- A capital federal do país, Brasília, no Distrito Federal, foi palco, no final de semana que passou, da mais atraente diversidade cultural, unindo ao mesmo tempo, expressão cultural, estética e de ativismo político por direitos.
- A programação iniciada no sábado, 25, seguiu até a segunda-feira, 27. Na manhã de sábado, a marquise da Biblioteca Nacional recebeu as Fanfarrilheiras, rumo ao maior ato político feminista da capital, o 8M – 8 de março DF e Entorno.
Na parte da tarde, ainda na marquise e no estacionamento da Biblioteca, a Feira da Diversidade LGBTQIA+ ganhava forma para os dois dias de evento.
Na tarde de domingo, o gramado do Congresso Nacional foi palco da 2ª Marsha Trans, em defesa do lema “Vida, direitos e futuro para a população trans”.
A 4ª Edição da Feira da Diversidade LGBTQIA+, foi realizada pela Comunidade JUDIH – Jovens Unidos por Direitos Iguais e Humanos, com o apoio da Secretaria de Cultura e deu espaço para artistas, artesãos e DJ’s das Regiões Administrativas do DF.
Uma das responsáveis pelo evento, Ana Cis, reforçou que a feira é o espaço para todos, todas e todes. “A comunidade LGBTQIA+ é criativa, produtiva e inovadora. E é sempre um prazer receber e conhecer a arte deles, tudo que eles criam. É um evento importante porque acaba gerando renda também, principalmente para quem é autônomo”.
As Drags e apresentadoras Pikinéia e Avellaskis, comandaram com muita alegria o trio elétrico e lembraram que, tanto a arte quanto a cultura, são essenciais para a sociedade.
Dash Kile, Artista Transgênero de ilustração digital e impressa, moradora de São Sebastião, relata sua primeira vez na Feira. “Eu tô adorando porque é muito bom estar nesse meio assim, com gente que nem eu. Em feiras assim, principalmente para uma artista pequena, acabo aprendendo sobre um monte de coisas, conhecendo pessoas, podendo me inspirar e a pessoa me indicar”.
Jaqueline Lisboa, servidora da Secretaria de Cultura do Distrito Federal (SECEC-DF), estava como monitora do evento e deu um recado importante. “A feira tem uma forte importância no fomento da arte regional, proporcionando atividades e empreendedorismo aos trabalhadores de Brasília trazendo cultura para todos os tipos de gostos musicais”.
Na tarde de muito sol de domingo, pelo menos 4 mil pessoas ocuparam o gramado em frente ao Congresso Nacional para reivindicar os direitos das pessoas trans e travestis. Parlamentares, ativistas, organizações, militantes e sociedade civil marcharam pela Esplanada do Ministério até o Museu da República, onde ainda acontecia apresentações culturais relacionadas à 2ª Marcha Trans de Brasília, organizada pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e pelo Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrat).
O Brasil ainda é o país que mais mata pessoas trans no mundo. Segundo dados preliminares de dossiê organizado pela Rede Trans Brasil. O documento aponta que, no ano de 2024, 105 pessoas trans foram mortas no país.
Segundo levantamento produzido pela Antra, 26 pessoas trans foram eleitas para as câmaras municipais do Brasil nas eleições de 2024, que contou com mais de 600 candidaturas dessa população.
A Coordenadora da Conexão Nacional de Mulheres Transexuais e Travestis de Axé de Minas Gerais (CONATT-MG), Mameto Sindoya é mãe de Santo e relata como é a luta de uma sacerdotisa transexual aos 55 anos de idade. “Privilégio é poder chegar nessa idade e poder lutar contra a transfobia dentro e fora da minha religião de matriz africana. Muitas mulheres trans morrem todos os dias apenas por serem trans. A média das nossas vidas é de 35 anos e eu hoje estou viva e continuo caminhando e lutando por um futuro melhor”.]
A primeira mulher trans a ocupar o cargo de coordenadora de Diversidade do Ministério das Mulheres, Rubi Martins, é militante dos Direitos Humanos e fala da importância do ato para combater a retirada de direitos. “O retrocesso que vem avançando da América do Norte espero que não chegue até aqui. Os nossos avanços são singelos, porém, para não retrocedermos, para não darmos passos atrás. A importância desse evento é demarcar o nosso território, o nosso local de fala, Aqui é o nosso lugar”.
O maior avanço na trajetória política e de lutas, foi o destaque no número de vereadoras trans eleitas na última eleição, inclusive enfrentando o conservadorismo no interior do país.
Lucci Laporta é assistente social e militante transfeminista do coletivo Juntas e alerta que o momento é de fortalecimento da extrema direita e. “O que a gente vê é que infelizmente parte da esquerda está querendo tratar as nossas lutas como identitarismo, como cultura woke. A gente precisa mostrar que não. O caminho é ocupar as ruas. Extrema direita e fascismo, não se combatem só no gabinete, não se combate baixando a cabeça pro pânico moral que eles fazem, tentando abafar as vozes de dissidência”.
Considerada a melhor deputada federal do Brasil, de acordo com o Congresso em Foco, Erika Hilton marcou presença na Marsha, com o discurso voltado para o movimento social organizado, lugar de onde ela veio. “Ocupamos por mais um ano o centro do poder brasileiro. A nossa II Marsha Trans tomou as ruas de Brasília para exigir o nosso direito à existência plena e à vida digna.Ninguém passará por cima ou negociará nossos direitos. Nem no Brasil, ou em qualquer lugar do mundo. Uma democracia se constitui a partir de seu povo e jamais poderá deixar de olhar para quem compõe esse povo. A nossa luta é por todas, todos e todes nós. Em nossa história, o que deve ser deixado pra trás – mas jamais esquecidas – são as mazelas que nos afligem, e apenas isso”.
Samantha Terena, mulher trans, indígena do povo Terena e ativista, lembra que os povos originários enfrentam uma série de desafios para garantir sua sobrevivência no Brasil. Além da tradicional luta pela demarcação de terras e pela representatividade comum aos povos, os indígenas LGBTQIA+ ainda têm que conviver com o preconceito e a exclusão dentro e fora das suas comunidades. “Tenho um enfrentamento duplo por ser mulher indígena e por ser trans. “Porque, antes mesmo da minha sexualidade, da minha condição sexual e da minha identidade de gênero, o preconceito indígena chega na frente”.
A programação da Marsha Trans se encerrou na segunda-feira, com a apresentação do Dossiê Antra, no auditório do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC).
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