Nosso leitor seja membro ou não de uma Igreja, olhai por favor para sua Câmara Municipal e tente descortinar o credo de seus membros
Na capital dos gaúchos cuja padroeira é Mãe de Deus, cuja festa maior e que reúne multidões é Nossa Senhora dos Navegantes, que somadas à Festa de Santo Antônio e São Jorge é uma demonstração não de fé, mas de tradição.
Confira o artigo “A polarização dos evangélicos: entre desigrejados e bolsonaristas”, da jornalista Cristina Ávila
É certo que na de São Jorge há mais gente de matriz africana que católicos, tanto que alguns católicos carolas, ortodoxos, andaram criando alguns constrangimentos pela primeira vez na longa história de louvor a este santo.
Na Festa de Navegantes a procissão junta católicos e os nossos batuqueiros, ainda mais que a partida dela é da Igreja do Rosário feita pelos negros da capital.
Mas na Câmara não se tem registro de que um pai de santo ou mãe de santo tenha sido titular.
De uns 20 anos para cá assumiram por algum curto período vereadores de matriz africana.
Mas de 30 anos para cá sempre teve algum pastor evangélico.
Começou com um da Assembleia de Deus, depois de 2002 a Universal ele sempre dois.
Nesta legislatura que começa temos 4 pastores: dois da Universal, um da Quadrangular e um luterano.
Uma vereadora vem da Assembleia de Deus.
Havia por 6 legislaturas um vereador eleito pela comunidade católica tradicional.
Agora, não há mais.
Mesmo não sendo pastores ou de casamento com pastor, as pautas ditadas pelo conservadorismo e pelo bolsonarismo têm forte contingente.
Um vereador fortemente ligado aos terreiros não foi reeleito.
Na política as Igrejas têm um corte claramente conservador.
Por isso, chamamos nossos leitores a ver e analisar esta situação.
ONDE ESTÃO AS ESQUERDAS NOS GRUPOS RELIGIOSOS?
No Rio Grande do Sul as comunidades de base da Igreja Católica tiveram muitíssima força em organizar sindicatos.
Chegamos a ter uma freira numa chapa do Sindicato dos Metalúrgicos.
Na formação do PT local os grupos de base, das Pastorais, tiveram força primordial.
Na atualidade a militância de esquerda nem está na Igreja Católica, nem nas Pastorais e de quando em quando em algum terreiro.
A pergunta que se fará é: diminuiu a crença?
Não creio. O que há é um desencanto com os padres e bispos.
O clero daqui não é mais um clero avançado como nos anos 60, que se revelava contra a cúpula da Igreja.
Mas é forçoso lembrar que por mais de meio século dois cardeais dominaram a Igreja local e namoravam o fascismo.
(*) Por Adeli Sell, professor, escritor e bacharel em Direito.