mui valerosa”, porque foi fiel ao Império e se defender por anos da invasão dos farrapos.
Além de ser um “problema ético” é uma distorção de nossa História. O tal de “20 de setembro” é o dia que a capital tentou rechaçar a invasão dos farrapos, mas neste dia eles ganharam. Nove meses depois, foram expulsos para a pampa, cercaram a capital por quatro anos, mas não voltaram a conquistá-la.
Desvirtuar a História é um “problema ético”. Sonegar impostos, contrabandear é outro “problema ético” não apenas fiscal.
E eis que nossas pesquisas e estudos continuam.
Até o próximo artigo e lhes digo: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia”, não é William Shakespeare? Repasso a frase a você caro leitor.
(*) Por Adeli Sell, professor, escritor e bacharel em Direito.
*As opiniões dos autores de artigos não refletem, necessariamente, o pensamento do Jornal Brasil Popular, sendo de total responsabilidade do próprio autor as informações, os juízos de valor e os conceitos descritos no texto.