A 13 dias do início da aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), 34 servidores o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC) pediram exoneração do cargo. A debandada foi protesto contra a atual gestão. Os pedidos de exoneração começaram na semana passada e concluíra nesta segunda-feira (8).
Os servidores pediram desligamento de cargos ligados à organização do Enem, marcado para 21 e 28 deste mês. No pedido de dispensa, eles citam a “fragilidade técnica e administrativa da atual gestão máxima do Inep”.
O presidente do Inep, Danilo Dupas Ribeiro, é acusado pelos servidores de promover um desmonte sem precedentes no órgão, com decisões sem critérios técnicos e também o acusam de assédio moral. A denúncia é da Associação de Servidores do Inep (Assinep). Ele foi levado ao cargo pelo atual ministro da Educação, o pastor e ligado a empresas privadas de exploração da educação, Milton Ribeiro, de quem é próximo.
Desde o início do governo Jair Bolsonaro (ex-PSL/União Brasil) há turbulências no Inep, que já passou por quatro mudanças de comando, assim como o MEC. Mas o clima atual dentro do instituto é relatado como insuportável. Servidores dizem que, com essas baixas, a realização do Enem fica sob alto risco de falhas. O , MEC e Inep não responderam aos pedidos de explicação da imprensa.
O pedido coletivo de dispensa tem sido assinado, eletronicamente, pelos servidores desde o fim da manhã desta segunda. Do total de 34 baixas registradas até as 14h20, ao menos 20 eram de coordenadores de área. O principal departamento atingido é a Diretoria de Gestão e Planejamento —responsável, entre outras coisas, pela logística das provas.
Os 34 pedidos de exoneração dos cargos se somam a outros dois, da semana passada. O coordenador-geral de Logística da Aplicação, Hélio Júnio Rocha Morais, e o coordenador-geral de Exames para Certificação, Eduardo Carvalho Sousa, pediram exoneração.
As saídas de Morais e da coordenadora-geral do Desenvolvimento da Aplicação, Andréia Santos Gonçalves (que pediu exoneração nesta segunda) são as que causam maior preocupação. Ambos estão envolvidos no Enem e em outras avaliações há muitos anos e são conhecidos pela experiência de resolver problemas com essas tarefas.
A gestão de Dupas Ribeiro tem sido fortemente criticada por integrantes do setor educacional e sobretudo pelos técnicos do instituto. Os servidores denunciaram, em carta aberta, Dupas Ribeiro por assédio moral e omissão. Segundo os funcionários, exames como o Enem estão sob risco com a atual gestão.
Dupas Ribeiro teria ainda se negado integrar um time que gerencia riscos das provas, as chamadas Equipes de Incidentes e Resposta do Enade 2021 e do Enem 2021. Historicamente o presidente do Inep capitaneia esses trabalhos.
A Assinep (Associação de Servidores do Inep) promoveu na quinta (4) um ato público em frente à sede do instituto, em Brasília. Cerca de 50 pessoas participaram da manifestação, que contou com faixas com dizeres como “Enem e censos em risco” e “assédio moral não”.
“Para além de problemas estruturais que foram negligenciados ao longo da atual gestão do Inep, os servidores denunciam o assédio moral, o desmonte nas diretorias, a sobrecarga de trabalho e de funções e a desconsideração dos aspectos técnicos para a tomada de decisão”, diz a carta.
Os servidores afirmam que não há autonomia para o trabalho de diretores e documentos estariam sendo gerados como restritos no sistema eletrônico sem que haja necessidade dessa classificação. O presidente do instituto ainda se esquivaria de assumir decisões e assinar atos.
A associação de servidores do Inep tem mantido posição crítica a Dupas Ribeiro. A organização já divulgou cartas em que critica esvaziamento do órgão e nomeações por critérios ideológicos.