Há uma voz interior cujos ecos restringem as políticas sociais favoráveis ao conjunto da sociedade
A voz interior é, para a psicologia, a com que dialogamos em todas as horas. Em ocasiões, é chamada de “a voz da consciência”, “voz mental” e também “diálogo interno”. Ainda que, em termos científicos, seria mais adequado se referir a ela como a voz do córtex pré-frontal.
Se pode dizer que é uma narração que nasce no interior de todo ser humano e se projeta, geralmente, para o futuro, a modo de preparação para os acontecimentos vindouros.
O diálogo interno é um fenômeno complexo e multifacetado cujo impacto é enorme na estrutura de nosso cérebro e em nosso comportamento. É necessário para ordenar nossas ideias e planejar nossas ações.
Porém, o que sucede quando este diálogo não nos ajuda, senão que bem mais nos boicota ou nos limita? É quando intervêm a estratificação e as relações sociais que se articulam ao redor da família e alicerçam os valores da cultura prevalecente.
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O ambiente familiar transmite desde tenra idade valores que configuram a posição social das pessoas, segundo o meio em que vivem. São muitos os estudos que descrevem como operam os preconceitos nas sociedades racistas e de classe, até ocasionar deficiência e dependência, debilitar a autoestima e promover tetos mentais que configuram socialmente as vozes internas das pessoss que se encontram em estratos de baixo prestígio social.
Estudos realizados nos Estados Unidos com crianças negras de entre 3 e 7 anos revelaram que nessas tenras idades já haviam assimilado, através de seu círculo mais próximo, o preconceito contra sua própria cor.
O exercício consistiu em lhes mostrar bonecas brancas e negras e se lhes perguntou qual era a boa e bela. A branca, responderam. De tal forma que no ambiente social se deram as condições que configuraram uma voz interna que reduziu, posteriormente, suas aspirações e a autoestima.
Estudos similares levados a cabo no México, país onde a maioria da população é de origem indígena, mostraram resultados semelhantes de desvalorização por origem étnica. Noutras palavras, o racismo calou tão profundamente na cultura que se interiorizou.
Fenômenos similares constatam movimentos feministas e por isso demandam legislações e espaços sociais de igualdade.
O racismo e o classismo implicam, geralmente, a exclusão social devido às reduzidas oportunidades para o estudo, acesso a serviços de saúde e superação social, de tal forma que as possibilidades de avanço se reduzem. Não só se reduzem, senão que os resultados se comportam na prática como as profecias que se autocumprem, isto é, se a pessoa fracassa ou obtém resultados medíocres será por causa de sua origem.
Operação tenazes
A exclusão social não se supera se não for com duas alavancas fortemente entrelaçadas. Por uma parte, a ação organizada dos excluídos para reivindicarem seu espaço e pôr em marcha seus próprios projetos; e, por outra, com uma política social não assistencialista, senão que proativa de longo fôlego, centrada na educação moderna e de ampla cobertura, que proteja àqueles que têm obrigações familiares sob sua responsabilidade. Este último [aspecto] mediante auto organização nas comunidades.
Esta operação tenazes se baseia na simbiose de propósitos das organizações que ajustem os serviços institucionais a suas necessidades. São os efeitos da atividade organizada, ou vitamina O, o que dá poder aos excluídos para transformar sua visão e suas perspectivas sociais.
Neste sentido, rompem as vozes internas que os imobilizavam e se podem transformar, não só mudar os horizontes como também incidir na biologia mesma dos participantes, como a neurociência sugere.
Às meninas prostituídas no Camboja, num estudo citado pela psiquiatra espanhola Marian Rojas Estapé, se lhes registrou o tamanho dos telômeros [medidores de idade das células], e quando estavam no bordel tinham 80 anos. Depois de retiradas desse antro, recuperaram sua idade biológica.
As transformações em grande escala que requer a eliminação da exclusão social não são realizáveis por razões óbvias a partir apenas do trabalho dos psiquiatras; requer um ambiente favorável para a inclusão organizada e proativa massiva.
Isto nos obriga a transcender os enfoques individuais de autoajuda. Não basta nos pôr [como] positivos, nem nos distanciar de pessoas e entornos tóxicos. A realidade social e nós outros estamos dentro dela. É preciso criar condições e propiciar o empoderamento social através de políticas sociais que desobstruam e promovam o potencial das pessoas e transformem o sustento subjetivo das vozes interiores que a passividade e a resignação impulsionam.
(*) Por Miguel Sobrado (miguel.sobrado@gmail.com). O autor é sociólogo. Tradução > Joaquim Lisboa Neto, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.
O diálogo interno é um fenômeno complexo e multifacetado cujo impacto é enorme na estrutura de nosso cérebro e em nosso comportamento. (Shutterstock)
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