No início do mês de agosto, o estado da Bahia perdeu dois grandes nomes da educação, da arte e da cultura: Jorge Portugal e Jaime Sodré!
Jorge Portugal, poeta, apresentador, professor e ex-secretário de Cultura do estado da Bahia, ele faleceu com 63 anos, no dia 3 de agosto, em Salvador. Dois dias antes do seu aniversário!
Natural de Santo Amaro da Purificação, cidade localizada no Recôncavo Baiano, Portugal era formado em Letras pela Universidade Federal da Bahia. Ele começou a ministrar aulas de redação, ainda muito jovem, na década de 1970, na sua cidade natal. Em 1973, se transferiu para Salvador, e cursou o antigo magistério no Colégio Central. Após a conclusão do curso de Letras, Portugal dedicou-se a ministrar aulas em cursinhos pré-vestibulares. Na sala de aula tinha como prática, aliar a música com o conteúdo da Língua Portuguesa. Tornando assim, a aula bastante prazerosa. Essa prática fez uma grande diferença, na sua atuação, como professor. Nessa época foi uma novidade que atraiu muitos alunos, tornando um sucesso de prática pedagógica.
A partir de 2001, ele se tornou conhecido pelos baianos ao levar o conteúdo de português para a televisão. Durante nove anos, o programa “Aprovado”, criado e apresentado pelo educador, fez muito sucesso! Posteriormente, como gestor público ele assumiu a Secretaria da Cultura da Bahia, pasta que deixou em 2017.
Como compositor, o educador, Jorge Portugal foi autor de sucessos como “Vida Vã”, que se tornou popular na voz de Maria Bethânia; “A Massa”, parceria com Raimundo Sodré (o Brasil inteiro cantou essa canção); e “Só se Vê na Bahia”, que fez com Roberto Mendes. Em suas redes sociais, Jorge Portugal lia poemas, postava músicas e dava dicas de estudo aos seus seguidores. Entusiasta da educação, ele costumava repetir, segundo os amigos, que “quanto mais a gente ensina, mais aprende o que ensinou!”.
Lembro que recentemente, no início do mês de março deste ano, eu estava em Salvador e numa conversa de ônibus com uma senhora, ela me relatou que não perdia o referido programa “Aprovado”! Na ocasião, comentei que eu era também professor e que havia trabalhado no Colégio Einstein, que foi um empreendimento educacional de Portugal, e que para mim, foi uma experiência muito positiva. Ficou no ar uma sensação de felicidade de falarmos sobre essa figura cativante!
Jorge Portugal era uma figura entusiasta, inteligente, dentre outras qualidades! Era daquelas pessoas que a gente gosta logo de cara! Perdemos uma grande figura humana!
E ainda sob o impacto da perda de Portugal, chega a notícia de outra grande perda! Jaime Sodré! Particularmente, senti outro forte impacto com essa notícia! Como pode num curto espaço de tempo, perdemos outra figura como, Jaime Sodré!?
Historiador, músico, artista plástico, escritor e professor Jaime Santana Sodré Pereira, doutor em História da Cultura Negra, teve a sua passagem em Salvador no dia 6 de agosto, aos 73 anos.
Jaime Sodré era professor da Universidade do Estado da Bahia – Uneb, e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – Ifba.
Era graduado em Licenciatura e Desenho pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia – Ufba. O educador também tinha mestrado em Teoria e História da Arte, e desenvolveu um trabalho sobre a influência da religião afro-brasileira na obra do artista plástico e também escritor Mestre Didi. Considero essa obra uma referência para quem tem interesse em estudar a arte africana e especialmente, a obra do Mestre Didi.
Entre 1995 e 2011, Sodré publicou diversos artigos sobre a Cultura Negra, como a antologia “Literatura e afrodescendência no Brasil”, além do livro “Da diabolização à divinização: a criação do senso comum”, publicado pela editora Edufba.
Durante toda a sua carreira acadêmica, Sodré ganhou diversos prêmios, como o troféu Caboclo da Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu (2005) e o 2º lugar no Prêmio Funarte (2003), além de homenagens como a medalha Zumbi dos Palmares, da Câmara Municipal de Salvador.
Sodré também fez parte do Conselho do Olodum, entre o final da década de 1990 e o ano 2000. Em 2012, ele participou da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), cidade histórica, localizada também no Recôncavo Baiano. Vale salientar que nesse evento literário, Jaime Sodré participou, juntamente com o historiador João José Reis, de uma mesa intitulada “A diáspora e seu avesso”, mediada pelo também educador Jorge Portugal, que faleceu três dias antes de sua passagem.
Dentre as atuações profissionais, registrei inicialmente, que Jaime Sodré era músico, e lembro muito bem, quando da sua participação na “Banda do Companheiro Mágico”, que nos idos dos anos 70; senão me falha a memória; tive a oportunidade de assistir apresentações dessa banda no Instituto Cultural Brasil – Alemanha, o ICBA! Que por sinal, na época, tinha uma excelente programação cultural, com exposições, peças, shows e uma ótima biblioteca, com sala própria para ouvirmos música. Eu gostava muito de frequentar esse espaço, sobretudo, para ouvir os discos de música africana!
Lamentamos profundamente a perda desses dois baianos e que agora irão iluminar a constelação de outra dimensão. Ficam os seus exemplos de luta pela cultura popular, luta contra o racismo, a luta em defesa do patrimônio das religiões de matrizes africanas, a luta pela cidadania e dignidade do povo brasileiro. E assim, a Bahia vive esse período de luto pela perda desses iluminados filhos! Apesar da dor e saudade, seguimos em frente, cientes da importância da continuidade dessas e demais lutas!
João José Reis, Jorge Portugal e Jaime Sodré na Festa Literária Internacional em Cachoeira – Flica, Bahia, em 2012.
Foto: Divulgação
Ronaldo Ferreira é professor e Artista Plástico