Jacarezinho, 06 maio de 2021, a polícia faz a sua maior chacina, até bater o seu próprio recorde num próximo massacre.
Antes de tudo vamos chamar a “operação policial” por seu verdadeiro nome: grupo de extermínio, pois é com essa função que os policiais invadem as favelas e as periferias.
O valor de um morador de favela executado – não importa se é ou não bandido, se mede pelo ganho eleitoral, aplausos racistas e como sempre foi desde o fim da escravatura, pelo terror contra as populações pretas e excluídas da sociedade dos “homens de bem”.
As chacinas feitas periodicamente pela polícia nada têm a ver com o não uso da inteligência policial.
Inteligência policial é o instrumento indispensável das investigações criminais, e o que menos se faz no Brasil pobre e preto e justamente investigar. Aqui, a cor da pele e o local de moradia já são indicadores de culpa e os policiais agem ao mesmo tempo como juízes e carrascos.
Para a polícia usar inteligência numa favela seria preciso, em primeiro lugar, respeitar seus moradores como cidadãos plenos de direito. Mas esse tipo de cidadão só existe no Brasil nas “Zonas Sul” das cidades, mesmo que sejam bandidos de colarinho branco.
Em seu governo Benedita usou a inteligência policial porque respeitava os moradores das favelas como cidadãos.
A massa humana excluída de quase tudo, menos do direito de votar (isto até que deixem de votar neles), é temida pelos “cidadãos de bem” que não aceitam as pessoas pretas como seus iguais, como cidadãos, e as chamam apenas pela denominação genérica e infame de “vagabundos”, “bandidos”, da mesma forma que chama as pessoas que defendem os direitos humanos e a democracia pelos nomes genéricos de “esquerdopatas”, “comunistas”, etc.
Independentemente do regime político do país, as favelas sempre viveram numa eterna ditadura e sujeitas à pena de morte, embora esta nunca tenha feito parte de nossa Constituição. E a execução, rápida e sem julgamento, é aplicada regularmente por policiais e também por milicianos (igualmente policiais) e bandidos. Essa tem sido a rotina histórica das populações pretas e pobres.
A diferença agora é que o extermínio de jovens negros é usado como plataforma eleitoral e programa de governo.
Para as “operações policiais” os meios importam mais do que os proclamados fins, “combater o tráfico”. Para aqueles que ainda tem alguma preocupação social e acreditam que a matança é solução, basta ver quantas chacinas a polícia já fez sem nada mudar no mundo do crime.
Quanto ao conjunto dos policiais, não se pode generalizar, mas de um modo geral o espírito de corpo da polícia acaba prevalecendo e, com a exceção de uns poucos, os policiais criminosos não sofrem punição.
Por isso a solução dessa violência institucionalizada deve vir da mudança da política nacional, do avanço efetivo da democracia para as populações excluídas e partir daí, da total subordinação dos aparatos policiais à Constituição e a punição justa e efetiva de suas ações criminosas.
Os autores “intelectuais” desse bárbaro crime praticado contra a comunidade de Jacarezinho são Bolsonaro e o seu governador fantoche, Claudio Castro, que vai usar isso para a sua campanha eleitoral do próximo ano.
Portanto, em primeiro lugar a nossa denúncia tem de ser política, pois a chacina policial está a serviço da política fascista e racista dos governos federal e estadual.
Entretanto, as primeiras reações dos partidos de esquerda ainda estão muito aquém da revolta e do desespero dos moradores da comunidade do Jacarezinho e dos movimentos sociais.
A coragem de nossa reação tem de corresponder à indignação que ferve o nosso sangue.
(*) Val Carvalho é escritor e militante de esquerda