As duas primeiras reações de Bolsonaro à decisão da Anvisa de recomendar a vacinação das crianças de 5 a 11anos foram, no mínimo, subversiva uma e a outra criminosa. A Anvisa tinha o respaldo científico das principais sociedades médicas especializadas, como a de pediatria, a de imunologia e a de infectologia, além da experiência acumulada em outros países, a começar pelos Estados Unidos, mas Bolsonaro, em sua fúria antivacina, não pensou duas vezes. Aliás, como sempre acontece com ele, não pensou nem uma vez: abriu fogo.
A primeira reação foi avisar que exigiria de seu Ministro da Saúde, o cada vez menos médico Marcelo Queiroga, que desencadeasse uma campanha pela mídia alertando os pais para o suposto perigo de supostos efeitos colaterais da vacinação de crianças. Além de fake news, foi uma ameaça subversiva, de pregação da ruptura da legalidade, já que ele não tem qualquer autoridade ou endosso científico para contestar a autoridade científica e legal da Anvisa. Foi uma ameaça tão subversiva quanto a da detonação de explosivos com que pretendia, em seus dias de tenente ou capitão, conseguir um aumento de soldo para o Exército.
A segunda reação foi francamente criminosa: anunciar que promoveria a publicação, para conhecimento público, do nome de cada um dos diretores da Anvisa responsáveis pela decisão de estender a vacina a crianças de 5 a 11 anos. Pouco tempo antes, esses mesmos diretores tinham sido ameaçados de morte caso tomassem essa decisão. Um doas autores dessa ameaça, um empresário de Curitiba, foi identificado com facilidade, por ter usado o próprio e-mail para fazer chegar a ameaça ao destinatário. Depois de intimado e interrogado, preferiu encolher-se ao anonimato do qual não deveria ter pensado em sair. Em face de tais antecedentes, a ameaça era indiscutivelmente terrorista, tão terrorista quando a das planejadas explosões da juventude militar de Bolsonaro.
Sabia-se também – e isso foi contado em detalhe por Josias de Souza no site da UOL – da fúria de Bolsonaro por não poder demitir os diretores da Anvisa, alguns pelo menos nomeados por ele, mas detentores de mandato fixo.
As reações de Bolsonaro levaram o Presidente da Anvisa, o médico e Almirante Antônio Barra Torres, e seus companheiros de diretoria a duas iniciativas que deixaram o governo em situação dificílima: uma nota oficial contestando as alegações de Bolsonaro e, na tarde desta sexta-feira, uma reunião pública da diretoria, transmitida pela TV, que começou com a exibição da foto e do nome de cada um dos diretores, para desmoralizar e ridicularizar a ameaça de revelá-los.
Nessa reunião, Barra Torres fez uma exposição detalhada do encaminhamento da questão na Anvisa, inclusive da rapidez com que ela discutiu e decidiu, e deixou claro que, uma vez recomendada a vacina, caberia ao Ministério da Saúde incluir a vacinação das crianças de 5 a 11 anos no Plano Nacional de Imunização e começar a vaciná-las.
Foi um recado direto não só a Bolsonaro como a Queiroga. Este, submetido à ordem de alertar os pais para o suposto perigo da vacina, tentava ganhar tempo, dizendo não haver consenso em relação à vacinação das crianças e que ela ainda teria de ser estudada pelo Ministério da Saúde – pretextos que foram demolidos pelas respostas da Anvisa.
O Ministério dizia ainda que ainda não tinha decidido se encomendaria as vacinas necessárias quando João Dória, tão desejoso de um primeiro mandato presidencial quanto Bolsonaro de um segundo, entrou no circuito para anunciar que já entrara em contato com a Pfizer para a compra da vacina infantil, amparado pela decisão do Supremo que reconhecera a Estados e municípios competência concorrente à da União em matéria de medidas contra a Covid. E o Instituto Butantan, do governo de São Paulo, informava ter pedido urgência à Anvisa para autorizar a inclusão de sua Coronavac na vacinação das crianças.
Em cima de tudo isso, o deputado Alexandre Padilha, do PT, pediu ao Supremo que desse 48 horas de prazo ao governo federal para formular um plano de vacinação que abarcaria 70 milhões de crianças de 5 a 11 anos. Padilha pediu e o Ministro Ricardo Lewandowski concedeu.
Diante de tudo isso, como poderia Bolsonaro sair da confusão por ele mesmo armada? Além de tudo, ele passava a ter um flanco exposto na área militar. A atitude firme de Barra Torres resgatava o constrangimento imposto às Forças Armadas pela subserviência de um general da ativa, Eduardo Pazuello, no Ministério da Saúde, obrigado por Bolsonaro a cancelar uma compra de vacinas que já tinha feito.
(*) José Augusto Ribeiro – Jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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