A roda da política gira com rapidez desde sexta-feira à noite quando a tentativa de golpe de Bolsonaro foi barrada pela ação do STF junto ao comando militar, segundo o bem informado artigo de Fernando Horta e Gustavo Conde, já postado aqui.
Diante de sua óbvia derrota, Bolsonaro recorre ao notório golpista Temer para mediar um acordo com o STF. Ou seja, a imagem que fica é a do “leão” miando como um gatinho para pedir clemência ao vitorioso STF. “Leão” é a imagem que os bolsominions têm de seu “mito” e gatinho ou melhor, “calça frouxa” é como parte deles, decepcionada com a carta de Bolsonaro escrita por Temer, o vêm agora.
Esse é o segundo giro da roda política, pois o primeiro foi a derrota da tentativa de golpe.
A questão agora é como o STF e o conjunto da oposição burguesa liberal fará com o Bolsonaro “ajoelhado” aos seus pés, pelo menos nesse momento.
Algumas informações sinalizam que o STF, em nome dessa oposição cujo maior interesse não é afastar Bolsonaro, mas eleger o seu candidato da “terceira via”, que ainda não tem nome mas já tem missão, a de “derrotar Lula de qualquer jeito”; portanto, tais informações revelam que está em curso um acordão com Bolsonaro, desde que este continue “miando como um gatinho”.
Toda análise de conjuntura que faço procuro entender a realidade concreta de cada momento e as diferentes tendências em jogo. E mais, dentre as tendências dou força as que mais interessam ao movimento popular, o que não é garantia de que elas irão se impor.
Foi o que aconteceu com a derrota de Bolsonaro e a tendência despontada em seguida para se formar uma frente única das oposições visando o seu impeachment.
Entretanto, tudo indica que não é essa a tendência que deve prevalecer, mas a do acordão, uma das hipóteses levantadas pelo meu último comentário. O STF, que agiu como um “Churchill” diante de Hitler, depois da derrota de Bolsonaro passou a agir como o conciliador “Chamberlain”.
Ao conciliar com Hitler, o primeiro-ministro inglês Chamberlain queria jogar a agressividade nazista contra a União Soviética. Esse cenário não é semelhante ao do possível acordão com o fascista Bolsonaro? Neste último caso não se trata de reconciliar as classes dominantes para tentar derrotar Lula em 2022?
No entanto, o acordão do STF pode ser descumprido por um Bolsonaro novamente golpista “renascido” de seu gado fascista, exatamente como aconteceu com o Chamberlain da história, cuja política de apaziguamento e conciliação foi esmagada por Hitler que atacou primeiro a França e a Inglaterra e não a União Soviética.
Se voltar a organizar seu tão sonhado golpe, hipótese mais do que plausível em se tratando do “escorpião” Bolsonaro, isso deve reacender o oposicionismo oportunista da burguesia liberal. O STF só age contra Bolsonaro quando é diretamente ameaçado por este. Somente assim a reação do STF coincide com o interesse da oposição popular em derrotar Bolsonaro e conquistar o Estado democrático de direito.
Mas tem outra hipótese de fracasso desse vergonhoso acordão que é a do crescimento do movimento de massas pelo impeachment, por vacina, por emprego e contra a carestia.
É nesse caminho da luta de massas que apostamos todas nossas fichas. E como já disse aquele barbudo do século XIX, quando uma ideia se apodera das massas ela adquire força material para mudar a realidade.
E a ideia de Lula presidente cresce na cabeça do povo, como mostra cada pesquisa. Para Bolsonaro e a burguesia liberal Lula é um fantasma, mas para o povo que acorda cada vez mais do engano do golpe do impeachment e da eleição fake news do genocida, Lula é a saída desse pesadelo de opressão fascista e a oportunidade para reconstruir um Brasil mais justo e soberano, sem ódio nem racismo nem discriminação de qualquer tipo.
Val Carvalho – escritor e militante de esquerda